A Mulher que Voltou para Vencer
img img A Mulher que Voltou para Vencer img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Enquanto os técnicos preparavam dois laptops idênticos na sala de reuniões, minha mente voltou à vida passada. Lembrei-me das noites em claro, do sacrifício, da alegria de cada linha de código que funcionava. Lembrei-me da ingenuidade com que entreguei meu trabalho a João, acreditando que estava construindo nosso futuro juntos.

Lembrei-me do leito de morte, da frieza em seus olhos e nos olhos do meu próprio filho.

Uma onda de tristeza e raiva me invadiu, mas eu a sufoquei. Aquela Luana, a vítima, estava morta e enterrada. Hoje, eu estava aqui por mim. Para reivindicar o que era meu, para honrar a memória da minha mãe e para construir um futuro onde eu nunca mais seria uma nota de rodapé na história de outra pessoa.

Eu estava aqui para vencer.

O Sr. Monteiro, o investidor principal, levantou-se. Sua presença impunha respeito. Ele não era apenas um homem de negócios, mas um engenheiro de software lendário em sua juventude. Ele era a autoridade máxima nesta sala.

"O desafio é o seguinte" , ele anunciou, sua voz grave ecoando na sala. "Quero que vocês desenvolvam um novo módulo de segurança para a arquitetura de IA que foi apresentada. O módulo deve usar criptografia quântica simulada para proteger os dados preditivos contra ataques de força bruta. Vocês têm uma hora."

Um murmúrio percorreu a sala. Era um desafio extremamente complexo, algo que levaria uma equipe de ponta semanas para desenvolver.

Vi um flash de pânico nos olhos de Clara. Criptografia quântica era um campo esotérico, muito além do que ela poderia copiar de artigos online.

João, no entanto, continuava cego. Ele se inclinou e sussurrou para Clara, provavelmente palavras de encorajamento.

Sentamo-nos em mesas opostas, de costas uma para a outra. O cronômetro na parede começou a contagem regressiva: 60:00.

Meus dedos voaram sobre o teclado. O mundo exterior desapareceu. Havia apenas eu, a lógica e o código. Eu não estava apenas resolvendo um problema, estava criando arte. Cada linha era elegante, eficiente, segura. Eu construí a estrutura, implementei os algoritmos, criei os protocolos de segurança. Eu conhecia a arquitetura original como a palma da minha mão, porque eu a criei. Adicionar um novo módulo era como adicionar um novo cômodo a uma casa que eu mesma projetei.

Com vinte minutos de sobra, eu terminei. Compilei o código sem erros. Executei os testes de estresse. Funcionou perfeitamente. Salvei o arquivo e me recostei na cadeira, cruzando os braços.

Do outro lado, Clara suava. Seus dedos se moviam lentamente, erraticamente. Ela olhava para a tela com desespero. O tempo estava se esgotando.

Aos 55 minutos, ela anunciou que havia terminado. Havia um alívio tenso em sua voz.

João sorriu, triunfante. Ele olhou para mim com desdém. "Viu? Um verdadeiro gênio não precisa de todo o tempo. Enquanto Luana ainda está pensando, Clara já resolveu."

Quando o tempo acabou, o Sr. Monteiro pegou os dois pen drives contendo nossos códigos.

"Vamos analisar o trabalho da Senhorita Clara primeiro" , ele disse.

O código dela foi projetado na grande tela. Era um desastre. Uma colcha de retalhos de funções copiadas de bibliotecas públicas, mal integradas e cheias de vulnerabilidades. Era um trabalho de um estudante do primeiro ano, não de uma CEO visionária.

O silêncio na sala era ensurdecedor. O rosto de João ficou pálido.

Então, o Sr. Monteiro abriu meu arquivo.

Na tela, apareceu um código limpo, elegante e inovador. As linhas fluíam com uma lógica impecável. Era complexo, mas brilhantemente simples em sua execução.

Os investidores se inclinaram para a frente, seus olhos arregalados. O Sr. Monteiro se levantou e caminhou até a tela, examinando as linhas de código como se estivesse olhando para uma obra de arte.

"Isso... isso é extraordinário" , ele sussurrou, maravilhado.

João ficou branco como um fantasma. Ele olhou de Clara para a tela, e de volta para Clara, a confusão e o choque lutando em seu rosto.

A verdade estava ali, em preto e branco, para todos verem.

"Agora" , eu disse, levantando-me e quebrando o silêncio. "Eu acredito que ficou claro quem é a verdadeira autora do projeto original."

Virei-me para Clara, cujo rosto estava contorcido em uma máscara de ódio e pânico.

"Você não apenas roubou meus projetos e minhas ideias, Clara" , continuei, minha voz subindo em volume e força. "Você roubou a vida da minha mãe."

Um suspiro coletivo encheu a sala.

"Isso é uma mentira! Você está louca!" , gritou Clara.

"Estou?" , perguntei, calmamente. "Então talvez os senhores investidores queiram ouvir o testemunho de uma pessoa que estava lá."

Abri a porta da sala de reuniões. Parada do lado de fora, estava a Dra. Mendes, a antiga médica da nossa família. Ela parecia nervosa, mas determinada. Ela entrou na sala, segurando uma pasta.

"Dra. Mendes?" , disse João, chocado. "O que você está fazendo aqui?"

"Estou aqui para dizer a verdade, João" , respondeu a médica, evitando seu olhar e se dirigindo aos investidores. "A mãe da Luana não morreu de causas naturais. Ela morreu de um choque anafilático induzido, logo após uma visita da Senhorita Clara. Uma visita sobre a qual Clara me pagou, e muito bem, para nunca mencionar a ninguém e para desaparecer."

A bomba explodiu na sala. Clara desabou na cadeira, tremendo incontrolavelmente.

"Não... não é verdade..." , ela balbuciou.

João olhou para ela, o horror finalmente começando a rachar sua fachada de negação. "Clara? O que ela está dizendo? Diga que é mentira."

Clara, desesperada, olhou para João, seus olhos cheios de lágrimas de crocodilo.

"João, eu fiz isso! Mas foi por nós! Eu fiz tudo pelo nosso bem! Para que pudéssemos ficar juntos, para realizar nosso sonho! Eu manipulei tudo!"

Ela confessou. Na frente de todos.

João cambaleou para trás, como se tivesse levado um soco. Ele olhou para mim, para Clara, e para os rostos chocados dos investidores. O mundo que ele construiu sobre as mentiras de Clara estava ruindo ao seu redor. E ele estava bem no epicentro do desastre.

---

                         

COPYRIGHT(©) 2022