Forcei minha mão a se abrir, deixando a raiva se transformar em um nó frio e duro no meu estômago. Encarei Breno, encarei Juliana, que agora espiava do chão com um sorriso triunfante escondido atrás de suas lágrimas.
Breno viu a fúria em meus olhos e, por um segundo, um lampejo de arrependimento cruzou seu rosto. Ele deu um meio passo em minha direção, sua mão se estendendo. "Fé, eu-"
Mas Juliana foi mais rápida. Ela envolveu os braços em volta das pernas dele, agarrando-se a ele. "Breno", ela choramingou, "meu olho... acho que entrou alguma coisa no meu olho. Você pode olhar?"
Foi o suficiente para distraí-lo. Enquanto ele se curvava para cuidar dela, os sussurros começaram.
"Você viu isso? Brigando com a própria irmã por causa de um homem."
"Tão indecente. O que o pai dela diria?"
"Ela está trazendo vergonha para o nome Almeida."
O nojo no rosto de Breno voltou, dez vezes mais forte. Ele se endireitou, olhando para mim como se eu fosse algo que ele tivesse raspado do sapato.
"Peça desculpas à Juliana", ele ordenou. "Meu Deus, por que estou com uma mulher como você? Você é tão constrangedora."
Atrás dele, seus primos riam abertamente.
"Se ela não consegue nem tolerar a própria irmã", um deles sussurrou teatralmente, "como ela vai lidar quando o Breno estiver com outras mulheres?"
"Ela vai morrer de ciúmes!" outro gargalhou.
As palavras eram um eco amargo do meu passado. Uma vez, contei a uma amiga que comecei a lutar boxe por causa de Breno, jurando bater em qualquer uma que tentasse roubá-lo de mim. Tinha sido uma bravata impulsiva e tola, nascida de um amor desesperado. Agora, ouvindo isso ser jogado na minha cara, senti apenas uma profunda vergonha pela garota que eu costumava ser.
As risadas aumentaram ao meu redor.
Breno se aproximou, sua voz baixando para um murmúrio baixo e condescendente. "Meu avô vai anunciar nosso noivado esta noite. Se você realmente quer se casar comigo, não se esqueça do que eu te disse antes."
Ele se inclinou, seu hálito quente contra minha orelha. "Alas separadas. Sem interferência. Você fica fora da minha vida, e eu te perdoarei por ser a mulher perversa e insuportável que você é."
Eu o encarei, verdadeiramente perplexa. Como um homem tão educado, de uma família tão poderosa, podia ser tão completamente desprovido de decência? Ele viu meu silêncio e o confundiu com concordância. Um olhar presunçoso e satisfeito se espalhou por seu rosto.
"E contanto que você me escute", ele acrescentou, como se estivesse concedendo um grande favor, "eu me certificarei de que você não seja envergonhada em público."
Ele estava tão certo. Tão absolutamente convencido de que eu nunca escolheria ninguém além dele. A multidão de espectadores nos observava como se fosse uma peça de teatro, seus olhos famintos por mais drama.
De repente, um som agudo de batidas cortou o ar. Os passos eram firmes, autoritários.
O assistente pessoal de Fernando, Sr. Harrison, estava no topo da grande escadaria, seu rosto uma máscara trovejante.
"Que comoção é essa?" ele latiu, sua voz carregando uma autoridade que instantaneamente silenciou a multidão. "Vocês querem perturbar o Sr. Monteiro?"
Atrás dele, outra figura emergiu das sombras. Era Caio.
Ele usava um terno perfeitamente ajustado e, para minha surpresa, não estava na cadeira de rodas. Ele estava de pé, parecendo mais alto e mais forte do que eu jamais o vira. Seu olhar varreu a cena, pousando em mim, na mão que eu pressionava contra minha bochecha ainda ardendo.
Sem uma palavra, ele desceu as escadas, passando por Breno, por Juliana, por todos, e parou diretamente na minha frente.
"Você está bem?" ele perguntou, sua voz baixa e firme. Era quieta, mas cortou a tensão na sala.
Vê-lo ali, tão inesperadamente forte e preocupado, desbloqueou uma memória do final da minha última vida. Eu estava vagando pelas ruas, quebrada e desamparada depois que Breno me descartou. Um carro parou, e o rosto de Caio apareceu na janela. "Senhorita Almeida", ele perguntou, "o que está fazendo aqui fora?" Ele nunca me chamou pelo meu primeiro nome. Eu sempre pensei que era porque ele não me aceitava como sua cunhada. Não foi até eu estar morrendo que percebi o quão errada eu estava.
A memória era tão vívida que trouxe lágrimas aos meus olhos.
"Está doendo?" Caio perguntou novamente, sua testa franzida com preocupação genuína.
Eu olhei para cima, encontrando seus olhos escuros e sérios. Balancei a cabeça, conseguindo um pequeno sorriso aquoso. "Estou bem."
Do outro lado da sala, Breno bufou em desdém. "O que você está fazendo, Caio? Ela é minha futura esposa. Por que você se importa?"
Sr. Harrison lançou a Breno um olhar que poderia talhar leite, mas não disse nada. "O Sr. Monteiro está esperando", ele anunciou para a sala em geral.
Breno passou por mim, dando um empurrão deliberado no meu ombro. "Não se esqueça do que eu disse", ele murmurou, um pequeno sorriso presunçoso brincando em seus lábios. Ele já se imaginava como CEO, o mestre do universo.
Seu triunfo, no entanto, foi de curta duração.
Todos nós nos reunimos na sala de estar principal. Fernando, apoiado em sua bengala, dirigiu-se a uma pequena plataforma elevada. Seu cabelo era branco, mas sua presença era tão formidável como sempre. Ele pegou minha mão, seu aperto surpreendentemente firme, e sorriu.
"Hoje é um dia de alegria", ele anunciou, sua voz ressoando pela sala silenciosa. "Minha querida Fé acaba de completar vinte e dois anos. Conforme o acordo que fiz com seu falecido pai, é hora de ela escolher um marido da família Monteiro."
Ele fez uma pausa, deixando o drama aumentar. "Após o casamento, transferirei oitenta por cento dos meus bens pessoais e todas as minhas ações de controle na Inovações Monteiro para o feliz casal."
Sons de espanto ecoaram pela sala. A riqueza de Fernando Monteiro era lendária. Oitenta por cento era o resgate de um rei, um império.
"Desejo que todos vocês testemunhem a felicidade deles", concluiu Fernando.
Breno estufou o peito e deu um passo confiante à frente, pronto para reivindicar seu prêmio.
Mas Fernando ergueu a mão, parando-o. Ele se virou, seu olhar passando por Breno e pousando em seu neto mais velho.
"Caio", disse ele, sua voz soando com orgulho. "Venha aqui."
Caio, que havia trocado para um terno ainda mais elegante, deu um passo à frente. Sob os lustres brilhantes, ele não parecia em nada com o recluso doentio dos rumores populares. Ele parecia poderoso. Ele segurava um buquê de rosas brancas.
Ele subiu na plataforma, seus olhos encontrando os meus.
"Fé", disse ele, sua voz suave, mas clara. "Você está pronta?"
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