Humanamente tua
img img Humanamente tua img Capítulo 3 Rejeição
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Capítulo 6 A Primeira Ameaça img
Capítulo 7 A Mordida img
Capítulo 8 Despertar img
Capítulo 9 A Verdade img
Capítulo 10 O Vínculo img
Capítulo 11 Treinamento e Regras img
Capítulo 12 Isca de Engenharia img
Capítulo 13 O Baú Fechado img
Capítulo 14 A Audiência de Lunara img
Capítulo 15 Incêndio img
Capítulo 16 O Juramento de Lunara img
Capítulo 17 O Lobo img
Capítulo 18 Um Traidor Sob a Lua img
Capítulo 19 Noite sem Lua img
Capítulo 20 Sob a Chuva img
Capítulo 21 Rumo à Capital img
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Capítulo 3 Rejeição

A festa havia perdido o brilho, suor e cansaço eram perceptíveis em alguns rostos. Enquanto isso, outro grupo continuava se divertindo como no início. O salão comunal estava cheio de gente e fumaça artificial quando Selena decidiu que precisava sair para tomar um ar fresco. Daniela queria se juntar a ela, mas não queria. Ela balançou a cabeça e saiu sozinha para o pátio, um pouco pálida.

Lá fora, o ar estava frio e úmido; alguns pedaços de copos e pratos descuidados jaziam sobre as mesas. A música estava mais baixa e ela se sentiu aliviada. Ela se apoiou no corrimão e deixou a brisa secar o suor do pescoço. Ela afastou o cabelo e fechou os olhos, aproveitando a noite. Ela estimou que cerca de quinze minutos seriam suficientes para se sentir confortável para entrar novamente.

Não demorou um minuto.

O portão do pátio se abriu e os três entraram, como se a noite tivesse acabado de começar. Luciano com seu sorriso travesso, Elías com sua calma característica e, entre eles, Adrián, cuja mera presença o fazia passar sem precisar dizer nada.

"Você está fugindo? O que está fazendo aqui sozinha?", perguntou Luciano, aproximando-se o suficiente para que seu perfume roçasse sua pele.

"Estou apenas tomando um ar fresco, não estou fugindo de nada nem de ninguém", respondeu Selena, ainda segurando o corrimão.

Elías permaneceu atento, observando a natureza, e Adrián parou na frente dela. Ele mal a olhou sem dizer nada, e ela sentiu o espaço entre eles diminuir. No entanto, ele se manteve firme, sem se mover.

Selena ficou nervosa, engoliu em seco e evitou o olhar dele. Sentindo-se inquieta e segura ao mesmo tempo. Uma contradição muito estranha para ela.

"Você não deveria estar conosco", repetiu Adrián. "Acho que já te disse isso."

Selena ergueu o queixo.

"E, no entanto, você está aqui. Eu cheguei primeiro."

Luciano soltou uma risada suave. Elias olhou para baixo ao vê-la.

Adrian se aproximou um pouco mais e inspirou.

"Companheiro", disse ele. A palavra não era para ela, mas para si mesmo.

Selena franziu a testa.

"O que você quer dizer com isso?", perguntou ela.

Luciano estalou os dedos. Elias tentou se colocar entre eles para evitar um confronto.

Adrian sustentou o olhar dela e, por um momento, Selena viu sua hesitação.

"Significa que existe um vínculo entre nós. Mas é um erro. Não pode ser. Nada pode existir entre nós."

"Um erro? Eu não sou um erro."

"Claro, você mal é humano. Você não pode ser meu Companheiro. Não entende?"

"Uma piada do universo", brincou Luciano.

Elias cerrou os dentes.

Adrian não tirava os olhos de Selena.

"Te machucaria estar perto de mim, é outro mundo", acrescentou Adrián.

A raiva tomou conta de Selena.

"Você não decide a que mundo eu pertenço", gritou ela para ele.

"O destino decide, mas desta vez ela estava errada."

Selena se lembrou de todas as vezes que fora ignorada na vida.

O silêncio durou alguns minutos. Adrián respirou pelo nariz como se o cheiro dela fosse uma provocação.

"Você não pode sair com a gente, não se misture."

"Você não pode me proibir de usar as áreas comuns."

"É só um conselho. Recomendo que você ouça."

"Ok, não se preocupe, não vou me misturar com você."

Ela caminhou entre os três, roçando o braço de Adrián sem nem olhar para ele. Sem pedir permissão ou desculpas. Ela chegou à porta do pátio e voltou para a festa.

Luciano riu baixinho.

"Ela é um amor", comentou, saboreando a si mesmo.

"Não é para você", disse Adrian secamente.

"Não para você, mano", ele retrucou, procurando briga.

Selena atravessou a sala procurando a saída. Daniela a alcançou perto da escada.

"O que aconteceu? Aonde você vai? Ainda é cedo."

"Nada, vou para casa. Não quero ficar aqui."

"Ok, eu te acompanho."

"Não, fique, te mando uma mensagem quando chegar, não se preocupe."

Daniela pensou por um momento, mas não queria contradizê-la.

Correu em direção ao corredor do dormitório. Teve a impressão de que alguém a observava e fechou rapidamente a porta do quarto, trancando-a. Encostou-se na madeira e respirou fundo quantas vezes fossem necessárias para se acalmar.

Ela estava chateada; não sentia vontade de chorar.

Lavou o rosto com água fria e ficou em frente ao espelho. Olhou para si mesma e se lembrou das palavras de Adrian.

"Eu não sou um erro."

Ela apagou a luz e se deitou, e como na noite anterior, sonhou com a floresta. O uivo e a luz pareciam mais próximos, como se a estivessem observando. Ela caminhou descalça sobre a terra fria e úmida e observou seus pés afundarem. Cheirava a chuva e baunilha, e o vento chicoteava seus cabelos soltos.

"Você não é para nós, você não pertence a este lugar", disse uma voz ao longe.

"Eu não sou, eu não disse isso. Chega disso."

No momento em que ela negou, a imagem se desfez e ela acordou.

*

Na festa, os trigêmeos ainda estavam no pátio.

Luciano verificava suas mensagens sem muito interesse. Elías caminhava, chutando copos no chão. Adrián se inclinou exatamente onde Selena estivera segurando suas mãos alguns minutos antes.

"Você foi cruel com ela", reclamou Elías.

"Fui claro, não cruel", respondeu Adrián.

-Às vezes, dizer as coisas dessa maneira é cruel.

A noite continuou como se nada tivesse acontecido. Selena, em sua cama, abriu os olhos, sentindo um batimento cardíaco estranho que não parecia ser o seu.

Ela agarrou o lençol, sentindo-se mal pela forma como havia sido rejeitada.

E sem saber por quê, decidiu recomeçar, porque por trás daquela rejeição havia medo, ela podia senti-lo. Era só o começo.

            
            

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