"Tenho uma coleção que gostaria de liquidar", eu disse, minha voz desprovida de emoção. "Anonimamente."
Nos dias seguintes, uma equipe discreta veio e foi, catalogando tudo que Luan já me dera. As pinturas de valor inestimável, os vestidos de alta costura, as joias antigas com o brasão da família Sampaio. Cada presente.
Os lucros, instruí, deveriam ser canalizados para um fundo secreto administrado pelo Projeto Fênix. Um fundo dedicado a ajudar lobas e Ômegas que foram rejeitadas ou abusadas por seus Companheiros. A traição dele financiaria a liberdade delas.
O último item foi a Lágrima da Deusa da Lua. Segurei-a na palma da mão, a safira fria e pesada. Este seria o grand finale do leilão.
Alguns dias depois, Luan invadiu a casa, o rosto uma máscara de trovão. Ele deve ter recebido a notícia do leilão. Sua poderosa presença de Alfa me atingiu, uma força invisível projetada para me colocar de joelhos.
"Diga-me por que você fez isso!", ele rugiu, usando sua Voz de Alfa. A Voz de Alfa é uma vocalização primal, uma vibração de poder que ressoa nos ossos de um lobo inferior, compelindo obediência absoluta. Qualquer outro lobo na alcateia, até mesmo um Gama, teria desabado, balbuciando a verdade.
Mas algo dentro de mim, o poder antigo em meu sangue, resistiu. Foi como se apoiar em um furacão, mas eu não quebrei. Meu próprio poder dormente, de nível Alfa, o legado da Loba Branca, ergueu-se para encontrar o dele, formando um escudo em torno da minha vontade.
"Eram presentes", eu disse, minha voz assustadoramente calma. "Uma vez dados, tornaram-se minha propriedade. Tenho o direito de dispor da minha propriedade como bem entender."
Minha desobediência o chocou. Ele me encarou, seus olhos dourados arregalados de incredulidade, como se me visse pela primeira vez. No dia seguinte, ele apareceu no leilão. Comprou de volta cada item, pagando mais que o dobro do lance final em uma furiosa exibição pública de posse.
Ele voltou para casa naquela noite e me encontrou na biblioteca. Não falou. Caminhou até mim, pegou a Lágrima da Deusa da Lua de sua caixa e a prendeu em meu pescoço. Ele puxou a corrente com tanta força que quase me sufocou.
Seus lábios estavam contra minha orelha, sua voz um rosnado baixo e ameaçador que contornou a fala e foi direto para minha mente.
"Você é minha", o Elo Mental sibilou, cru e possessivo. "Tudo o que você é, tudo o que você tem, é meu."
Encontrei seu olhar furioso no reflexo da janela escura e lhe dei um sorriso pequeno e doce. A sensação da safira fria contra minha garganta não era mais de amor, mas de uma coleira. Repousava contra a pele sensível do meu pescoço, o mesmo local onde seus dentes deveriam ter deixado uma Marca permanente e amorosa de um verdadeiro Companheiro. Agora, parecia apenas uma marca de propriedade, uma zombaria do laço sagrado. E isso apenas fortaleceu minha determinação de me libertar.