Humanamente tua
img img Humanamente tua img Capítulo 2 Os Olhos Dourados
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Capítulo 6 A Primeira Ameaça img
Capítulo 7 A Mordida img
Capítulo 8 Despertar img
Capítulo 9 A Verdade img
Capítulo 10 O Vínculo img
Capítulo 11 Treinamento e Regras img
Capítulo 12 Isca de Engenharia img
Capítulo 13 O Baú Fechado img
Capítulo 14 A Audiência de Lunara img
Capítulo 15 Incêndio img
Capítulo 16 O Juramento de Lunara img
Capítulo 17 O Lobo img
Capítulo 18 Um Traidor Sob a Lua img
Capítulo 19 Noite sem Lua img
Capítulo 20 Sob a Chuva img
Capítulo 21 Rumo à Capital img
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Capítulo 2 Os Olhos Dourados

A música vibrava no chão como uma segunda pulsação. Na sala comum do dormitório onde a festa acontecera, as luzes penduradas lançavam brilhos suaves nos copos de plástico que todos carregavam. O som da música, as risadas e os corpos se moviam fora de ritmo. Selena permanecera encostada na parede, com as costas apoiadas nos tijolos, uma limonada sem álcool nas mãos e a certeza de que partiria antes da meia-noite.

"Você não precisa ficar se não quiser", disse Daniela, sua colega de quarto, gritando com ela por cima do reggaeton. "Mas você prometeu pelo menos por um tempo."

"Um tempo", repetiu Selena, e sorriu para que Daniela parasse de se preocupar.

Ela tentou se concentrar nos detalhes que a acalmavam: as guirlandas de papel, a mesa de lanches, o garoto fazendo uma apresentação de dança.

Até que o ar mudou.

Era uma sensação tênue, mas distinta, como uma brisa entrando em um quarto que estava fechado há algum tempo. Um cheiro estranho pairava pela sala, cortando o aroma adocicado das bebidas. Alguns se viraram naquela direção por puro instinto. A música continuou, mas o som das vozes parou.

Eles entraram juntos.

Eram os trigêmeos Blackwell entrando pela porta. Cada um tinha uma garota no braço, mas pareciam estar sozinhos.

"Ótimo", murmurou Daniela, seu entusiasmo se misturando a um suspiro. "Agora a festa começou de verdade."

Selena tentou se encolher para que não fossem vistos. Ela levou o copo aos lábios sem beber.

Então aconteceu.

Adrian, que estava inclinado para a frente, ouvindo alguém sussurrar algo em seu ouvido, parou. Apenas um passo, mas o suficiente para tensionar seus ombros. Luciano virou a cabeça ligeiramente, como um animal captando um leve movimento. Elías piscou uma vez, lentamente, e seu olhar se ergueu acima da multidão, como se procurasse algo no firmamento.

O aroma de baunilha os alcançou.

Selena não sabia que seu cheiro era aquele. Mas, num instante, a presença dela os fez sentir um nome. E os três, ao mesmo tempo, se viraram para ela.

Os presentes se afastaram e alguém a cutucou com o cotovelo. O copo de Selena bateu na parede e a limonada espirrou em suas mãos. Ela congelou, com o coração disparado.

"Não desmaie", disse Daniela, brincando.

Luciano foi o primeiro a se aproximar, arrastando descuidadamente seu companheiro. Ele cumprimentava aqueles que via em seu caminho de uma maneira peculiar. Elías o seguiu um pouco mais atrás, com passos silenciosos e firmes. Adrián permaneceu no centro enquanto todos se afastavam.

"Vocês querem ir embora?", perguntou Daniela, bastante séria.

Selena balançou a cabeça, com a voz trêmula.

"Eu me sinto bem."

Os trigêmeos chegaram à mesa, bem perto de Selena. Luciano soltou seu parceiro e pegou um biscoito. Adrian ergueu os olhos e a encarou.

Selena sentiu o estômago revirar e o mundo se tornar distante. Houve um segundo em que ela pensou que eles poderiam se aproximar, dizer alguma coisa.

Luciano chegou primeiro.

"Eu não mordo. Bem, às vezes", ele explodiu, rindo.

A garota que já segurava sua mão a soltou com um olhar de irritação. Mas sua atenção estava em Selena desde que ele chegou.

"Qual é o seu nome?", perguntou ele sem invadir o espaço dela.

"Selena", disse ela.

"Luciano. Esse é Elias", ela indicou com o queixo. "E quem está fingindo não olhar para nós é Adrian."

Selena não conseguiu evitar olhar para ele, e ele também estava olhando para ela. "Quer beber alguma coisa?", interveio Elías.

"Não, obrigado", respondeu ele, agarrando o copo vazio.

"Você não está bem", afirmou Luciano. "Suas mãos estão tremendo."

Selena colocou o copo na mesa.

Adrián se aproximou e ficou ao lado de Selena. Ela sentiu uma cócega na nuca, a mesma eletricidade da aula de literatura, só que mais intensa. Deu-lhe sede.

"Oi", cumprimentou ele.

Selena permaneceu em silêncio e Daniela interveio para ajudá-la.

"Somos alunos do primeiro semestre. Selena está estudando Literatura e eu, Arquitetura."

"Muito interessante", comentou Elías com sinceridade, olhando para Daniela e sorrindo.

Adrián não tirava os olhos de Selena.

"Tem cheiro de..." começou Adrián.

Luciano riu um pouco.

"Baunilha."

Selena engoliu em seco; seu perfume era o mais barato. Vendiam no supermercado. Ele sabia que sentia cheiro de baunilha; ainda assim, hesitou.

"Dance comigo", pediu Luciano.

"Não", respondeu Selena.

Luciano ergueu uma sobrancelha, encantado.

"Eu gosto."

"Deixe-a", exigiu Elías.

Luciano respondeu com uma careta, dando um passo para trás.

"Eu só queria ser legal com ela."

Adrian não sorriu; ele virou a cabeça como se estivesse ouvindo algo que ninguém mais estava ouvindo. Um segundo depois, houve um vazio.

Ele a conhecia.

Ele a conhecia de uma forma que não conseguia explicar.

"Não", Adrian balançou a cabeça.

Luciano olhou para ele, rindo. Elías voltou sua atenção para a porta, alerta para algo se aproximando.

"Você não deveria estar aqui", disse ele finalmente.

Selena piscou, sem entender.

"Você não deveria estar conosco."

Não em tom ameaçador, mas como um aviso. - Selena respondeu sem medo.

"Não estou com você", corrigiu ele. "Estou no meu muro."

Luciano queria aplaudir; estava encantado com Selena. Elías olhou para Adrián, esperando que ele escolhesse as palavras com cuidado. Adrián respirou fundo, revelando sua fraqueza por ela.

"Vamos", disse ele, olhando para os irmãos.

"Vamos para o seu muro?", perguntou Luciano, zombeteiramente.

"Luciano", alertou Elías.

Adrián se virou sem responder; eles avançaram e saíram da sala.

"Você está bem?" A curiosidade de Daniela despertou, pois ela havia se distraído com um garoto de sua turma.

"Sim", ela mal conseguiu dizer.

A música aumentou e todos continuaram dançando.

Ela não entendia o que havia acontecido. Só sabia que, quando o visse novamente, o mundo pareceria se curvar diante dele.

            
            

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