Hannah pegou o travesseiro e confirmou com um aceno resoluto. "Sim. Só de cogitar a ideia de voltar, sinto um calafrio na espinha."
Um brilho imediato de aprovação surgiu nos olhos de Rena. "Você merece algo muito melhor, e sabe disso. Nunca conseguia entender o que você enxergava nele."
A voz de Rena não carregava incerteza - ela jamais havia apoiado o relacionamento. Para ela, ver Hannah romper com Vincent era como presenciar alguém despertando de um longo pesadelo.
Qualquer um que conhecesse Hannah notaria sua beleza inegável - esguia, elegante, com a pele de um tom pêssego suave e cabelos que refletiam a luz em ondas âmbar cintilantes. Ela possuía uma presença magnética, então por que continuaria presa a um homem que jamais a valorizara como merecia?
Rompendo o breve silêncio, Rena indagou com naturalidade: "O que você pretende fazer agora?"
Um brilho determinado iluminou o olhar de Hannah. "Simples. Vou restaurar a glória da Tecnologia Novana. Esse é meu único objetivo no momento."
Após uma curta pausa, ela indagou com um semblante esperançoso: "Rena, será que você poderia me ajudar a estabelecer contato com Miles Whitaker, o CEO da VitraMind?"
Se havia alguém com acesso aos círculos mais seletos da elite, era Rena. Sua rede de contatos parecia ilimitada, ainda que até ela, ocasionalmente, encontrasse obstáculos.
Ao escutar tal nome, Rena franziu a testa pela primeira vez na noite. "Miles não é exatamente tão acessível assim. O máximo que posso fazer é descobrir onde e quando ele vai estar."
Hannah sorriu, agradecida. "Isso já é mais do que eu poderia pedir."
Dessa forma, a noite se alongou em meio a conversas repletas de confidências, lembranças e risos, até que, por fim, Rena adormeceu.
Sozinha em meio ao silêncio da madrugada, Hannah abriu uma cerveja, permitindo que os pensamentos inevitavelmente retornassem a Vincent.
Como o relacionamento deles havia se deteriorado a tal ponto? Depois de todos esses anos juntos, ele jamais se permitira verdadeiramente ser vulnerável com ela. Nem uma justificativa ele oferecera por tê-la tratado como uma substituta.
Ninguém poderia chamar isso de outra coisa senão uma farsa. No fundo, ela compreendia - ela jamais era importante para ele e o afeto nunca existia entre eles.
As lágrimas começaram a arder em seus olhos, mas com uma mão trêmula, ela as enxugou. Nesse instante, com o coração ainda ferido, ela fez um voto silencioso a si mesma de que essa seria a última vez que choraria por Vincent.
Na manhã seguinte, os primeiros raios de sol iluminaram Danica, que se encontrava absorta sobre um tabuleiro de xadrez, tendo Brinley como sua adversária.
Sem aviso, o celular de Danica vibrou sobre a mesa. Na tela, surgiu o nome de Hannah.
Interrompendo a partida, Danica ergueu o celular e mostrou o identificador de chamadas para Brinley antes de atender. "O que aconteceu?"
"A documentação referente à transferência das propriedades já foi finalizada?" A voz de Hannah soava rouca e exausta, como se não tivesse pregado os olhos durante toda a noite.
Danica trocou um breve olhar com Brinley e respondeu de forma direta: "Claro que não. Apenas três dos processos foram concluídos até agora."
"Então me entregue esses primeiro", ordenou Hannah.
"Combinado, passe aqui quando puder. Aliás, ouvi dizer que você se mudou", comentou Danica em um tom propositalmente casual, se reclinando na cadeira.
A lembrança da ligação noturna de Vincent, em tom apreensivo, perguntando se Hannah havia ido à sua casa, voltou à mente de Danica.
"Sim", respondeu Hannah com firmeza, encerrando a chamada logo em seguida, sem qualquer hesitação.
Danica lançou um olhar impassível para a tela agora apagada, murmurando: "Quanta falta de educação."
No entanto, ao olhar para Brinley, ela curvou seus lábios em um sorriso satisfeito. "De qualquer maneira, o processo de divórcio deles está encerrado. Essa mudança de Hannah só favorece você. Agora será bem mais simples se aproximar de Vincent."
Brinley abaixou o olhar com uma timidez forçada e enrolou lentamente uma mecha de cabelo entre os dedos, embora seu tom denunciasse a autoconfiança. "Senhora Jones, ainda há um longo caminho a ser percorrido."
O sorriso de Danica se alargou, mal conseguindo conter o entusiasmo. "Tenho certeza de que não vai demorar muito. Já consigo te imaginar como parte da família."
Soltando um suspiro melodramático, ela completou: "O único pesar é ter que assinar tantas propriedades em nome de Hannah."
Um brilho astuto e ambicioso cintilou nos olhos de Brinley. "Talvez eu possa ajudá-la a reverter isso."
Imediatamente, a curiosidade se acendeu no rosto de Danica. "É mesmo? Como pretende fazer isso?"
Nesse instante, para ela, escolher Brinley como futura nora parecia a melhor decisão que já tomara.
Mais tarde, nesse mesmo dia, Hannah se dirigiu à residência de Danica para recolher a documentação referente à transferência da propriedade. Contudo, em vez de encontrar Danica, ela encontrou Brinley.
"Veja só quem resolveu aparecer", comentou Brinley, sua voz impregnada de doçura artificial, enquanto um sorriso afiado se desenhava em seus lábios.
Com o olhar firme, Hannah prosseguiu seu caminho, apertando o celular contra a palma e se dirigindo diretamente para a escadaria.
Porém, Brinley não parecia disposta a encerrar ali a provocação. "Naquele dia, no Restaurante Gilded, você ouviu a mim e a Vincent nos beijando na sala privada, não foi?"
Sem se deixar perturbar, Hannah lhe lançou um olhar frio. "E daí? Sentir orgulho por ser a responsável pela ruína do casamento alheio - isso realmente te enche de satisfação?"
Um vislumbre de desconforto atravessou fugazmente o rosto de Brinley, antes que ela voltasse a exibir seu sorriso treinado. "Se eu não tivesse me afastado, anos atrás, você sequer teria tido sua oportunidade com ele."
Fazendo uma curta pausa, ela se aproximou e diminuiu a voz. "Tem curiosidade para saber o que Vincent me falou quando estávamos juntos? Que você se deita como uma estátua - imóvel, sem reação - deixando todo o esforço nas mãos dele e transformando o ato em algo sem qualquer prazer."
Sem qualquer aviso, Hannah ergueu o celular, cuja tela iluminada exibia claramente uma chamada em andamento. Sua expressão se tornou cortante, fria como o aço. "Vincent, então é isso que você anda dizendo à sua amante sobre mim?"