"Senhora Sofia, a senhorita Clara está aqui embaixo. Ela insiste em subir."
Sofia suspirou. A paz durou pouco.
"Deixe-a subir," ela disse, calmamente.
Ela sabia que isso aconteceria. Clara não a deixaria em paz tão facilmente.
Momentos depois, a campainha tocou, estridente e insistente.
Sofia abriu a porta e encontrou Clara, com o rosto contorcido de raiva.
Sem dizer uma palavra, Clara invadiu o apartamento. Seus olhos correram pelo espaço, notando o luxo discreto, a elegância que ela nunca poderia ter.
O ciúme brilhou em seus olhos.
Então, ela viu o mapa-múndi. Com um grito de fúria, ela pegou um objeto pesado de decoração da mesa de centro e o atirou contra a parede.
O mapa rasgou, a moldura se quebrou, e o objeto caiu no chão, se partindo em pedaços.
"Você acha que pode fugir e ser feliz?" Clara gritou, o peito subindo e descendo. "Você roubou o Lucas de mim! Ele não para de falar de você! A culpa é sua!"
Sofia olhou para o mapa destruído, depois para o objeto quebrado no chão.
Ela não gritou, não se moveu. Sua calma era a coisa mais enervante do mundo.
"Você sabe o que era isso que você quebrou, Clara?" Sofia perguntou, a voz perfeitamente nivelada.
"Não me importa! Deve ser algum lixo caro que você comprou com o dinheiro dele!"
"Não," Sofia disse, se aproximando dos cacos. "Este era um ovo Fabergé. Uma peça de colecionador extremamente rara. O valor estimado é de cinco milhões de dólares."
Clara congelou. Seu rosto perdeu a cor.
"Você... você está mentindo!" ela gaguejou. "É só um enfeite!"
"Você pode pesquisar," Sofia sugeriu. "Ovo de Inverno de 1913. Há apenas três conhecidos no mundo. E você acabou de destruir um deles."
O pânico tomou conta do rosto de Clara. Ela sabia que Lucas não tinha cinco milhões de dólares para cobrir isso. Ela mesma havia gastado uma fortuna nos últimos dias.
"Eu... eu te pago de volta!" ela disse, tentando parecer confiante. "Eu compro um novo para você!"
Ela tirou da bolsa uma pulseira de diamantes falsos, uma que Lucas lhe dera.
"Tome! Isso deve cobrir!" ela disse, jogando a pulseira em Sofia.
Sofia nem se deu ao trabalho de pegar a joia barata. Ela apenas deixou cair no chão.
"Isso não paga nem a moldura do mapa, querida."
Nesse momento, o telefone de Sofia tocou. Ela atendeu no viva-voz.
"Sofia, sou eu," disse a voz nítida e profissional da Quinta, a advogada. "Minha equipe já está a caminho com a polícia. Temos as filmagens das câmeras de segurança do corredor e a gravação do interfone. Destruição de propriedade privada de alto valor. Ela não tem como escapar."
Clara ouviu e seu rosto se transformou em uma máscara de terror. Polícia? Advogados?
"Você não pode fazer isso!" ela gritou para Sofia. "Lucas vai me proteger!"
A Quinta riu do outro lado da linha. "Lucas? Ele mal consegue se proteger. Aconselho você a encontrar um bom advogado, Clara. Embora duvide que possa pagar por um."
A raiva de Clara se transformou em desespero. Ela olhou ao redor, procurando uma saída, uma desculpa.
Seus olhos caíram sobre os cacos do ovo Fabergé no chão. Num ato de pura malícia, ela se jogou no chão, pegou um caco afiado e fez um corte superficial em seu próprio braço.
"Socorro!" ela gritou, a voz cheia de lágrimas falsas. "Ela está tentando me matar! A ex-mulher louca está me atacando!"
Ela olhou para Sofia com um sorriso triunfante por entre as lágrimas.
"Vamos ver quem a polícia vai acreditar agora."
Sofia apenas a observou, impassível. Ela já esperava por algo assim. Clara era previsível em sua maldade.
A porta se abriu. Eram os advogados da Quinta, acompanhados por dois policiais.
Eles viram a cena, Clara no chão, chorando com o braço sangrando, e Sofia de pé, calma e intacta.
A armadilha de Clara parecia perfeita.
Mas ela não sabia com quem estava lidando.