Algo dentro dela parecia ter sido despedaçado - era dor demais para reagir de qualquer forma.
Após deixar os materiais da conferência no instituto para que fossem arquivados, Stella voltou para casa.
Marc não apareceu em casa nos três dias que se seguiram, e ela não ligou para ele uma única vez. Não havia mais nada a ser dito.
Enquanto esperava pela aprovação final da sua inscrição, ela se mantinha ocupada organizando as suas coisas - qualquer distração que pudesse impedir a sua mente de desmoronar.
A sala que servia como depósito era um verdadeiro memorial dos anos que eles haviam passado juntos - bilhetes escritos à mão das primeiras declarações de amor, a cerâmica torta que fizeram no seu primeiro encontro, uma pequena pedra em forma de coração de uma noite sob o céu da montanha, fileiras de fotos agrupadas por anos... Até mesmo as câmeras Polaroid estavam organizadas de forma ordenada, da mais antiga à mais nova.
Sentimental, Stella sempre guardava esses objetos, esperando que um dia ela e Marc se sentassem juntos como almas velhas, rindo do passado.
Mas agora, tudo isso parecia uma piada perversa. Sem hesitação, ela lançou as lembranças no fogo e as observou queimar.
Quanto aos presentes caros - diamantes, relógios de luxo, colares refinados e até mesmo o anel de casamento - ela os alinhou cuidadosamente, tirou fotos e enviou uma mensagem para o seu contato na boutique de revenda, instruindo que se livrasse de tudo.
Quando ela viu a caixa de joias vazia, a ficha finalmente caiu - o amor, por mais resplandecente que fosse, não tinha qualquer valor uma vez manchado pela traição.
Passados mais dois dias, ela recebeu a notícia de que a sua inscrição para participar do projeto de pesquisa confidencial havia sido aprovada. A partir de agora, teria dez dias tranquilos antes que o projeto começasse.
Querendo abastecer-se de itens essenciais, ela trocou de roupa e foi ao shopping. No entanto, quando estava descendo a escada rolante com as suas sacolas de compras, avistou uma cena que a paralisou.
Lá estava Jazlyn Walsh, sua sogra sempre crítica, sorrindo calorosamente e agarrada ao braço daquela mulher, Haley, como se fossem velhas amigas.
Ao lado delas estava Marc, o mesmo homem que havia desaparecido por dias, colocando cuidadosamente uma reluzente pulseira de diamantes no pulso de Haley com toda a ternura que costumava reservar para ela no passado.
Nesse momento, eles pareciam completos - como uma família perfeita, uma que definitivamente não a incluía.
Quando Haley acenou com a cabeça com um ar de deleite, Jazlyn elogiou o gosto dela com um brilho nos olhos e casualmente entregou para a vendedora um cartão preto para o pagamento.
Para Stella, o momento estava impregnado com uma amarga ironia.
Aquele cartão preto pertencia a ela - era o seu dinheiro sendo gasto.
Ela havia conquistado esses privilégios... grandes descontos, primeiras escolhas das novas coleções, tudo por causa da sua amizade próxima com o diretor da marca.
O que era para ser um gesto atencioso seu para aproximá-la de Jazlyn estava sendo usado agora para bajular a amante de Marc.
Sem pensar duas vezes, Stella avançou decidida até o balcão, arrancou o cartão da mão da vendedora atônita e disse calmamente: "Desculpe. Este cartão não é mais válido."
A vendedora piscou os olhos, completamente confusa. "Senhora, este é um cartão premium. Ele não expira e não pode ser cancelado..."
"Ah, é mesmo?", Stella disse em um tom desafiador, quebrando o cartão ao meio e o jogando na lixeira próxima sem pestanejar. "Pronto, agora está cancelado."
A fúria de Jazlyn explodiu como um vulcão entrando em erupção. Ela deu um tapa forte no rosto de Stella e sibilou: "O que deu em você? Tem ideia do quanto o seu comportamento é constrangedor?"
A família Walsh carregava uma reputação impecável, e Marc sempre era elogiado como um verdadeiro prodígio nas finanças.
Desde o início, quando Stella e Marc começaram a namorar, Jazlyn a tratava com frieza. Depois que eles se casaram, essa frieza apenas aumentava.
Por mais que Stella se esforçasse para ganhar a aprovação de Jazlyn, jamais recebia sequer um sorriso caloroso.
Apesar de tudo, ela sempre ficava quieta, não querendo colocar Marc em uma situação difícil.
Mas essa paciência, construída sobre o alicerce do amor, finalmente se esgotou.
Ela não tinha mais qualquer razão para tolerar esse tipo de coisa a partir de agora.
Com isso, dois sonoros tapas ecoaram subitamente, acertando em cheio o rosto de Marc.
O ruído silenciou a todos ao redor.
Marc Walsh, o homem celebrado nos círculos financeiros como uma verdadeira lenda viva, agora estava ali, com o rosto vermelho, esbofeteado à luz do dia.
"Stella!", Jazlyn gritou furiosa, já arregaçando as mangas como se estivesse pronta para avançar e retaliar.
No entanto, Stella se mantinha firme, os pés plantados no lugar, o queixo erguido altivamente. "Se você encostar a mão em mim de novo, vou bater nele duas vezes mais forte. Quer experimentar?"
"Sua..." Jazlyn protestou, tão furiosa que precisou levar a mão ao peito para recuperar o ar. "Marc! Veja o que ela está fazendo! Como pode permitir que ela aja como uma bruxa?"
Stella se virou para Marc com um sorriso gelado no rosto. "Diga para mim, Marc - eu tinha ou não tinha todos os motivos para te esbofetear?"
A expressão de Marc endureceu instantaneamente, o maxilar se contraindo. Dando um passo à frente, ele agarrou o pulso de Stella e murmurou entre os dentes cerrados: "Já chega, Stella. Se acalme agora. Olhe a confusão que está criando."
Subitamente, Haley correu para os braços de Marc, arrastando a mão dele para a sua cintura e choramingando em Achure sobre o comportamento ultrajante de Stella.
Ela se agarrava a ele como hera e o chamava repetidamente de querido, como se quisesse se dissolver na sua pele.
Marc murmurou suaves garantias em Achure, falando gentilmente com ela.
A visão deles, tão íntimos e aconchegados, arrancou uma risada incrédula de Stella, que finalmente falou - o seu Achure fluente, o tom afiado.
"Se você é atrevida o bastante para ser a amante de alguém, pelo menos tenha a decência de não se fazer de inocente. Você está indo para a cama com o marido de outra mulher - nem pense em negar. Se Achure não está funcionando para você, podemos mudar de língua. Eu falo dezesseis idiomas. Basta escolher um, e eu te acompanho. Se eu perder a discussão, admito a minha derrota."
O rosto de Haley ficou vermelho escarlate.
Ela jamais havia imaginado que Stella pudesse falar Achure tão perfeitamente. Marc não tinha dito que sua esposa era apenas uma funcionária comum?
O rosto de Marc se tornou sombrio e ele disse em um tom severo: "Stella... quando foi que você aprendeu Achure?"
O momento atingiu Stella como um punhal sendo torcido mais fundo em um ferimento aberto.
Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo.
"Ah, Marc, você realmente deve me amar, não é mesmo?", ela disse, a voz afiada e cortante, repleta de sarcasmo. "Bem, vá em frente e aproveite a sua pequena farra de compras agora. Não vou atrapalhar."
Com essas palavras, ela girou nos calcanhares e foi embora.
No impulso de segui-la, Marc se moveu rapidamente, mas foi impedido por Jazlyn e Haley, cada uma agarrada a um dos seus braços.
"Você precisa se divorciar logo dessa mulher desavergonhada, Marc! Como ela se atreve a bater em você?", Jazlyn disparou.
Ela já tinha dito essas exatas palavras incontáveis vezes antes, mas Marc simplesmente a ignorava. No entanto, dessa vez, por alguma razão, elas soaram diferentes para ele e o deixaram irritado.
"Isso é entre mim e ela", ele murmurou, se soltando delas com um safanão e foi apressadamente atrás de Stella.
No exato momento em que ela chegou ao carro, ele conseguiu alcançá-la. "Stella."
Quando os dedos de Marc tocaram o pulso de Stella, uma onda de náusea a atingiu, e ela o afastou, enojada. "O que foi, senhor Walsh? Terminou de brincar de casinha com a sua queridinha selvagem?"
O rosto de Marc se contorceu de frustração. "Haley é apenas uma amiga. Por que você está sendo tão ciumenta? Será que não pode ser madura ao menos uma vez? Precisa me humilhar publicamente?"
Incrédula, Stella soltou uma risada seca.
De alguma forma, a culpa sempre recaía sobre ela no final. Bastante conveniente!
"Então, deixe eu ver se entendi direito", ela disparou. "Mesmo que eu pegue você na cama com a sua amante, devo sorrir, fechar as cortinas e ficar parada do lado de fora para proteger o nome da família?"
Ele apertou o pulso dela com mais força, os olhos faiscando. "Quantas vezes vou ter que repetir? Ela é apenas uma amiga!"
"Uma amiga, é?", Stella retrucou, o tom destilando ironia enquanto o media de cima a baixo.
Então, o seu olhar se tornou zombeteiro, entrelaçado com algo mais afiado como um toque de sedução ou talvez de vingança.
"Tudo bem então, eu também vou encontrar um amigo para mim e vou garantir que façamos tudo que você e Haley têm feito juntos - cada coisinha."
Fazendo uma pausa, ela se inclinou ligeiramente mais para ele, a voz caindo para um sussurro mergulhado em veneno. "E você, querido marido... não fique com ciúmes. Acho que seria justo, você não acha?"