Luna entrou correndo, o rosto pálido e desesperado, suas roupas estavam rasgadas e manchadas de sangue, um corte profundo em seu braço sangrava profusamente, manchando seu vestido branco.
"Antônio!" ela gritou, a voz cheia de pânico. "Bruno está morrendo! Ele foi atacado por ladrões na rua, ele perdeu muito sangue!"
Antônio se levantou, o coração batendo forte com o choque. Ladrões? Isso parecia muito conveniente.
"Onde ele está? Chamaram um médico?" Antônio perguntou, tentando manter a calma.
"Ele está lá fora, no carro! Os médicos da cidade não podem ajudá-lo, o tipo sanguíneo dele é muito raro, só o banco de sangue da sua família tem estoque!" ela chorou, agarrando o braço dele. "Você tem que salvá-lo! Eu sei que você tem o mesmo tipo sanguíneo, eu imploro, doe seu sangue para ele!"
Antônio sentiu uma onda de fúria gelada. Então era isso, mais um plano, mais uma manipulação. Ela apareceu de forma dramática, ferida, para acusá-lo implicitamente e forçá-lo a uma situação impossível.
"Leve-o para o hospital da família. Eu autorizarei a transfusão do banco de sangue," ele disse, a voz firme.
"Não há tempo! O médico disse que ele precisa de uma transfusão direta, agora! Se você não doar, ele vai morrer!" Luna gritou, as lágrimas escorrendo por seu rosto. "Você está fazendo isso para se vingar, não é? Porque eu te rejeitei! Você vai deixá-lo morrer para me punir?"
Antes que Antônio pudesse responder, o pai de Luna e Bruno, junto com vários guardas, invadiram o quarto.
"Herdeiro!" o pai de Luna disse, com uma expressão sombria. "Minha filha está certa. Bruno está à beira da morte. Se você se recusa a ajudar, estará assinando a sentença de morte dele. Você não pode ser tão cruel."
Eles o cercaram, o acusando com os olhos, forçando-o a uma situação sem saída na frente de todos. Se ele recusasse, seria para sempre conhecido como o monstro que deixou um homem morrer por despeito.
"Eu não vou..." Antônio começou, mas foi interrompido.
Dois guardas o agarraram pelos braços, forçando-o a sentar em uma cadeira. Uma equipe médica, que convenientemente já estava lá, se aproximou com uma agulha.
"O que vocês estão fazendo?!" Antônio gritou, lutando contra eles, mas eles eram muito fortes. "Isso é um crime!"
"É para salvar uma vida, herdeiro," disse o pai de Luna, com uma frieza calculada. "Um pequeno sacrifício pela vida de um homem."
Eles seguraram seu braço, a agulha fria perfurou sua pele, a sensação era revoltante, uma violação. Ele foi forçado a assistir seu próprio sangue ser drenado, fluindo através de um tubo para o corpo do homem que roubou sua vida, seu amor e sua paz.
Ele olhou para Luna, ela estava ao lado de Bruno, segurando a mão dele, os olhos fixos no rosto pálido dele, cheios de uma devoção inabalável, ela nem olhou para Antônio uma única vez, ela não se importava com o sacrifício dele, com a humilhação dele, ele era apenas uma ferramenta para salvar o amado dela.
A dor em seu braço era nada comparada à dor em seu coração, uma dor fria e vazia. Eles estavam tirando seu sangue, mas parecia que estavam drenando os últimos resquícios de qualquer sentimento que ele um dia teve por ela.
O procedimento pareceu durar uma eternidade, quando finalmente terminaram, Antônio se sentia fraco, tonto, ele se levantou, cambaleando.
Luna finalmente se virou para ele, mas não havia gratidão em seus olhos, apenas um alívio frio. "Obrigada. Você salvou a vida dele. Eu nunca vou esquecer isso."
As palavras dela soaram ocas, vazias, como se ela estivesse agradecendo a um objeto inanimado. O coração de Antônio, que ele pensava já estar quebrado, pareceu se partir em mil pedaços, uma sensação de desespero e desilusão final tomou conta dele.
Ele desmaiou, caindo no chão, a escuridão o engolindo.
Quando ele acordou novamente, horas depois, a primeira coisa que viu foi o rosto preocupado de Jade.
"Senhor, você está bem?"
Ele se sentou, a fraqueza ainda presente em seu corpo. "O casamento... a cerimônia..."
"Foi adiada para a tarde, senhor. Seu pai estava furioso com o que aconteceu, mas a família de Luna e Bruno usou a situação para pressioná-lo," Jade explicou, a voz cheia de raiva.
Antônio não sentia mais raiva, ele não sentia mais dor, ele sentia... nada. Um vazio gelado. O último fio que o ligava a Luna, o fio da raiva e do ressentimento, havia sido cortado. Ela não significava mais nada para ele.
Ele se levantou e caminhou até o espelho. O homem que o encarava de volta parecia mais pálido, mais magro, mas seus olhos... seus olhos estavam diferentes, eles estavam frios, calmos e completamente vazios de qualquer emoção por Luna.
"Jade, prepare meu traje. A cerimônia vai acontecer," ele disse, a voz firme e clara. "É hora de acabar com isso, de uma vez por todas."