"Não", disse ela, a voz um sussurro pálido contra o vento. "Eu não fiz isso."
Ele soltou uma risada fria e incrédula. "Ainda mentindo. Helena não foi nada além de gentil com você, sempre te defendendo, e é assim que você a retribui?"
A dor irradiava do centro de seu peito. "Ela roubou tudo de mim. Minha família, minha vida... e você."
"Ela merece", disse ele, a voz caindo para um tom perigosamente baixo. "E eu vou ajudá-la a recuperar tudo o que é dela por direito."
Seu assistente apareceu e lhe entregou uma pasta. Ele a empurrou para Larissa.
"Nós nunca estivemos no mesmo caminho, Larissa."
Ele se virou e se afastou sem olhar para trás. O carro preto se afastou do meio-fio, desaparecendo na cidade cinzenta.
Ela olhou para a pasta em suas mãos. As palavras "Acordo de Divórcio" estavam impressas em letras pretas e em negrito.
Duda veio para o seu lado. "Larissa?"
"Duda", ela perguntou, a voz oca. "Você acredita em mim?"
"Claro que acredito", disse Duda sem um momento de hesitação.
Larissa soltou uma risada seca e sem humor. Uma amiga de alguns anos acreditava nela, mas o homem que ela amara por toda a vida não.
Ela pegou uma folha caída do chão. Estava marrom e quebradiça, desfazendo-se em sua mão. Um símbolo de sua própria vida.
Ela não tinha muito tempo.
"Quanto tempo levará para liquidar meus ativos?", ela perguntou a Duda.
"Alguns meses, talvez mais. Por quê?"
"Quero transferir tudo para ele o mais rápido possível."
Era a última coisa que ela podia fazer por ele. Ele sempre quis derrotar o Grupo Sampaio, esmagar a empresa que arruinara sua família. Ela sempre o ajudara, secretamente, fornecendo informações, ajudando-o a ganhar contratos. Era um hábito nascido de um amor desesperado e unilateral.
Agora, no fim de sua vida, ela lhe daria sua vitória final.
Talvez, apenas talvez, isso o fizesse feliz.
E uma pequena parte egoísta dela sussurrou no escuro. Ela não assinaria os papéis do divórcio. Moreria como sua esposa. Ela o prenderia a ela, um fantasma do qual ele nunca poderia escapar, uma dívida que ele nunca poderia pagar. Deixe-o viver com o peso do que ele havia feito.
Naquela noite, ela ligou para ele.
"Bruno, eu... estou grávida."
Houve um silêncio atordoado do outro lado da linha.
"O que você disse?"
"Estou grávida", ela repetiu, a mentira pesando em sua língua. "O médico disse que minha saúde não está boa. Ele disse... que eu preciso de você."
"Não se atreva a usar uma criança para me prender, Larissa", ele avisou, a voz baixa e perigosa.
"Não estou", ela sussurrou. "Só estou com medo."
Ele desligou. Mas ela sabia que ele viria.
Ela saiu para o jardim. As gardênias estavam em plena floração, seu perfume denso e sufocante. Ela mandou os jardineiros arrancarem todas elas.
Então, ela voltou para a mansão vazia e desolada e ateou fogo na pilha de flores mortas.
Ela cuidara daquelas flores por quatro anos, suportando reações alérgicas e tonturas, tudo porque ele uma vez dissera que Helena as amava.
Agora, ela queria apagar todos os vestígios de Helena daquela casa. De sua vida.
As chamas saltaram alto no céu noturno. Ela ficou diante do fogo, os olhos vazios, observando seu passado queimar.
Um carro freou bruscamente na entrada da garagem.
Bruno saltou, o rosto uma máscara de horror ao vê-la parada em frente ao inferno.