Capítulo 4

No dia da festa de fim de ano da empresa, Sofia não apareceu. Ela ainda estava "dormindo na empresa para terminar o projeto".

Ricardo, no entanto, estava lá. De muletas, com a perna engessada, mas cercado por colegas no centro da multidão. Ele balançava uma taça de champanhe, como um rei no seu trono, desvalorizando publicamente o meu projeto da Zona Sul, que ele mesmo havia sabotado.

"João!" ele me chamou, a voz alta e arrastada pelo álcool. Ele estava abraçado com a novata do departamento administrativo, a mesma das fotos do hotel.

Ele mancou na minha direção e esbarrou em mim de propósito. O cheiro de álcool me atingiu em cheio.

"Ouvi dizer que seu projeto na Zona Sul fracassou? Que pena..." ele arrastou as palavras, um sorriso de escárnio no rosto. Os colegas ao redor riram baixinho, cúmplices.

Meus nós dos dedos ficaram brancos, apertando a taça de vinho na minha mão.

Tenha paciência, João. Ainda não é a hora.

"Mas eu tenho que agradecer seu horóscopo," ele de repente baixou a voz, para que só eu ouvisse. Ele brindou comigo, o olhar cheio de malícia. "A sorte do João é realmente poderosa."

Levantei-me abruptamente, "sem querer" derramando o vinho tinto da minha taça em seu caro terno cinza, feito sob medida.

Ricardo riu ainda mais alto. Ele não se importou com a mancha. Tirou o celular do bolso e o balançou lentamente na minha frente.

A tela estava acesa. Uma notificação não lida brilhava.

Remetente: "Esposa".

"Sua esposa está me chamando para continuar a festa em outro lugar," ele disse, tocando a língua no céu da boca, pronunciando a palavra "esposa" de forma ambígua e provocadora.

"Quer vir junto, João?"

Fiquei parado, sentindo os olhares de todos como facas, cortando minhas costas. Alguém murmurou baixinho: "Que humilhação... coitado."

Fiquei na festa até o fim, à meia-noite. Sofia não apareceu. Não ligou.

Eu estava prestes a voltar para a mansão Albuquerque, para o meu quarto vazio. Quando estava no estacionamento, meu celular vibrou.

Era uma mensagem do número dela.

[Traga os documentos do projeto da Zona Leste para a Villa do Lago, Bloco A. É urgente. Rápido.]

Eu sabia que não era ela. Era Ricardo. Ele estava me provocando, me chamando para a sua armadilha, para me humilhar mais uma vez.

Mas eu fui mesmo assim.

A chuva caía torrencialmente. O céu estava preto, sem estrelas. Estacionei o carro a uma quadra de distância e me aproximei da mansão a pé.

Fiquei agachado nos arbustos do lado de fora, a chuva encharcando minhas roupas, o frio cortando meus ossos.

Vi Sofia chegar. Ela não usava roupas de trabalho. Usava o pijama de seda azul que eu havia lhe dado de presente de aniversário.

Ricardo a esperava na porta com um guarda-chuva. Ele a abraçou e a palma da sua mão deslizou para dentro da fenda do pijama, amassando sua nádega livremente.

Ela riu e se esquivou, dando um tapinha na mão dele. A alça do pijama caiu, revelando marcas avermelhadas no seu ombro. Eles entraram, rindo.

As luzes do segundo andar se acenderam. A cortina do quarto principal não estava bem fechada.

À luz, as silhuetas deles se misturavam. Gemidos abafados e o som da chuva se misturavam em uma sinfonia doentia.

Eu gravei tudo com o meu celular.

"Ei! É com você aí!"

A luz forte de uma lanterna brilhou no meu rosto.

Era o segurança da vila.

"Entregador, motoboy, sei lá o que você é. Vá embora! Este não é lugar para você ficar xeretando!"

A água da chuva escorria pelo meu cabelo, gelada e cortante. Levantei a cabeça, vendo as luzes do segundo andar se apagarem.

Toquei a raspadinha premiada no meu bolso.

A hora ainda não havia chegado. A pulseira vermelha era apenas um meio, um canal. Mesmo que eu a queimasse inteira, não conseguiria quebrar completamente o feitiço.

Eu precisava esperar por uma oportunidade maior. Um ataque fulminante, que destruiria todos eles de uma só vez.

Eu precisava ser paciente.