Capítulo 8 O DESESPERO

- Vou te dar uma aula grátis: ricos não têm vergonha, têm advogados. Se vazar minhas fotos, eu viro a coitada perseguida e você vira o stalker doente que minha família vai caçar até debaixo da terra. Escolhe: sumir agora ou virar meu projeto de tortura favorito? – Levantei, empurrando a cadeira com força enquanto ele era imprensado contra a mesa.

- As fotos que você me enviou foram datadas de 3 anos atrás, querida. Seu IP está nelas. Quer mesmo explicar para a polícia por que sua família tem isso nos servidores? Seus clientes irão desaparecer, sua empresa fechar, a Clifford estará no meio da merda toda e a Def Con vai te banir pra sempre. Ou casa comigo, ou vira piada, "amor".

- Meus nudes? Querido, eu inventei deepfake antes de beijar na boca. Essas fotos têm erros de iluminação que até um script Python de 20 linhas identificaria como falsas. Vaza elas. Vou processar você por difamação... e ganhar o suficiente para comprar seu cadáver.

- Vou denunciar a sua família por posse de pornografia infantil.

Eu suspirei, pondo as mãos na cintura, a fim de evitar que ele visse o quanto estavam trêmulas:

- Olha, eu já sabia que você era patético, mas chantagem por nudes? Sério? Até meu robô de estimação tem mais criatividade. Vou te bloquear da minha vida. Se quiser ser relevante, tenta de novo com algo que não dê pena.

Virei as costas e saí, ouvindo ele dizer em voz alta:

- Nenhum advogado resolverá isso sem estrago público. O que você tem a perder, meu amor? Basta casar comigo e ser feliz com sexo de boa qualidade, 24 horas por dia.

- O que você ganha com isto? – Perguntei, realmente curiosa.

- Estabilidade financeira eterna... Para mim e minha família. Já faz um tempo que os negócios do meu pai não andam bem. É a minha chance de salvar a família. Acha mesmo que me aproximei de você por algum outro motivo a não ser interesse? – riu – Quem está sendo patética agora?

- Sabe... eu até entendo sua obsessão. É difícil olhar no espelho e saber que nunca vai ser mais que um worm insignificante. Mas relaxa! Daqui a 10 anos, quando estiver preso ou morto, ninguém vai lembrar do seu nome.

Virei as costas e tentei realmente me livrar de Kaylan e sair daquele lugar imediatamente, antes que eu vomitasse.

- Você tem exatamente uma semana para pensar, amor. E antes de tentar fazer algo contra mim, saiba que as fotos estão a um clique de distância! E eu não estou sozinho nesta! É pegar ou largar. E lembre-se: você nunca mais nesta vida vai encontrar alguém como eu.

- Deus te ouça! – sequer olhei para trás, mostrando o dedo do meio para ele.

- Não sofra por mim, por favor! – Gritou, tentando me irritar e chamar a atenção dos outros, a fim de me humilhar ainda mais.

Virei-me, longe o suficiente para me certificar de que todos ouviriam minha voz quando disse:

- Você nunca me fez gozar, Kay, quem dirá sofrer!

Nem sei como cheguei em casa depois de tudo que houve. Fiz o trajeto nas mãos de Deus, porque quando percebi estava na minha cama, debulhada em lágrimas. Tudo que eu queria era pegar meu computador e fazer aquele canalha deletar tudo em 30 segundos. Caso contrário, o HD dele viraria um bloco de criptomoeda inútil. Mas eu sabia que Kaylan não seria burro o suficiente para manter as fotos no celular ou no notebook. Até porque ele me conhecia e sabia que eu as encontraria. Claro que alguém estava por trás dele... Alguém que, assim como eu, dominava o mundo cibernético. Porém não tinha ética.

E eu tinha? Acho que atualmente sim.

Quando cansei de chorar, fui tomar um banho e pus um roupão, deitando na cama esgotada emocionalmente. A parte boa é que Kay tinha me dado uma semana para tentar arranjar uma alternativa, já que casar com ele óbvio que não era uma possibilidade. Eu preferia cortar os pulsos com disquetes.

Ouvi uma batia na porta e antes que pudesse dizer, "não entre, estou dormindo", Olívia entrou no quarto. Ela foi até minha cama e me encarou:

- Você lembra que hoje é a festa de noivado de Rael e Rita, não é mesmo?

Não, eu não lembrava. Ou melhor, o que aconteceu naquela tarde apagou minha memória recente. Fiz careta e gemi:

- Acho que estou com febre.

Olívia pôs a mão na minha testa:

- Não, você não está com febre.

- Então terei em breve.

- Caralho, é o noivado de Rita, nossa irmã. Você vai mesmo fazer esta desfeita?

Não, óbvio que eu não faria! Sabia o quanto aquilo deixaria minha irmã entristecida.

Jorel! Sim, ele estaria ali em minutos. Meu sócio e amigo era a única pessoa que poderia me ajudar naquele momento! Sobre malandragem, chantagem e coisas ruins Jorel Clifford era mestre, embora nos últimos tempos estava querendo fingir que era santo.