Ela não conseguiu responder. A mansão estava impregnada da presença de Helena. O jardim estava cheio das flores favoritas de Helena, aquelas às quais Larissa era alérgica. A decoração, as cores, o próprio ar que ela respirava pertenciam a outra mulher.
Ela não tinha nada ali. Nenhuma coisa era dela.
Ela engoliu a dor, tentando uma última vez. "Bruno, eu não tenho para onde ir. Você é tudo o que eu tenho."
Sua família se fora. Seu pai havia falecido, e sua mãe a deserdara por se casar com Bruno, cuja família os Sampaio supostamente haviam arruinado. Ela estava trabalhando até tarde na noite em que seu pai teve o ataque cardíaco, uma escolha que lamentaria pelo resto da vida.
"A única família que eu tenho é a Helena", disse ele, a voz desprovida de qualquer emoção. Ele estava afirmando um fato.
As palavras a cortaram mais fundo que qualquer faca. Por quatro anos, ela acreditou que eles eram uma família, uma família quebrada, mas ainda assim uma família.
Ele vestiu uma camisa limpa e saiu sem dizer mais nada, a batida da porta da frente ecoando na casa cavernosa.
Ele a deixou com os papéis do divórcio.
Ela ficou sozinha no escuro, uma dor aguda irradiando de seu estômago. Estava piorando.
Ela procurou seus comprimidos, engolindo um punhado sem água.
"Eu não quero o divórcio", sussurrou para o quarto vazio. "Bruno, por favor... não me deixe."
Sua súplica se perdeu no silêncio. Ela fechou os olhos, a escuridão dentro dela combinando com a noite lá fora.
Ela odiava gardênias. A doçura enjoativa das flores a deixava tonta. E ela era alérgica a elas. No entanto, o jardim inteiro estava cheio delas porque Helena as amava.
Duda a estava levando para o hospital. Larissa não conseguia parar de tossir.
"Larissa, me deixa mandar alguém arrancar essas malditas flores", disse Duda, os nós dos dedos brancos no volante.
"Não", disse Larissa fracamente. "Ele ficaria furioso."
Ela sabia que não era sobre as flores. Era sobre a mulher que elas representavam. Bruno veria isso como um ataque à memória de Helena.
Elas chegaram ao hospital. Seu médico, Caio Sullivan, estava esperando. Ele também era seu irmão adotivo, a única família de verdade que lhe restava. Ele fora acolhido pelos Sampaio depois que seus pais morreram e sempre fora ferozmente protetor com ela.
Ele segurou os resultados de seus últimos exames, o rosto sombrio.
"Larissa, você não pode continuar fazendo isso", disse ele, a voz tensa de raiva e preocupação.
"Quão ruim está?", ela perguntou, a voz mal um sussurro.
"Se você continuar a negligenciar seu tratamento e deixar seu estado emocional se deteriorar... você tem três meses de vida. No máximo."
Ela agarrou o laudo, os dedos ficando brancos. Três meses.
A voz de Caio suavizou um pouco. "Onde ele está? Onde está o Bruno?"
"Ele está ocupado", ela mentiu, as palavras com gosto de cinzas na boca.
"Ocupado?", a voz de Caio se elevou novamente. "Ocupado fazendo o quê? Ele tem alguma ideia do que você está passando?"
Ele imediatamente se arrependeu de seu tom áspero. "Me desculpe, Lari."
Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. "Podemos começar os cuidados paliativos. Vai ajudar a controlar a dor."
"Tudo bem", disse ela, aceitando seu destino.
Ela saiu do consultório dele, as palavras do médico ecoando em sua mente. Três meses.
Ela caminhou pelo corredor em transe, a mente entorpecida.
Ela parou de repente.
Do outro lado do corredor, Bruno empurrava uma mulher em uma cadeira de rodas. A mulher estava rindo, a cabeça inclinada para trás enquanto olhava para ele.
Larissa a reconheceu instantaneamente, mesmo depois de todos esses anos. Helena Lins.
Ela estava viva.
Então ela ouviu a voz de Helena, clara e triunfante, flutuar pelo espaço.
"Bruno, estou grávida."