O Preço da Traição
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, um novo alerta de transferência bancária apareceu no celular de Sofia. Uma quantia irrisória, acompanhada de uma mensagem de Ricardo: "Para cobrir suas despesas imediatas. Considere um favor." Não era apoio, era um insulto, uma tentativa de diminuí-la a uma caridade, de encerrar cinco anos de parceria com trocados. Sem hesitar, ela clicou em "devolver" e digitou uma única palavra como resposta: "Recusado." Sua independência não estava à venda, e certamente não por aquele preço.

Ela passou o dia no apartamento que um dia chamou de lar, agora um mausoléu de memórias tóxicas. Caixas de papelão se empilhavam no chão, cada uma um pedaço de vida que ela estava descartando. Ela estava separando seus livros quando a campainha tocou. Era Lúcia.

"O que você quer?", perguntou Sofia, bloqueando a entrada com o corpo.

"Ricardo me pediu para buscar alguns documentos que ele esqueceu," disse Lúcia, forçando um sorriso e tentando espiar por cima do ombro de Sofia. "Nossa, que bagunça. Parece que um furacão passou por aqui."

Ela empurrou a porta com mais força do que o necessário, entrando no apartamento. Seus olhos percorreram as caixas com desprezo. Ao passar pela mesinha de centro, seu quadril "acidentalmente" esbarrou no vaso de cerâmica que Sofia ganhara de sua mãe, a única peça de valor sentimental que ela ainda não havia embalado. O vaso caiu no chão e se estilhaçou.

"Oh, meu Deus! Que desastrada!", exclamou Lúcia, a mão na boca em um gesto de falso choque. "Sinto muito, Sofia. Era... importante?"

O som da porta se abrindo novamente interrompeu a tensão. Ricardo entrou, seu olhar passando da bagunça no chão para as duas mulheres.

"O que está acontecendo aqui?", ele demandou, sua voz já carregada de acusação.

Lúcia correu para o lado dele, os olhos cheios de lágrimas forçadas. "Ricardo, foi um acidente! Eu vim pegar seus papéis e a Sofia... ela ficou tão agressiva, começou a gritar... eu me assustei e esbarrei no vaso."

Ricardo nem sequer olhou para Sofia, sua decisão já tomada. Ele abraçou Lúcia protetoramente e fuzilou Sofia com o olhar. "Eu não acredito nisso, Sofia. Mesmo agora, você não consegue agir com um pingo de decência? Expulsar você do escritório não foi suficiente? Você precisa trazer seu drama para dentro de casa e atacar a Lúcia?"

Sofia olhou para os cacos do vaso, depois para o rosto furioso de Ricardo e a atuação barata de Lúcia. Uma calma gélida a envolveu. Discutir seria inútil, seria dar a eles a reação que queriam.

"Eu não vou assumir a culpa pelo seu circo," disse ela, a voz baixa e controlada. Pegou sua bolsa e a última caixa com seus pertences pessoais. "Eu estou de saída. A partir de agora, qualquer problema que vocês dois criarem será apenas de vocês."

Ela passou por eles sem uma segunda olhada e saiu pela porta, fechando-a atrás de si com um clique suave e definitivo. Na calçada, o sol da tarde parecia mais brilhante. Ela pegou o celular e discou um número familiar.

"Clara?", disse ela, forçando um sorriso na voz. "Sou eu. Sobre aquela sua proposta de emprego... ainda está de pé?"

Do outro lado da linha, a voz calorosa de sua melhor amiga soou como um porto seguro. "Sofia! Claro que sim! A porta está escancarada para você. Quando você pode começar?"

"Amanhã," respondeu Sofia, e pela primeira vez em dias, ela sentiu uma onda de esperança genuína.

Naquela noite, em seu novo apartamento, pequeno, mas só seu, ela esvaziou a última caixa. No fundo, encontrou um álbum de fotos antigo, cheio de imagens dela e Ricardo em tempos mais felizes, sorrisos que agora pareciam mentiras. Ela levou o álbum para a pequena varanda, colocou-o em uma lata de metal e acendeu um fósforo. Observou as chamas consumirem o papel, as memórias se transformando em cinzas que o vento da noite levou para longe. Era um ritual, uma purificação. O passado estava queimado, e o futuro, pela primeira vez em muito tempo, pertencia apenas a ela.

            
            

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