Aline estava sentada em uma cadeira perto da janela, o telefone pressionado contra a orelha, sua voz um murmúrio baixo enquanto finalizava os arranjos. Ela era minha rocha, a única pessoa que não hesitou quando contei meu plano. Ela simplesmente assentiu, seus olhos cheios de uma lealdade feroz que aqueceu os cantos frios do meu coração, e perguntou: "O que você precisa que eu faça?"
Ela encerrou a ligação e se virou para mim. "Está feito. A transferência foi concluída. Seu novo apartamento está pronto quando você estiver."
Sua voz era firme, uma âncora calma no meu mundo turbulento.
"Obrigada, Aline", sussurrei, minha voz rouca.
Uma enfermeira entrou, sua expressão profissionalmente plácida, mas seus olhos continham um traço de simpatia. Ela verificou meus sinais vitais, seus movimentos eficientes e praticados. Ela olhou para o meu prontuário.
"O médico só quer que eu confirme uma última vez", disse ela gentilmente, seu olhar encontrando o meu. "Você entende que este procedimento é irreversível? Que afetará sua capacidade de conceber no futuro?"
"Eu entendo", eu disse, minha voz mais firme agora. Não havia hesitação, nem dúvida.
A enfermeira fez uma pausa. "Há alguma família que devamos chamar? Um marido?"
A palavra 'família' era uma risada amarga em minha mente. Família? As pessoas que orquestraram minha ruína? O homem que via a mim e nosso filho como nada mais do que ativos a serem gerenciados?
"Não", eu disse, minha voz assustadoramente calma. "Estou sozinha."
A enfermeira me olhou por um longo momento, mil perguntas não ditas em seus olhos. Ela devia ver mulheres na minha posição o tempo todo, mulheres forçadas a escolhas impossíveis. Mas ela simplesmente assentiu e disse: "Tudo bem. Vamos prepará-la então."
Quando a porta se fechou, deixando-me na quietude silenciosa, o bipe do monitor pareceu ficar mais alto, um metrônomo constante contando o fim de uma vida e o começo de outra. Isso não era uma perda. Era uma excisão. Eu estava cortando as partes cancerosas da minha vida, mesmo que isso significasse cortar um pedaço de mim mesma.
E eu sabia, com uma certeza que se instalou fundo na minha alma, que eu ficaria melhor por isso.
Quando acordei, a primeira coisa que ouvi foi a voz de Aline, baixa, mas urgente. "Ele tem ligado sem parar. De alguma forma, descobriu em qual hospital. É só uma questão de tempo até ele chegar aqui."
Meus olhos se abriram. Aline estava inclinada sobre mim, seu rosto marcado pela preocupação. "Júlia? Como você está se sentindo?"
Minha mão foi instintivamente para minha barriga. A leve e familiar redondeza havia sumido. Estava plana. Vazia. Um vácuo.
Meus dedos pararam sobre o vazio, um membro fantasma procurando por algo que não estava mais lá.
"Você... se arrepende?", Aline perguntou, sua voz mal um sussurro.
Arrepender-me? Minha mente brilhou com imagens: Leo prendendo uma pulseira de diamantes no pulso da minha irmã; o sorriso condescendente da minha mãe; o suspiro desdenhoso do meu pai. Os rostos das pessoas que deveriam me amar, distorcidos pela ganância e pelo sentimento de direito.
Um fogo, quente e purificador, queimou através de mim. Não era arrependimento que eu sentia. Era fúria. Uma fúria pura e absoluta pela minha própria cegueira, pelos anos que desperdicei amando pessoas que me viam como um meio para um fim. Mas eu os parei. Bem a tempo.
Um sorriso frio e afiado tocou meus lábios. "Não", eu disse, minha voz clara. "Nem por um segundo."
Empurrei-me para cima, ignorando a dor surda no meu âmago. Peguei a pasta grossa na mesa de cabeceira.
"Os papéis do divórcio", disse Aline, reconhecendo-os.
"Ligue para o meu advogado", eu disse, minha voz rouca, mas firme. "Diga a ele para dar entrada. Imediatamente."
Aline assentiu, já pegando o telefone. "E as finanças?"
"Você vendeu as ações que comprei com meu nome de solteira?"
"Até a última. O mercado estava em alta. Você ganhou uma fortuna", disse ela com um sorriso sombrio. "Os fundos já estão sendo transferidos para sua nova conta privada. Ele nunca tocará em um centavo."
Soltei uma risada pequena e sem humor. Por anos, eu investi secretamente a pequena mesada que meus pais me davam, uma ninharia destinada a me manter dependente. Acabou sendo a coisa mais inteligente que eu já fiz.
Meus olhos endureceram. "Ótimo. Deixe-o assistir seu império desmoronar. Quero que ele saiba que cada tijolo foi construído nas minhas costas, e estou levando a fundação comigo."
Naquele momento, nós os ouvimos. Passos apressados ecoando pelo corredor. Gritos.
Meu coração não acelerou. Acomodou-se em um ritmo lento e pesado. Eu estava esperando por isso. Sentei-me mais ereta contra os travesseiros, uma rainha aguardando uma audiência com traidores.
A porta se abriu com um estrondo.
Leo estava lá, seu cabelo desgrenhado, seu terno amassado. Seus olhos, selvagens com um pânico que eu nunca tinha visto antes, fixaram-se em mim. O medo neles era cru, primitivo.
"Júlia", ele sussurrou, sua voz rouca. Ele deu um passo cambaleante para dentro do quarto, seu olhar caindo para minha barriga lisa. Um som engasgado e gutural escapou de seus lábios.
"O que você fez?", ele sussurrou, seu rosto pálido. "Você não... não, você não poderia ter..."