PERDIDA EM TI
img img PERDIDA EM TI img Capítulo 1 Meu despertar
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Capítulo 6 Suspeito que me escondem algo img
Capítulo 7 Tenho pesadelos com sangue e água img
Capítulo 8 Vittorio me conta uma história romântica img
Capítulo 9 Encontrei um broche com uma data que não reconheço img
Capítulo 10 Sinto repulsa ao ser tocada img
Capítulo 11 Lágrimas no corredor img
Capítulo 12 Encontrei uma carta na minha bolsa img
Capítulo 13 Vittorio me dá um anel img
Capítulo 14 Tenho um flashback com fogo e gritos img
Capítulo 15 Decidiu fingir para observar melhor img
Capítulo 16 Fingir ou escapar img
Capítulo 17 Descubro câmeras ocultas no meu quarto img
Capítulo 18 A mansão estava cercada por muros e vigilantes img
Capítulo 19 Comecei a escrever secretamente um diário img
Capítulo 20 Descobri uma ala fechada da casa img
Capítulo 21 A tensão sexual com Vittorio se intensifica img
Capítulo 22 Ele me revela que fomos namorados doentes de amor . img
Capítulo 23 Encontrei uma foto rasgada: eu com outra mulher img
Capítulo 24 Vittorio me obriga a tomar comprimidos img
Capítulo 25 Tenho uma crise de ansiedade e alucino img
Capítulo 26 Aparece Beatrice, uma antiga amiga que diz me conhecer img
Capítulo 27 Beatrice me diz que tudo é mentira, mas desaparece img
Capítulo 28 Vejo um vídeo no celular img
Capítulo 29 Se eu o esquecer, não o procure. Não o ame img
Capítulo 30 Pergunto-me se estou louca ou se fui manipulada img
Capítulo 31 Vejo Vittorio manipulando meus medicamentos img
Capítulo 32 Descubro que fui internada voluntariamente img
Capítulo 33 Lembro da minha irmã, Celia, e de seu desaparecimento img
Capítulo 34 Descubro meu arquivo psicológico... modificado img
Capítulo 35 Enfrento Vittorio img
Capítulo 36 Lembro-me de uma briga violenta com Celia img
Capítulo 37 Suspeito que Celia está morta img
Capítulo 38 Enfrento o Dr. Rossetti img
Capítulo 39 Tento fugir e falho img
Capítulo 40 Beatrice retorna e ajuda por dentro img
Capítulo 41 Encontro o vídeo verdadeiro do meu confinamento img
Capítulo 42 Celia me suplica que me afaste de Vittorio img
Capítulo 43 Lembro que matei acidentalmente minha irmã img
Capítulo 44 A culpa me quebra img
Capítulo 45 Finjo voltar a me apaixonar por Vittorio img
Capítulo 46 Ganho sua confiança e acesso ao seu escritório secreto img
Capítulo 47 Descubro contas, relatórios, manipulação de outras mulheres img
Capítulo 48 Vittorio planeja me internar de novo img
Capítulo 49 Saboteei o sistema de segurança img
Capítulo 50 Despedi-me de Beatrice em segredo img
Capítulo 51 Enveneno lentamente Vittorio img
Capítulo 52 Enfrento Vittorio img
Capítulo 53 É um monstro... ou um homem quebrado img
Capítulo 54 Agora você viverá na gaiola img
Capítulo 55 Eu vou embora img
Capítulo 56 Relato minha história na delegacia img
Capítulo 57 Vittorio desaparece img
Capítulo 58 Caminho livre pela primeira vez img
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PERDIDA EM TI

Salej
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Capítulo 1 Meu despertar

Acordei envolta por uma luz branca que feria meus olhos.

Não era uma luz natural, mas aquela luz que usam na clínica, crua, como a de um centro cirúrgico. As paredes brilhavam com uma limpeza desumana. Tudo cheirava a desinfetante. A clausura.

Meu corpo não respondia.

Senti minha língua pesada, como se tivesse dormido com pedras na boca. O gosto metálico revirou meu estômago. Vomitei apenas ar.

O silêncio era tão absoluto que eu podia ouvir minha respiração entrecortada.

Onde eu estava? Quem eu era?

Um zumbido perfurou meu crânio. Levei a mão à testa. Não alcancei. Algo prendia meu pulso. Um acesso intravenoso. A outra mão, amarrada à lateral da cama com uma fita branca.

O terror subiu como um rio gelado pela minha espinha.

Uma sombra se moveu à minha esquerda.

- Catalina? - A voz era masculina. Grave. Suave. Como seda que esconde uma lâmina.

Virei a cabeça. Eu o vi.

Tinha o rosto talhado, elegante, de uma beleza perigosa. Cabelos escuros, terno impecável, e aqueles olhos... claros demais para serem calorosos.

Eu não o conhecia. Mas meu corpo, sim. Meus poros o reconheceram antes da minha mente. Uma corrente elétrica percorreu minha pele.

Sua presença não me era estranha.

Me causou náusea. E desejo. Ao mesmo tempo.

- Onde estou? - perguntei, com um fio de voz.

- Em uma clínica de repouso - respondeu, sem hesitar. - Um lugar seguro. Perto do mar. Itália.

Itália. A palavra me pareceu ridícula. Como se ele a tivesse inventado.

Olhei ao redor. Tudo parecia perfeito demais para ser real.

Luxuoso demais para alguém doente.

- O que aconteceu comigo?

O homem não respondeu de imediato. Seus olhos me estudavam. Como um cientista observa um experimento.

- Você se machucou, Catalina. Gravemente.

Engoliu em seco.

- Tentou... desaparecer.

Senti um tremor nos dedos. Não sabia se era medo, raiva ou frio.

- Quem é você?

- Vittorio Leone.

Falava como se isso bastasse.

- Seu noivo.

Meu coração parou por um instante.

Noivo?

A palavra soou absurda na minha boca.

Eu não me lembrava de ter amado alguém. Não me lembrava de nada.

Mas algo doía ao ouvi-lo dizer aquilo. Como se algo perdido em mim chorasse para voltar.

- Por que não me lembro de você?

- Você esteve sedada. Seu cérebro... precisava descansar. As emoções intensas te sobrecarregaram.

- Me drogaram?

Ele franziu os lábios.

- Nós estamos te protegendo. De você mesma.

O quarto girou. Um suor frio. Vértigo.

Tentei me sentar. Vittorio segurou meu braço rapidamente. Seus dedos eram quentes, firmes.

Seu toque me provocou um arrepio. Quis me afastar, mas meus músculos eram de pano.

Ele me segurou com uma mistura de ternura e controle.

- Não se esforce - murmurou. - Você esteve muito doente. Vai levar tempo para se adaptar.

- Me adaptar a quê?

Vittorio sorriu. Não era um sorriso feliz. Era um sorriso treinado.

- À verdade.

Passaram horas. Ou dias. Não havia relógios. Apenas sol e sombras, se revezando na janela.

As enfermeiras falavam pouco. Algumas evitavam olhar nos meus olhos. Outras eram gentis... gentis demais.

Como se eu fosse algo frágil que poderia se quebrar ao menor toque.

Vittorio vinha todos os dias. Sempre com flores. Sempre com aquela voz suave que escondia algo mais.

Um dia, ele trouxe fotos. Nossas.

Sorrisos. Férias. Um anel no meu dedo.

- Isto foi na Grécia - disse, mostrando-me uma imagem onde eu sorria ao lado dele.

- Aqui, você disse que queria passar o resto da sua vida comigo.

Eu não me reconheci. Era como se ele me mostrasse fotos de uma estranha.

- Por que não me lembro de nada disso?

- Porque sua mente bloqueou o que veio depois. O acidente. A crise.

- Que acidente?

Ele não respondeu.

Em vez disso, aproximou-se e beijou minha testa.

Meu corpo reagiu com uma onda de calor. Fechei os olhos por um segundo.

E, nesse instante...

...uma imagem fugaz atravessou minha mente:

Um quarto em chamas.

Uma mulher gritando meu nome.

Uma porta trancada.

Abri os olhos de repente. Minha respiração estava agitada.

Vittorio me olhava.

- O que você viu?

- Nada. Uma... lembrança. Pelo menos é o que parece.

- Perfeito. Você está começando a se curar.

Naquela noite, não dormi.

Fiquei sentada na cama, olhando a lua refletida no mar. Tudo estava silencioso demais.

Comecei a escrever no verso de um livro que encontrei na mesinha. Palavras soltas. Frases que eu não lembrava ter pensado:

Não confie em ninguém.

Nem tudo que você sente é real.

A pele também mente.

Levantei-me. Caminhei descalça até a porta.

Trancada. Por fora.

Toquei a maçaneta. Nada.

Vittorio havia dito que era para minha segurança.

Mas eu não me sentia segura.

Eu me sentia contida.

No terceiro dia, encontrei meu celular na gaveta da mesinha. Alguém o havia esquecido ali. Ou deixado de propósito.

Estava bloqueado. Mas tentei minha digital. Funcionou.

Meu coração batia na garganta. Abri a galeria. Fotos. Vídeos.

Uma vida inteira que eu não lembrava. Uma Catalina sorridente. Bronzeada. Apaixonada.

E, no entanto, senti nojo.

Algo não se encaixava.

Encontrei uma pasta chamada "SÓ SE EU ESQUECER".

Abri.

Um vídeo. Apenas um.

Dei play.

Apareci na tela.

Cabelos desgrenhados. Olheiras. Pânico.

Eu. Mas outra.

Minha voz estava quebrada.

- Se você está vendo isso... significa que esqueceu.

Engoli em seco. No vídeo. E na vida real.

- Não confie em Vittorio.

Pausa.

- Nem em você.

O vídeo cortou.

Fiquei congelada, celular na mão, sentindo que o mundo se despedaçava sob meus pés.

Quando Vittorio voltou naquela noite, fingi estar dormindo.

O observei pela fresta dos meus cílios.

Ele se sentou ao lado da minha cama. Ficou me olhando por muito tempo.

Depois, tirou um frasco do bolso. Colocou-o na mesinha. Pílulas cor-de-rosa.

- Para os seus sonhos - sussurrou.

Acariciou minha bochecha com o dorso da mão.

- Não quero te perder de novo.

Senti lágrimas nos olhos. Não sabia se eram minhas. Ou da outra Catalina que falava nos vídeos.

Naquela madrugada, tive um sonho.

Eu estava em um jardim. Escuro. Com flores negras.

Havia uma mulher de costas. Cabelos longos. Vestido branco.

Ela se virou.

Era eu.

Mas tinha os olhos vazios.

Acordei gritando.

Vittorio não estava. Mas a porta estava aberta.

E, no corredor, havia pegadas molhadas no chão.

Pequenas. Descalças.

Segui-as até o final do corredor, tremendo de medo.

Uma porta entreaberta. Escuridão lá dentro.

Alguém respirava. Lento. Profundo. Como se me esperasse.

Uma mão tocou meu ombro.

Levei um susto. Virei-me.

Não havia ninguém.

Quando voltei para o quarto, meu celular já não estava mais lá.

Deixei-me cair na cama. Tremendo.

A porta voltou a se fechar com o mesmo clique seco.

Senti-me prisioneira.

Mas o pior não era a jaula.

O pior era que, no fundo de mim, uma voz dizia:

Você escolheu isso.

E isso...

me aterrorizava mais do que qualquer lembrança.

            
            

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