Qualquer um com olhos podia ver o que eles estavam fazendo momentos antes de chegar.
Na minha vida passada, isso teria me destruído. Eu teria desabado em lágrimas, exigindo saber como ele podia me humilhar assim no meu aniversário, na frente de todo mundo. Eu teria gritado, questionando se meus anos de devoção não significavam absolutamente nada para ele.
Esta noite, eu simplesmente olhei para a marca, meu olhar demorando apenas um segundo antes de eu voltar para a conversa que estava tendo com um primo distante. Eu não lhe dei a satisfação de uma reação.
Eu senti seus olhos em mim, no entanto. Ele viu para onde eu tinha olhado. Ele instintivamente se moveu, tentando bloquear minha visão de Juliana, como se para protegê-la do meu julgamento.
Segundos se passaram. A explosão que ele estava esperando nunca veio.
Meu silêncio pareceu agitá-lo mais do que qualquer explosão poderia ter feito.
"O que é isso?" ele finalmente disse, caminhando até mim com um sorriso forçado e zombeteiro. "Interpretando o papel da noiva compreensiva? Você está com tanto medo de perder sua chance de se casar comigo que vai fingir que não vê?"
Ele se inclinou, sua voz baixando. "É melhor se acostumar, Fé. Estou prestes a me tornar o chefe desta família, o CEO da Inovações Monteiro. Não posso ficar preso a uma mulher só. Haverá muitas outras."
Ele me deu um tapinha condescendente no braço. "Mas como você está sendo tão... compreensiva esta noite, tenho uma pequena recompensa para você."
Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma pequena caixa de veludo. Um suspiro percorreu os poucos convidados restantes que assistiam ao drama se desenrolar.
Justo quando ele estava prestes a me entregar, uma mão pequena se esticou e a arrancou de seu alcance.
Era Juliana.
"Oh, Breno! É a pulseira 'Sussurro do Amante'?" ela exclamou, sua voz cheia de admiração fabricada. "É a edição limitada da Cartier! Eles só fizeram dez no mundo inteiro. Ouvi dizer que era impossível de conseguir."
A mão de Breno, que estava estendida em minha direção, caiu imediatamente. Um sorriso afetuoso se espalhou por seu rosto enquanto ele olhava para ela.
"Você gostou?" ele perguntou suavemente.
Sem esperar por uma resposta, ele disse: "Então é sua."
"Mas... mas é para a Fé", disse Juliana, seus olhos, cheios de engano triunfante, fixos nos meus. Foi uma performance impecável de aceitação relutante.
"Não seja boba", Breno zombou, acenando com a mão em minha direção. "Eu arranjo outra coisa para ela. Além disso", ele acrescentou, sua voz escorrendo condescendência, "qualquer coisa vinda de mim é perfeita aos olhos dela, certo?"
Algumas risadinhas ecoaram na sala. A humilhação era um gosto familiar e amargo na minha boca. Memórias voltaram, nítidas e dolorosas.
Lembrei-me de como eu costumava valorizar tudo o que ele me dava, não importava o quão insignificante. Uma vez, pegos em uma chuva repentina, ele casualmente jogou sua jaqueta sobre meus ombros. Foi um gesto impensado para ele, mas para mim, foi tudo. Guardei aquela jaqueta por anos, escondida como uma relíquia sagrada.
Ele a encontrou, é claro. Ele me encontrou uma noite, segurando-a, respirando o leve cheiro dele que ainda estava impregnado no tecido.
"Descarada", ele cuspiu, seu rosto uma máscara de nojo.
Aquela única palavra esmagou o coração frágil de uma adolescente. Eu fiquei mortificada. Fernando até o atingiu com sua bengala por isso, gritando que ele estava falando bobagens, mas Breno apenas riu.
Mais tarde, ele transformou a história em uma piada, exagerando minha devoção patética para a diversão de seus amigos. Rapidamente me tornei o motivo de chacota do nosso círculo social.
Olhando para trás agora, era tudo tão patético. Meu amor, minha devoção, minha humilhação.
Virei-me para sair, a festa de repente parecendo sufocante.
"Onde você vai?" A mão de Breno se fechou em meu braço, me parando. "O quê, você está com raiva? Não consegue mais manter a farsa?"
Sua voz era um rosnado baixo. "Eu sempre soube que você era uma mulher perversa, Fé."
Seu aperto em meu pulso era dolorosamente forte. Olhei para a mão dele, depois de volta para o rosto dele, minha expressão indecifrável.
Com um movimento brusco e repentino, puxei meu braço para me libertar.
"Breno", eu disse, minha voz perigosamente baixa. "Tenha um pouco de respeito."
Ele congelou por um segundo, pego de surpresa pela minha ousadia. Então ele zombou. "Respeito? Por que eu deveria? Você está desesperada para se casar comigo desde que éramos crianças. Em breve estaremos vivendo sob o mesmo teto. Não há necessidade de fingimentos."
Um sorriso frio tocou meus lábios. "Quem disse que eu vou me casar com você?"
A sala caiu em um silêncio atordoado. Por um instante, ninguém se moveu, ninguém respirou.
Então, o silêncio foi quebrado por uma onda de risadas. Começou como uma risadinha de um de seus primos e rapidamente se espalhou, até que a sala inteira estava rindo de mim.
A risada de Breno era a mais alta. "Com quem mais você se casaria, Fé?" ele zombou, seus olhos brilhando de diversão. "Você é obcecada por mim. Nós dois sabemos disso."
Ele gesticulou com desdém pela sala opulenta. "O quê, você vai se casar com ele?"
Ele apontou para o outro lado do salão de festas, onde seu irmão mais velho, Caio, estava sentado sozinho, quase escondido nas sombras. Ele era o único outro filho Monteiro elegível.
"Meu querido irmão?" A voz de Breno estava carregada de um desprezo piedoso. "O programador genial que teve um colapso nervoso e não é o mesmo desde aquele pequeno... incidente de sabotagem corporativa?"
A sala ficou um pouco mais silenciosa, os olhares dos convidados se desviando desconfortavelmente em direção a Caio.
"Ele está sempre doente, Fé", Breno continuou, sua voz cruel. "Quem sabe quanto tempo ele vai viver. E dizem que o incidente... danificou mais do que apenas seus nervos." Ele deixou a insinuação pairar no ar, uma coisa vulgar e feia.
Ele deu um passo mais perto de mim, seu sorriso se transformando em um escárnio vicioso.
"Diga-me, Fé", ele sussurrou, suas palavras um golpe final e devastador. "Você está realmente disposta a passar o resto da sua vida com um homem quebrado que não pode te dar nada?"
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