Coração Quebrado, Alma Restaurada
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Capítulo 2

Segui para o Salão da Ascensão, o caminho que levava diretamente aos aposentos do Primordial. As paredes de obsidiana polida refletiam minha imagem, pálida e determinada. Cada passo ecoava no silêncio opressivo do lugar. Eu esperava encontrar o caminho livre, como sempre esteve. Ninguém jamais ousou impedir uma audiência com o Primordial.

Mas o universo tinha mudado. Ou talvez, ele sempre fora assim, e eu que era cega.

No final do corredor, bloqueando a grande porta de estrelas, estava o Comandante Zarek. Sua armadura dourada brilhava, e sua postura era rígida como uma estátua. Ele nunca guardava esta porta. Seu lugar era no comando das legiões celestiais, não agindo como um porteiro.

"Alina" , ele disse, sua voz um barítono profundo que não permitia argumentos. "O Primordial está em meditação profunda. Ele não pode ser perturbado."

"Comandante, é um assunto de extrema urgência. Diz respeito à segurança do Empíreo." Eu mantive minha voz respeitosa, mas firme.

"Ele deixou ordens explícitas. Ninguém deve passar." Zarek não se moveu um centímetro. Seus olhos eram como pedras, vazios de qualquer emoção. Ele era um peão, um peão poderoso, mas ainda assim um peão.

Eu senti a armadilha se fechando. Eles anteciparam que eu poderia buscar o Primordial. Eles prepararam um bloqueio.

"Então eu esperarei" , eu disse, preparando-me para ficar ali por dias, se necessário.

Um sorriso quase imperceptível tocou os lábios de Zarek.

"Isso não será necessário. O Primordial, em sua sabedoria, previu que as energias cósmicas poderiam causar preocupação. Ele delegou a gestão de assuntos urgentes na sua ausência."

Meu coração ficou frio. Eu sabia o que viria a seguir.

"E quem ele nomeou?" , perguntei, já sabendo a resposta.

"Kael" , disse Zarek. "Ele provou ser o mais estável e confiável para lidar com a turbulência. Na verdade, o Primordial sugeriu que, para sua própria segurança, Alina, você deveria confiar o Núcleo Celestial a Kael para proteção temporária."

A audácia deles era sufocante. Eles não estavam apenas me bloqueando, estavam usando a autoridade do Primordial para me forçar a fazer exatamente o que Lira havia falhado em me convencer a fazer. Era um xeque-mate. Se eu recusasse um comando direto, supostamente vindo do Primordial, eu seria culpada de insubordinação.

Eu olhei para Zarek, para a porta de estrelas atrás dele, e para a teia invisível que se fechava ao meu redor. A raiva queimava em meu peito, um fogo branco e intenso. Mas meu rosto mostrava apenas resignação e uma pitada de relutância.

"Se essa é a vontade do Primordial..." , eu disse, deixando minha voz falhar um pouco, como se estivesse derrotada. "Eu não tenho escolha a não ser obedecer."

Virei-me lentamente, cada músculo do meu corpo gritando em protesto.

Voltei para meus aposentos, sentindo os olhos de espiões invisíveis em minhas costas. Eles achavam que tinham vencido. Eles achavam que eu era a mesma Alina ingênua de antes.

Dentro do meu santuário privado, fechei as portas e ativei as proteções mais fortes que eu conhecia. O ar brilhou com selos de poder, isolando-me do resto do universo.

Eu olhei para o Núcleo Celestial em minhas mãos. Ele pulsava com uma luz pura e inocente. Na minha vida passada, eu chorei ao entregá-lo. Desta vez, meus olhos estavam secos.

Com as mãos firmes, comecei um ritual antigo e proibido. Não era um ritual de proteção, mas sim de contaminação. Eu teci fios da minha dor, da minha raiva e da memória da minha morte na essência do Núcleo. Eu não o estava destruindo, estava plantando uma semente de veneno em seu coração. Uma marca que só eu poderia ver, uma fechadura para a qual só eu tinha a chave. Quem quer que tentasse usar seu poder sem minha permissão sentiria um eco da minha agonia, uma corrupção que o tornaria instável e perigoso.

O Núcleo brilhou com uma luz escura por um momento antes de voltar ao normal. O trabalho estava feito.

Então, eu o entreguei. Em uma cerimônia pública e humilhante, eu coloquei o Núcleo Celestial contaminado nas mãos de Kael. Ele sorriu, um sorriso de vitória que ele mal conseguiu esconder. Eu mantive minha cabeça baixa, desempenhando o papel de perdedora.

Mas enquanto eles celebravam sua vitória fácil, eu já estava trabalhando em segredo. Em minhas noites solitárias, eu comecei a forjar algo novo. Não a partir da luz das estrelas ou da essência divina, mas a partir da minha própria vontade indomável, da minha dor e da minha determinação de ferro. Eu estava criando um novo coração, um novo centro de poder. O Orbe da Vontade.

O velho Núcleo era um presente. Uma herança. O novo Orbe seria uma arma. Forjada por mim. Pertença a mim. E ninguém jamais o tiraria de mim.

            
            

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