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Não é tão diferente do que achei que seria , as pessoas ficam tristes por causa da perda ,
choram por você , gritam o seu nome , nunca me senti tão venerado como me sinto agora ,
ando em meio a multidão , vejo vários rostos , ninguém me vê , mas eu os vejo , são várias
pessoas dentre as que eu conheço e as que a névoa da memória apagou com o tempo , mas
tem um rosto de uma mulher cujo coração acaba de ser partido , ela está lendo seu discurso
fúnebre , com lágrimas nos olhos , e mesmo naquele estado ela continua linda ; continuo
andando pelo meu funeral e quando parei no meu caixão ainda aberto , reparei em algo que
achei engraçado , estou vestido , paletó altamente passado , gravata borboleta colorida ,
camiseta social azul clara , logo que percebo o conjunto por inteiro , tirei o sorriso , eu
reconheço essa roupa em qualquer lugar , essa foi a roupa que eu usei no dia mais feliz da
minha vida , o dia do meu casamento com Sara .
O velório foi longo e agitado , várias pessoas abraçavam e apertavam a mão de Sara aos
prantos , e falavam as frases mais conhecidas em um velório , "vai ficar tudo bem" "seja forte"
" sentimos muito" e a clássica " ele era um homem bom".
Minha sogra chorava soluçando , meu cunhado me olhava com ódio , é compreensível , porém
ele não entende , e como poderia ? É difícil explicar a causa de um suicídio , são tantos os
motivos , é difícil de organizar tudo e dizer qual dos motivos foi a causa da morte.
Um homem da minha altura anda até Sara e a abraça , sei quem ele é , Hugo , melhor amigo e
ex de Sara , não acredito que ele está aqui , cara de pau não tem , muito menos senso ,
começou a chegar perto dos dois e ouço Hugo cochichar , ele diz que estaria ali para ela , e
que se precisasse de algo era só chamar , ela balança a cabeça afirmando , Hugo a solta e dá
um beijo em sua bochecha e vai embora , um homem magro e pequeno pergunta se já pode
baixar o caixão , Sara anda até o caixão ainda aberto , toca o meu rosto , eu sinto , eu senti seu
toque , ela se agacha até a altura do meu ouvido e sussurra :
- Eu te amo - funga - irei sentir sua falta , por favor não me deixe sozinha - sinto suas lágrimas
caírem no meu rosto - me visite nem que seja por espírito ou sonho , por favor , não me deixe .
Ela se afasta e vai para Miriam , minha sogra , ela deita a cabeça no ombro da mãe e faz sinal
ao homem magro e baixo para abaixar o caixão , olho para trás e vejo uma grande caixa
carregando nada mais nada menos que o meu corpo .
Vejo Sara caminhar até o carro , o Toyota da sua mãe , foi nele que demos nosso primeiro
beijo , foi nele que nos entregamos um ao outro pela primeira vez também ; Sara abre a porta
do carro e de longe eu vejo , ela olha para o cemitério e dá um suspiro , sei o'que significa
aquele suspiro e fecho os olhos ao sentir o amor dela por mim , sinto também que ela não me
culpa de eu ter partido , entendo que ela me queria por perto , mas a vida não é justa nem com
aqueles que nunca pecaram contra ela , imagina com os que cometeram tal delito , ainda de
olhos fechados , suspiro e espero que ela sinta , uma brisa suave mexe em seus cabelos , ela
entra no carro e fecha a porta , é aqui meu amor , que selamos uma vida.