Capítulo 6 Evan foi drogado

"Não fique aí parada feito um poste. Vá cumprimentar nosso convidado." Andrew estava próximo de Kathryn, e seu tom revelava irritação enquanto a pressionava, sem esperar uma resposta dela antes de se afastar decididamente na direção de Evan.

Não querendo causar alvoroço na frente da multidão, a jovem foi logo atrás, deixando que o idoso liderasse o caminho.

Com um sorriso ensaiado e polido se esboçando no rosto, Andrew entregou a taça que segurava. "Evan, faz séculos que não te vejo. Você era só um garoto na época. É incrível como o tempo voa."

Evan ofereceu um gole indiferente à cordialidade do velho e, sem sequer olhá-lo, disse num tom gélido: "Sua memória não está fraca, senhor Palmer."

Um sorriso forçado fez as rugas no rosto de Andrew se contraírem, e sua mão ossuda pousou no ombro de Kathryn com um peso que parecia mais um aviso do que afeto.

"Minha neta insistiu que eu te convidasse. Se não a tivéssemos reencontrado, a irmã dela ainda estaria sofrendo naquele hospital. Tudo o que quero é um pouco de paz na família. Espero que desculpe o incômodo, Evan."

Kathryn mantinha sua expressão neutra, embora por dentro achasse hilário a interação diante de si.

Somente um manipulador habilidoso seria capaz de interpretar o lamentável patriarca de forma tão convincente, usando a culpa como uma ameaça.

Nesse momento, os olhos de Evan se voltaram para Kathryn, captando o mais leve vestígio de um sorriso que ela não pretendia exibir.

Uma ligeira e divertida arqueada da sobrancelha denunciou os pensamentos dele. "Ah, é? Vejo que sua neta mais velha é bastante difícil de lidar, e definitivamente não é tão obediente quanto a irmã mais nova."

Diante dessas palavras, a boca de Kathryn se curvou ligeiramente, um lampejo de humor ilustrando seus olhos.

Soltando um suspiro pesado, o velho respondeu: "No fim das contas, ambas são da nossa família, sabe. Kathryn sempre tem um espírito mais aventureiro, já Anna é uma garota delicada."

Um sorriso aguçado iluminou o rosto de Kathryn, um gesto quase atrevido. "Espírito aventureiro é só uma maneira de dizer. Eu gostava de subir em árvores para colher frutas do campo. Acho que a vida na cidade grande ainda não me domou, quem sabe algum dia eu torno a casa um desastre."

Seu tom se intensificou de uma forma zombeteira ao continuar: "Dizem que cresci livre no mundo, sem qualquer regra de etiqueta. Espero que todos daqui saibam tolerar meu jeito caipira."

Essas palavras caíram como um relâmpago, provocando espanto na multidão. Os convidados se entreolharam, alguns levando a mão à boca para esconder os sorrisos discretos.

Na tentativa de disfarçar o constrangimento, Andrew soltou uma tosse tensa antes de falar: "Kathryn, sua avó vai te aguardar no escritório daqui a pouco. Ela quer falar com você em particular."

Ao ouvir isso, Kathryn deu uma breve apertada na taça de vinho, bem ciente do que uma chamada para o escritório significava.

"Claro, irei para lá em breve", ela respondeu, exibindo um sorriso simpático.

Não havia dúvidas de que esta noite era só o começo, e o velho faria de tudo para não deixar a sua vida em Wrille fácil.

Por fim, Kathryn abaixou a cabeça, sua mente fervilhando.

Uma rajada de vento inundava o jardim, a levando a enrolar os braços em volta de si, o frio repentino atravessando seu vestido.

De repente, um tecido quente foi colocado sobre seus ombros, ainda contendo o calor do seu dono.

Assustada com o gesto, ela ergueu os olhos e avistou Evan à distância com o celular no ouvido e uma taça na mão, se misturando em meio à multidão.

"Foi Evan que... acabou de dar o casaco para ela?"

"Uau, ela mal chegou e já está atraindo a atenção dele? Ela deve ter algo a mais..."

Os burburinhos atravessavam a noite, contundentes e possíveis de serem ouvidos de longe, incluindo pela família Palmer.

Eles haviam se preparado para ver Kathryn passar vergonha esta noite, mas eram eles que estavam sendo humilhados, notando cada olhar de soslaio e sobrancelha arqueada da elite de Wrille.

A expressão de cada Palmer estava azeda em fúria, mas, cercados por olhares atentos, eles tinham que forçar um sorriso amarelo.

Após presenciarem o gesto simples de Evan, ninguém mais ousou fazer comentários maldosos sobre Kathryn. Até aqueles que ainda a desprezavam profundamente escondiam isso com palavras simpáticas.

Enrolada no casaco de Evan, Kathryn andava com naturalidade pelo jardim, todos ali sem a mínima coragem de incomodá-la, pelo menos por enquanto. Vários convidados até aproveitaram a chance para se apresentar, ansiosos para conquistar o apreço dela.

Pouco depois, um empregado discreto se aproximou, se curvando antes de chamar Kathryn para se encontrar com Martha no escritório, então ela pediu licença e saiu discretamente da multidão.

Enquanto isso, sozinho no escritório luxuoso, Evan começou a sentir que havia algo seriamente errado. A sala deveria estar numa temperatura agradável nessa noite de outono, mas o suor escorria pelas suas têmporas. E fazia mais de um minuto que ele não dizia nada para a tela do notebook à sua frente.

O subordinado do outro lado que lhe passava algumas informações fez uma pausa, incomodado com o silêncio prolongado do chefe.

Então, as mãos de Evan se cerraram firmemente, e ele soltou um suspiro trêmulo, lutando contra o calor atordoante que pulsava em seu corpo.

Um contrato urgente da empresa exigia sua atenção, e ele não pensou duas vezes quando a família Palmer ofereceu esse escritório como um espaço de trabalho temporário. Mas, em meio às suas tarefas, uma sensação inquietante se instalou.

Havia algo de estranho, e seu corpo agia fora do normal, o que indicava que ele fora... drogado. Não importava o quanto ele afrouxava a gravata, o calor só piorava.

O que havia de errado com ele?

Será que foi o vinho?

Ou havia algo no ar?

Assim que ele digitou a última linha do documento, fechou o notebook, o som ecoando no ambiente silencioso. Os nós dos seus dedos estavam brancos enquanto ele pressionava a tampa com força.

De repente, uma dor começou a se espalhar pelos seus músculos, deixando cada movimento pesado. Após oscilar por um momento, ele se forçou a ficar em pé, desesperado para sair antes que perdesse a consciência.

As janelas dos dois lados do corredor estavam abertas, com o vento frio vindo de fora. Evan se apoiou na parede, respirando de forma lenta e compassada à medida que tentava clarear a mente, enquanto a brisa trazia apenas um leve alívio.

Kathryn, que ia em direção ao escritório de Martha, de repente parou na escada, dando de cara com a figura imponente e inconfundível de Evan.

As bochechas dele estavam coradas num vermelho febril, e as outras partes do rosto pálidas sob as luzes acima.

Bastou uma simples olhada para Kathryn saber que ele havia consumido algo que não deveria-e o que quer que fosse, era bem forte. Se ela o deixasse ali, ele acabaria à mercê de quem quer que tivesse armado isso.

Percorrendo a mão pelo casaco ainda sobre os ombros, ela não hesitou em se aproximar apressadamente e pegar no braço dele. "Venha comigo."

Num movimento instintivo, Evan se afastou bruscamente, uma rigidez ilustrando seus olhos.

"É isso que a família Palmer se tornou?" A tensão se intensificava entre eles.

Os Palmer nem sequer esperaram que ele desmaiasse para mandar alguém arrastá-lo dali?!