Os Indesejados, Os Imparáveis
img img Os Indesejados, Os Imparáveis img Capítulo 4
4
img
  /  1
img

Capítulo 4

"Nós somos sua família!", lamentou Alice, desabando contra o Coronel em um monte dramático. "Como você pode ser tão cruel?"

Ela tentou dar um passo em direção às escadas e tropeçou, agarrando o coração. "Meu coração... não consigo respirar..."

Era um truque antigo, um que ela usava sempre que estava perdendo uma discussão.

O Coronel me lançou um olhar de puro ódio. "Olha o que você fez! Você está matando sua mãe!"

Mas eu não estava caindo nessa hoje à noite. Apenas a observei, meu rosto impassível.

Cristina, no entanto, correu para o lado dela. "Mãe! Mãe, você está bem? Alguém chame uma ambulância!"

Alice espiou por entre os dedos para ver se eu estava reagindo. Vendo minha expressão de pedra, ela se jogou mais dramaticamente nos braços do Coronel.

"Eu criei um monstro", ela ofegou. "Um monstro de coração frio."

"Aprendi com os melhores", eu disse, minha voz desprovida de emoção. Virei-me e entrei no meu quarto, puxando minha velha mala de lona do fundo do armário.

Eu não tinha muito. Algumas mudas de roupa, alguns livros gastos e uma pequena caixa de madeira onde guardava as poucas lembranças do meu tempo no sistema. Fechei o zíper da mala e voltei para o corredor.

Eles ainda estavam no pé da escada, uma cena congelada de drama falso.

Parei no topo do patamar e olhei para eles. "Eu volto para buscar o dinheiro que vocês me devem. Não pensem que vou esquecer."

Comecei a descer as escadas.

Ao passar por eles, um álbum de fotos na mesa de entrada chamou minha atenção. Era novo em folha, com "Noivado de Cristina & Thiago" gravado em ouro na capa. Eles já tinham começado a documentar sua nova vida perfeita. A minha vida.

Sem uma palavra, eu o peguei.

"O que você pensa que está fazendo?", exigiu o Coronel.

Eu o abri. A primeira página tinha uma foto profissional de Cristina e Thiago, sorrindo radiantemente. Deve ter sido tirada semanas atrás. Tudo isso tinha sido planejado por muito tempo.

"Você sabia", eu disse, olhando para Cristina. "Você sabia há semanas, e me deixou continuar acreditando."

Cristina não encontrou meu olhar.

Nesse momento, o telefone tocou. O Coronel o atendeu bruscamente.

"Alô? Ah, Sra. Monteiro! Sim, uma noite maravilhosa... sim, estamos todos emocionados pela Cristina."

Ele ouviu por um momento, de costas para mim. "Ah, não, ela é nossa única filha. Nós investimos tudo nela. Uma verdadeira bênção."

Nossa única filha. Ele disse isso com tanta facilidade. Como se eu não existisse. Como se eu não estivesse bem ali, ouvindo.

Uma risada fria e aguda escapou dos meus lábios. Foi um som terrível.

O Coronel se virou, seus olhos arregalados de fúria enquanto desligava o telefone. "Você vê? Você vê o que você faz? Você é uma vergonha!"

"Eu sou uma vergonha?", eu disse, minha voz se elevando. "Não sou eu quem mente para os futuros sogros. Não sou eu quem finge que uma das minhas filhas não existe."

"Vou pegar minha mala", eu disse, minha voz seca. "E então eu vou embora."

Comecei a ir em direção à porta.

"Não!", gritou Cristina, de repente se lançando sobre mim. Ela agarrou meu braço, suas unhas cravando. "Você não pode ir! Você vai estragar tudo!"

"Me solta, Cristina", avisei.

"Eu vou!", ela chorou, sua voz subindo histericamente. "Se você ficar, eu serei a única a sair! Você pode ficar com a casa, o dinheiro, tudo! Apenas não estrague meu casamento!"

Era outra performance, um esforço desesperado e de última hora para me fazer a vilã.

"Você não vai a lugar nenhum", eu disse, balançando a cabeça para seu ato patético. "Você é a filha de ouro. Este é o seu reino. Eu estou apenas abdicando."

Puxei meu braço para me libertar e me virei para sair.

"Você vai se dar bem", eu disse, olhando-a nos olhos. "Pessoas como você sempre caem de pé. Mas um dia, suas mentiras vão te alcançar. E espero estar lá para ver."

Caminhei até a porta da frente e a abri.

"Laura, espere!"

Virei-me para ver Cristina correndo em minha direção do topo da escada. Seu rosto era uma máscara de desespero e raiva.

E então, em um movimento de pura malícia calculada, ela se jogou escada abaixo.

Não foi um tropeço. Não foi uma queda. Ela se lançou no ar, torcendo o corpo para aterrissar em um monte amassado e patético no fundo.

Ela soltou um grito agudo ao atingir o chão de madeira.

"CRISTINA!", gritou Alice, correndo para o lado dela.

O Coronel se virou para mim, seu rosto contorcido com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. "Você... VOCÊ A EMPURROU!"

Ele se lançou sobre mim, suas mãos agarrando a frente da minha camisa, e me empurrou para trás com toda a sua força.

"Sua imprestável!", ele gritou, sua voz ecoando no hall de entrada. "Você tenta matar sua irmã?"

Minha cabeça bateu na parede. Estrelas explodiram atrás dos meus olhos. Ele não parou. Ele me levantou e me jogou de novo, desta vez em direção às escadas que eu acabara de descer.

Meu corpo bateu contra a borda afiada do degrau inferior. A dor, branca e ofuscante, atravessou minhas costelas.

"Ela está com inveja!", Alice gritava para Cristina, que agora soluçava em seus braços. "Ela sempre foi uma criança violenta e instável!"

O Coronel pegou minha mala e a jogou pela porta da frente aberta.

"FORA!", ele rugiu, seu rosto a centímetros do meu. "Saia da minha casa e nunca mais volte! Você quer dinheiro? Você vai receber uma conta pelos cuidados médicos da sua irmã, sua psicopata!"

Eu arquejei por ar, a dor no meu lado tornando impossível falar.

Ele não tinha terminado. Ele agarrou meu cabelo, me arrastando para os pés. Ele me empurrou em direção à porta.

"Você não é minha filha!", ele rosnou.

E então ele me chutou, com força, na parte inferior das costas.

Tropecei para fora de casa e caí pelos degraus da frente, aterrissando com força na calçada de concreto.

A porta da frente bateu com força.

Pela janela, eu podia vê-los pairando sobre Cristina, todo amor e preocupação.

A luz da varanda de um vizinho se acendeu. "Está tudo bem aí, Coronel?", uma voz chamou.

"Apenas um pequeno drama familiar, Seu Carlos!", meu pai respondeu, sua voz de repente calma e vizinha. "Minhas desculpas pelo barulho. Uma das minhas filhas teve uma... queda desajeitada."

O vizinho espiou, me viu caída no chão. "Aquela é a... Laura? Parece que ela caiu bem feio."

"Ela sempre foi instável", ouvi a voz de Alice vindo através da porta fechada. "Estamos considerando procurar ajuda profissional para ela."

O vizinho assentiu, seu rosto uma mistura de pena e julgamento. Ele desapareceu de volta em sua casa.

O som de sirenes ficou mais alto à distância. Alguém deve ter chamado a polícia.

A porta da frente dos meus pais se abriu novamente. O Coronel saiu, olhando para mim com puro desprezo.

"A polícia está vindo", disse ele. "Vamos dizer que você atacou sua irmã e depois caiu das escadas tentando fugir. Vamos prestar queixa. Você vai pagar pelo que fez esta noite."

Tentei me levantar, mas a dor era demais. Desabei de volta no concreto frio.

Este era o movimento final deles. Não apenas me expulsar, mas me marcar como criminosa. Destruir meu nome tão completamente quanto destruíram minha esperança.

*Tudo bem*, pensei, enquanto as luzes vermelhas e azuis piscantes me banhavam. *Querem briga? Então vão ter uma.*

Eu não vou ser apagada.

                         

COPYRIGHT(©) 2022