João estava ao lado dela, radiante, como se ele mesmo tivesse vencido. Ele se inclinou e sussurrou algo para os organizadores, que imediatamente anunciaram que Clara e sua equipe estavam convidados para uma reunião privada com o conselho de investidores.
Era o selo final de aprovação. Todos acreditavam que ela era a vencedora, a nova estrela da tecnologia.
Sofia, ao meu lado, estava pálida. "Eles conseguiram. Acabou."
"Calma, Sofia" , eu disse, minha voz firme, embora meu coração estivesse batendo forte. "Logo alguém virá nos procurar."
João passou por mim, a caminho da sala de reuniões. Ele não resistiu a uma última provocação.
"Viu, Luana? É isso que acontece quando o gênio encontra a oportunidade" , ele zombou. "Mas não se preocupe. Depois que fecharmos o acordo, eu ainda posso te oferecer aquele contrato. Talvez com uma porcentagem ainda menor, pelo incômodo que você causou."
Ele riu e continuou andando.
Eu apenas o observei ir, sem dizer uma palavra.
Cinco minutos se passaram. Dez. A multidão começou a se dispersar. Sofia estava roendo as unhas.
Então, como eu previ, um dos organizadores do evento se aproximou de nós, o rosto sério.
"Senhorita Silva? O conselho de investidores gostaria de falar com a senhorita. Agora."
Sofia quase pulou da cadeira. Eu me levantei, ajeitei meu vestido e segui o organizador.
A sala de reuniões era um ambiente frio e impessoal. João e Clara estavam de um lado da longa mesa de mogno. Do outro, cinco dos investidores mais importantes do país, liderados pelo Sr. Monteiro, um homem conhecido por sua perspicácia e intolerância à fraude.
Quando entrei, o clima ficou tenso. Clara me fuzilou com os olhos.
O Sr. Monteiro limpou a garganta. "Senhorita Silva, nós a chamamos aqui porque há um problema. O projeto que a senhorita submeteu para avaliação é idêntico ao apresentado pela Senhorita Clara."
Clara se levantou de um salto, a indignação estampada no rosto. "Idêntico? Isso é um absurdo! Ela roubou meu projeto! Isso é plágio!"
Eu permaneci calma. Era exatamente o que eu esperava que ela dissesse.
"Plágio é uma acusação séria, Senhorita Clara" , eu disse, minha voz ressoando na sala silenciosa. "Você tem como provar que este projeto é seu?"
João interveio imediatamente, defendendo-a. "Mas é claro que ela pode! Eu sou a prova! Eu a vi trabalhando nisso por meses, noite após noite! Em contrapartida," ele se virou para mim, a voz cheia de desprezo, "eu vi a Luana rondando o escritório da Clara dias atrás. Ela deve ter copiado os arquivos!"
Ele se virou para os investidores. "Senhores, não se deixem enganar. Clara é a verdadeira mente por trás disso. Luana é inteligente, admito, mas para tarefas domésticas. Ela nunca teria a capacidade de criar algo tão complexo."
A humilhação, a condescendência... era a mesma ladainha da minha vida passada. Mas desta vez, não me afetou. Apenas alimentou minha determinação.
Olhei diretamente para o Sr. Monteiro.
"Senhores investidores" , eu disse, com a voz firme e clara. "Eu tenho uma proposta. Existe uma maneira muito simples de descobrir a verdade."
Todos os olhos se voltaram para mim.
"Dê a nós duas um novo desafio de programação. Um problema complexo, que nunca vimos antes. E nos dê uma hora para resolvê-lo, aqui, na frente de todos vocês. O código não mente. A verdadeira criadora do algoritmo original não terá problemas em demonstrar sua habilidade. A impostora, por outro lado..."
Deixei a frase no ar.
O silêncio na sala era pesado. Clara ficou visivelmente nervosa, seus olhos indo de mim para João, em pânico.
Mas João, cego por sua fé inabalável em Clara e sua arrogância, riu.
"Que ideia ridícula. Mas aceito" , ele disse, falando por Clara. "Será um prazer ver Luana ser humilhada publicamente e provar, de uma vez por todas, quem é o verdadeiro gênio aqui."
O Sr. Monteiro me olhou por um longo momento, seus olhos experientes avaliando a situação. Então, ele assentiu.
"A proposta é justa. Que assim seja."
O palco estava montado. A verdade estava prestes a ser revelada.
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