Eu não assisti. Não precisei. Os sons foram suficientes para queimar a imagem em minha mente para sempre.
Virei nos calcanhares e voltei para o meu próprio carro sem fazer barulho.
A porta do passageiro se abriu quando me aproximei. O Beta Walter estava sentado lá dentro, sua expressão tão impassível quanto pedra. Ele ergueu uma pequena câmera de nível profissional. Uma pequena luz vermelha piscava, indicando que estava gravando.
"Eu tenho tudo," ele disse, sua voz um ronco baixo. "Vídeo e áudio em alta definição."
Uma onda de náusea me atingiu, tão forte que tive que me segurar na maçaneta da porta para me firmar. A dor era algo físico, um peso esmagador no meu peito que dificultava a respiração. Eu a empurrei para baixo, trancando-a no cofre de gelo onde eu guardava minhas emoções.
"Me envie o arquivo," ordenei, minha voz rouca.
Enquanto eu deslizava para o banco do motorista, uma poderosa mensagem do Elo Mental atravessou meus pensamentos. Não era um pedido; era uma ordem, carregada com a força inegável de um Comando de Alfa.
"Isabela," a voz do pai de Ricardo, Alfa Daniel, ecoou na minha cabeça. "Você irá transferir imediatamente todos os arquivos, notas e contatos relacionados ao projeto Ômega 3 para Eva Marsh. Faça isso agora."
Minha loba não choramingou. Ela se calou, uma quietude fria e perigosa se instalando em minha alma. O comando não forçou submissão; ele cortou o último fio. Este foi o último corte. O último fio de lealdade que eu tinha com a Alcateia do Riacho Negro acabara de ser rompido.
Que assim seja.
Dirigi de volta para a casa da alcateia, meu rosto uma máscara de fria indiferença. Entrei no escritório principal, transferi cada byte de dados do meu drive pessoal para o servidor da alcateia e, então, com um clique final, enviei um e-mail para o conselho administrativo da alcateia.
Era um pedido formal para romper meus laços com a Alcateia do Riacho Negro.
A aprovação veio em minutos. A mãe de Ricardo, Luna Savannah, devia estar esperando por isso. Ela sempre me quis fora, sempre defendeu Eva como uma parceira mais adequada para seu filho.
Ao sair do escritório, carregando uma pequena caixa com os poucos itens pessoais que eu mantinha lá, dei de cara com ela.
Luna Savannah estava de braços cruzados, um sorriso presunçoso e desdenhoso no rosto. "Saindo tão cedo, Isabela? Vê se não bate a porta quando sair."
Ela me olhou de cima a baixo, seu olhar cheio de desprezo. "Você deveria aprender o seu lugar. Uma vez que você se una a Ricardo, seu único trabalho é ser uma boa Luna e gerar filhotes fortes. Essa bobagem de negócios é imprópria. Deixe isso para os Alfas."
Suas palavras deveriam doer, mas eu não senti nada além de uma pena fria e arrepiante por sua ignorância.
Ela não tinha ideia do que estava por vir.