Capítulo 4 Um caso perdido

Durante a faculdade, Gabriela e Dustin era um casal inseparável, sonhando com os planos do casamento assim que receberam seus diplomas.

Entretanto, quando Gabriela entrou no seu primeiro emprego, Dustin a traiu, se envolvendo com sua prima, Phyllis Haynes.

Sem nem se preocupar em pedir desculpas, ele olhou nos olhos dela e teve a audácia de argumentar: "Gabriela, eu me importo com você, mas honestamente? Me importo mais em ter dinheiro. Somos adultos agora e não podemos deixar a vida nos levar se baseando apenas nos sentimentos. Não vamos nos iludir - além de ser bonita, o que mais você tem a oferecer? Estamos juntos há anos e você nunca deixou eu tocar em você! Seus pais se foram e você não tem nada em seu nome. Se um dia nos casássemos, se comprássemos uma casa ou um carro, tudo sairia do bolso da minha família. Isso não é mais responsabilidade apenas dos homens! As mulheres também têm que contribuir! O que você pode oferecer? Você não consegue ajudar nem com um centavo. Minha mãe sempre esteve certa. Você não passa de um fardo. Já estou farto. Vamos acabar com isso logo."

No início do relacionamento, Gabriela ficava arrasada, convencida de que talvez realmente não fosse capaz de fazer a diferença.

Agora que ela viu quem Dustin era, percebeu que a causa do término nunca havia sido ela, mas ele mesmo.

Ele queria tirar proveito da sua futura esposa para ter uma vida mansa, por isso, a fazia se sentir como um fardo.

Se não fosse pelo término, ela não teria afogado suas mágoas no vinho, levando a uma noite de amor com "Brenden".

Pensando bem agora, tudo o que ela queria era xingar seu eu do passado por ter sido tão cega! Como ela havia se deixado levar por um cara como Dustin?!

Agora que conseguira entrar na vida de Phyllis, Dustin andava por aí com seus ternos sob medida, todo polido e descolado, seu charme descarado substituído por uma máscara de falsa sofisticação.

Bloqueando o caminho de Gabriela na porta, ele elevou a voz: "Por que está chegando tão tarde em casa? Phyllis não dormiu esperando por você, sabia? Você está de favor na casa dos outros, então não dê motivos para quem te acolheu se preocupar."

Gabriela se segurou para não rir dessas palavras ridículas. Esta era sua casa!

Alguns dias antes de falecer, a mãe de Gabriela deixou a casa e o negócio para o irmão, Josh Haynes, e pediu que ele cuidasse da sua filha, que na época tinha oito anos. Foi assim que a família de Phyllis acabou se mudando para a casa que sua mãe havia deixado, tudo sob o pretexto de cuidar de Gabriela.

Agora, por alguma razão, Gabriela se tornara uma estranha na própria casa.

A essa altura, discutir era inútil, então ela simplesmente ignorou Dustin. No entanto, quando ela deu um passo à frente para entrar, o rapaz agarrou o braço dela e repreendeu, seus olhos duros e cheios de julgamento: "Como pode ser tão insensível sabendo que Phyllis está preocupada com você?"

Gabriela não mostrou a menor gentileza ao responder: "Meu celular ficou ligado o tempo todo."

A desculpa de Phyllis estar preocupada era bem esfarrapada. Quem realmente esperaria por alguém sem sequer ligar ou enviar uma mensagem hoje em dia? Tudo isso não passava de um teatrinho e, de alguma forma, Dustin havia caído.

Ele era um caso perdido mesmo.

A carranca de Dustin se aprofundou, a impaciência transparecendo na sua voz. "Phyllis não conseguiu dormir por sua causa, e você ainda se recusa a reconhecer a generosidade dela? É tão difícil mostrar um pouco de afeto pela própria família? Depois de tudo que a família do seu tio fez por você, é assim que você age?"

Então, ele estufou o peito, todo cheio de si. "Vá se desculpar com Phyllis. A partir de agora, você terá que avisá-la quando voltar tarde."

Gabriela puxou seu braço e entrou em casa, cansada desse joguinho desnecessário.

Phyllis estava esparramada no sofá, o braço sobre a testa como se fosse desmaiar a qualquer momento.

Ao avistar Gabriela, ela se levantou, sua voz trêmula com uma preocupação ensaiada: "Gabriela, finalmente você chegou! Eu estava tão preocupada!"

Gabriela nem sequer a olhou, a exaustão entorpecendo sua expressão ao passar pela sala, determinada a chegar ao seu quarto.

Mais uma vez, Dustin a pegou pelo pulso. "É sério isso? Por que tanta indiferença? Phyllis não conseguiu dormir por sua causa, e agora você simplesmente dá as costas para ela?"

Phyllis se apressou em mediar a discussão, seu tom brando e apologético: "Dustin, não culpe Gabriela. Ela tem o direito de estar chateada comigo, já que eu a machuquei..."

Dustin envolveu os braços em torno de Phyllis e, lançando um olhar fulminante para Gabriela, disse num tom baixo e defensivo: "Phyllis não tem culpa de nada disso. Se está irritada, desconta em mim! Eu te disse que meus sentimentos mudaram, só isso. Não coloque a culpa nela pelo fracasso do nosso relacionamento."

Sem conseguir continuar ouvindo esse discurso falso, Gabriela curvou os lábios num sorriso frio e extasiante. "Ah, então ela não conseguiu dormir? Isso parece bem sério. Talvez seja melhor levá-la ao hospital, pois insônia não é coisa para se brincar. Eu odiaria que ela caísse morta nessa sala por perder algumas horas de sono."

Ao ouvir isso, o rosto de Phyllis se empalideceu e seus olhos se encherem de lágrimas.

"Como pode dizer uma coisa dessas, Gabriela?", a voz da garota se embargou com uma mágoa fingida. "Você amou Dustin por tanto tempo, e entendo o quanto isso deve doer. Mas você não pode me culpar por isso. Dustin e eu nos amamos de verdade..."

A expressão de Dustin se distorceu, seu maxilar se apertando de irritação. "Gabriela, nunca imaginei que você pudesse ser tão amarga e mesquinha! Sendo sincero, estou bem desapontado com você."

Phyllis logo interveio, pressionando o dedo sobre os lábios de Dustin levemente, ao passo que olhava para Gabriela com um olhar exagerado de simpatia. "Não vamos ser tão duros, Dustin. Pode ser que Gabriela nunca mais encontre outro homem tão maravilhoso quanto você. No fim das contas, ela terá que se contentar com um cara muito abaixo do seu nível. Só posso imaginar o quanto ela deve estar sofrendo em saber disso. Sinto tanto por ela..."

Gabriela soltou uma risada sem humor e desdenhosa.

Pelo amor de Deus, ela tinha acabado de passar a noite com alguém como Brenden! Ela não gostava de Brenden, mas comparado a Dustin, ele era praticamente um príncipe.

Gabriela se recusava a se rebaixar ao nível de Phyllis, sem a menor energia para discussões tão inúteis.

Sem dizer mais nada, ela foi para seu quarto e trancou a porta, abafando o som do corredor.

Um banho quente lavou parte da sua tensão. Logo depois, ela se jogou na cama, olhando para o teto enquanto o turbilhão dos últimos dias se repetia na sua mente de uma forma absurda e exagerada.

Ela se preparava para uma noite em claro, certa de que suas preocupações afastariam seu sono. No entanto, não demorou muito para que o cansaço a dominasse e ela adormecesse.

Na manhã seguinte, Gabriela afastou a tristeza como quem sacudia a poeira, determinada a recuperar sua serenidade habitual.

No escritório, antes que ela tivesse tempo de colocar sua bolsa, Aubrey apareceu ao seu lado, os olhos brilhando com malícia. "Ficou sabendo? O senhor Saunders está sendo transferido para um dos escritórios filiais."

O ânimo de Gabriela disparou. "O quê? O que aconteceu?"

Pela primeira vez, a sorte parecia sorrir para ela, e as coisas estavam começando a acontecer a seu favor.

Inclinando-se, Aubrey abaixou o tom de voz: "Todos sabem que ele é próximo do senhor Moss. Naturalmente, apenas o senhor Moss poderia ter providenciado sua transferência."

Mal conseguindo conter seu sorriso, ela acrescentou: "Ele deve ter passado dos limites com o senhor Moss."

Ele merecia isso por ter contrariado Wesley!

Contudo, a felicidade de Gabriela desapareceu tão rápido quanto surgiu. De repente, ela se lembrou de que havia deixado algo com Brenden, e uma nova onda de ansiedade a invadiu.

Virando-se para Aubrey, ela assumiu uma voz tensa: "Você sabe quando o senhor Saunders será transferido?"

O coração de Gabriela estava acelerado. Afinal, ela precisava pegar seu pertence esquecido antes que Brenden sumisse da sede para sempre.

"Ouvi dizer que ele já está desocupando o escritório. Ele irá embora a qualquer momento", Aubrey murmurou, olhando ao redor com cautela.

Sem perder mais tempo, Gabriela inventou uma desculpa, passou pela amiga e sumiu pelo corredor, pegando seu celular para enviar uma mensagem a Brenden.

"Você está na dele mesmo, né?"

O comentário abrupto se irrompeu atrás de Gabriela, fazendo sua mão fraquejar e o celular quase escapar.

Com o coração disparado, ela se virou, se deparando com Wesley parado próximo à porta de vidro. O que ele estava fazendo no departamento de vendas?