"Vinte e cinco milhões," disse Beatriz, rindo para Pedro, que a aplaudia como um lacaio.
Os sussurros na sala mudaram de pena para zombaria.
"A coitadinha não consegue comprar nada."
"Beatriz está apenas brincando com ela. É como um gato com um rato."
"Isso é o que acontece quando você irrita a pessoa errada."
Pedro, sentindo-se o centro do universo, sussurrou algo no ouvido de Beatriz. Ela riu e lhe deu um beijo barulhento na bochecha.
"Meu querido está se divertindo," disse Beatriz em voz alta, olhando diretamente para Sofia. "Ele adora um bom show."
Sofia ignorou os olhares, as risadas, a humilhação pública. Ela fechou os olhos por um momento, forçando-se a se acalmar. Raiva não a ajudaria agora. Desespero também não. Ela precisava pensar. Beatriz era rica e impulsiva, movida pelo ego e pelo desejo de agradar Pedro. Essa era sua fraqueza.
Sofia reabriu os olhos e examinou o catálogo novamente. Ela passou pelas páginas, ignorando os lotes óbvios e atraentes. Sua mente trabalhava furiosamente, analisando, calculando. Beatriz estava jogando um jogo de poder, não de estratégia. Sofia precisava mudar as regras do jogo.
O leilão continuou. Lote após lote, a mesma cena se repetia. Sofia fazia um lance simbólico, e Beatriz o esmagava com uma oferta ridícula. Ela já havia gasto mais de duzentos milhões em terrenos que provavelmente nem saberia como usar.
Finalmente, chegou a vez do lote 27. Era descrito como "terreno rochoso, sem valor agrícola, fonte de água intermitente". No catálogo, a foto mostrava uma paisagem desoladora, cheia de pedras cinzentas e mato seco. Era o tipo de terra que a maioria dos investidores ignoraria.
Mas Sofia viu algo mais. Ela reconheceu a formação rochosa. Era o tipo de solo que muitas vezes escondia minerais raros ou, em casos muito raros, gemas. Era uma aposta de altíssimo risco. Mas era a única chance que ela tinha.
Ela levantou sua placa. "Lance inicial, um milhão."
Beatriz bufou. "Um milhão por aquele lixo? Você está desesperada."
Mas, fiel à sua promessa, ela disse: "Dois milhões."
Sofia sorriu por dentro. A isca foi mordida.
"Três milhões," disse Sofia.
"Cinco milhões," retrucou Beatriz, já parecendo entediada.
Pedro se inclinou para Beatriz. "Querida, por que você está gastando dinheiro com essa pilha de pedras? Deixe-a ficar com o lixo. Não vale a pena."
Beatriz olhou para Sofia, depois para o terreno no telão. Ela estava prestes a concordar com Pedro, mas então viu o olhar nos olhos de Sofia. Era um brilho de interesse genuíno, algo que não estava presente nos outros lances.
A suspeita de Beatriz foi despertada. Sofia, a "Toque Verde", devia saber de algo.
"Dez milhões," disse Beatriz, sua voz agora mais séria.
A multidão murmurou. Dez milhões por aquele terreno inútil?
"Onze milhões," disse Sofia, mantendo a calma.
"Vinte milhões!" Beatriz estava ficando irritada. Ela não gostava de ser desafiada.
"Vinte e um milhões."
A paciência de Beatriz se esgotou. Ela se levantou, apontando o dedo para Sofia.
"Chega de brincadeira! Eu não vou deixar você ter nada! Leiloeiro, eu proíbo Sofia de dar mais lances neste lote!"
O leiloeiro pareceu chocado. "Senhora Beatriz, isso é contra as regras..."
"Eu faço as regras!" ela gritou. "Ela não tem dinheiro para competir de qualquer maneira. Está apenas me fazendo gastar mais!"
Pedro, sempre o bajulador, interveio com uma falsa gentileza.
"Querida, acalme-se. Olhe para ela, está tão desesperada. Talvez devêssemos ser generosos. Deixe-a ter um lote, o pior de todos. Assim ela não sai de mãos vazias."
Seus olhos brilhavam de malícia. A ideia não era ser gentil, mas sim humilhá-la ainda mais, dando-lhe as migalhas da mesa.
Beatriz adorou a ideia. O sorriso cruel voltou ao seu rosto.
"Você tem razão, meu amor. Você é tão bondoso." Ela se virou para Sofia. "Tudo bem. Você pode ter um lote. Mas eu escolho qual."
Ela folheou o catálogo e apontou para o último item, o lote 35. Era uma pequena parcela descrita como "resíduo de pedreira, solo contaminado". Era, sem dúvida, o pior terreno de todo o leilão, considerado lixo industrial.
"Você pode ficar com esse," disse Beatriz. "Eu até pago por ele para você. Considere um presente."
A sala explodiu em gargalhadas. A "Toque Verde" recebendo um pedaço de terra envenenada como esmola.
Sofia olhou para o lote 35. Depois olhou para o lote 27, o terreno rochoso que ela realmente queria. Ela sentiu uma pontada de desespero. Mas então, uma ideia ousada e perigosa surgiu em sua mente. Ela olhou para Beatriz com uma expressão estranha, uma mistura de derrota e desafio.
"Obrigada pela sua 'generosidade', Beatriz," disse Sofia, sua voz surpreendentemente calma. "Mas se você vai me dar um presente, por que não o lote 27? Já que você o quer tanto, e eu sou tão insignificante, por que não me dá esse e prova o quão magnânima você é?"
A sala ficou em silêncio novamente. Era uma jogada de psicologia reversa, um desafio direto ao ego de Beatriz.
Beatriz ficou sem palavras por um momento. Recusar faria com que ela parecesse mesquinha. Aceitar significaria dar a Sofia exatamente o que ela parecia querer.
Ela olhou para Pedro, que deu de ombros, confuso.
O ego de Beatriz venceu. Ela não podia parecer fraca.
"Tudo bem," disse ela, com os dentes cerrados. "Se você quer tanto esse monte de pedras, fique com ele. Mas eu vou ficar com o próximo lote que você escolher, não importa qual seja."
Ela estava convencida de que Sofia estava blefando, que o lote 27 era inútil e que ela a estava manipulando para fazê-la gastar dinheiro. Ao dar o lote a Sofia, ela acreditava que estava provando que Sofia era uma tola.
"Trato feito," disse Sofia, um pequeno sorriso se formando em seus lábios pela primeira vez naquela noite.
Ela tinha o que queria. Agora, a aposta estava feita.
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