"Eu me lembro", respondeu ele, a voz baixa e suave. "Você dizia que queria um pé-direito alto, paredes de tijolos aparentes e um lustre de cristal bem no centro. Falava que ele iria 'pingar luz de estrela'."
Ariana arregalou os olhos, surpresa. "Você lembra disso? Eu disse isso quando a gente tinha dezessete anos!"
"Eu lembro de tudo o que já saiu da sua boca", respondeu Blake, e a sinceridade cortou Caroline como uma lâmina atravessando o peito.
Os três se acomodaram em uma sala privativa. Blake pegou o cardápio e, sem pensar muito, decidiu: "Vamos pedir vieiras seladas, risoto de trufas e confit de pato."
Ariana riu baixinho, um som leve e tilintante. "Blake, você pediu todos os meus pratos favoritos. Devia perguntar à Caroline o que ela gosta." O tom parecia doce, mas quando encarou Caroline, seus olhos brilhavam com malícia.
Blake se virou para a esposa com o rosto completamente vazio. Então, empurrou o cardápio em sua direção e disse: "Desculpa... eu não sei o que você gosta de comer."
Três anos. Durante todo esse tempo, Caroline cozinhou para ele, preparou marmitas, escolheu pratos em restaurantes. Ele comeu diariamente a comida que ela mesma cozinhava, e mesmo assim não sabia. Não sabia nem o básico sobre quem dividia a vida com ele.
A vergonha a esmagou como um peso físico, sufocando sua respiração, e ela viu o brilho satisfeito nos olhos de Ariana e a indiferença displicente no semblante de Blake. Era insuportável.
"Com licença", disse Caroline com a voz tensa, levantando-se de repente. "Preciso tomar um ar."
Seguindo apressada rumo à saída, como quem foge de um sufoco, ela logo percebeu passos atrás de si e notou que Ariana a seguia.
"Vou te mostrar o caminho até o banheiro", disse a mulher com um sorriso falso e a voz carregada de uma gentileza ensaiada. No corredor vazio, porém, a máscara caiu e a Ariana se colocou à frente dela, barrando a passagem.
"Você devia desistir logo, Caroline", disse fria, quase num sussurro. "Você vê como ele é comigo. Se lembra de cada detalhe do que eu digo, mas nem sabe a sua comida favorita. Você não passa de um tapa-buraco. Só ficou no lugar até eu estar pronta para voltar."
Cada frase era a confirmação cruel de algo que Caroline já sabia, mas ouvir isso em voz alta doía como nunca.
"Ele me ama", prosseguiu Ariana, o sorriso se tornando cruel. "Tudo o que conquistou foi por mim. Ele correu para dentro de um prédio em chamas só para me salvar. Está entregando o futuro dele por minha causa. Me diga, Caroline, o que ele já fez por você?"
Caroline sentiu o chão girar e as paredes se fecharem ao redor.
"O que você quer, Ariana?", ela perguntou, com a voz trêmula. "Quero que você vá embora", a outra respondeu sem hesitar. "Ele é meu. Sempre foi meu. E você só está no caminho."
No instante seguinte, um estalo metálico ecoou do teto. As duas olharam para cima e viram um enorme lustre ornamentado que substituía o que havia caído antes balançando perigosamente.
Um suspiro coletivo atravessou o salão, seguido de gritos de pânico. Blake surgiu correndo enquanto seu olhar oscilava entre Ariana, Caroline e o lustre que cedia. Houve um momento de hesitação, e então a escolha.
Ele correu em direção a Ariana e a agarrou com força, puxando-a para trás e usando o próprio corpo como escudo, no exato instante em que a estrutura colossal de cristal e metal despencava sobre o lugar onde Caroline estava parada.
A última cena que ela registrou, antes da explosão de dor e da escuridão total, foi Blake abraçando Ariana, de costas para ela, protegendo apenas quem realmente importava.
Quando Caroline abriu os olhos novamente, as luzes ofuscantes do hospital a cegaram. O corpo inteiro latejava em agonia - sua cabeça estava enfaixada, o braço engessado e uma dor aguda pulsava em seu abdômen. O quarto estava silencioso, e não havia flores, nem um marido preocupado. Apenas o vazio.
Uma enfermeira entrou, séria, e checou seus sinais vitais. "A senhora teve muita sorte, senhora Santos. Sofreu uma concussão, teve um braço quebrado e vários cortes, mas continua viva."
Caroline deixou o olhar cair sobre a cadeira vazia ao lado da cama. Então, esticou o braço até a bolsa no criado-mudo, de onde tirou o caderno preto, embrulhado em seda.
Ela pegou uma caneta com a mão latejando de dor, mas ainda assim escreveu com firmeza "-15 pontos: ele viu um lustre cair sobre mim e não tentou me salvar. Ele escolheu ela."
Uma jovem auxiliar de enfermagem entrou para trocar o soro e reparou no caderno, então perguntou, curiosa: "O que é isso?"
"É a tabela de pontos do meu casamento", respondeu Caroline, a voz sem emoção. "Quando chegar a zero, o jogo acaba."
A moça se inclinou, arregalando os olhos. "Uau... você já está quase lá. Só faltam cinco pontos."
Nesse momento, a porta se abriu, revelando Blake com uma aparecia exausta e com o cabelo desgrenhado. Ele esteve com Ariana. Claro que esteve.
"Sobre o que vocês estão falando?", ele perguntou, enquanto seu olhar caía sobre o diário aberto nas mãos de Caroline.