O Marido Que Envenenou Nosso Amor
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Elisa Monteiro

Ele não me seguiu.

Eu saí daquele quarto de hospital, saí do próprio hospital, e ele não me seguiu. Fiquei na calçada molhada de chuva, as luzes da cidade borradas através das minhas lágrimas não derramadas, e esperei. Uma parte de mim, uma parte tola e masoquista, ainda esperava ouvir seus passos, sentir sua mão no meu braço, vê-lo me escolher, apenas uma vez.

Mas o único som era o tráfego e a chuva. Ele ficou com ela. Claro que ficou.

No dia seguinte, ele mandou um carro me buscar na cobertura. O lugar parecia estranho, contaminado. Cada superfície parecia guardar uma memória de seu toque, um fantasma de suas mentiras. Eu andei pelos cômodos opulentos, um fantasma em minha própria casa.

Ele me encontrou na biblioteca, olhando para a coleção de primeiras edições que ele havia "resgatado" para mim. Os livros do meu pai.

"Elisa", disse ele suavemente, sua voz cheia de um remorso fabricado. Ele segurava uma caixa de veludo. "Eu sei que falhei com você. Eu estava errado. Estive pensando no que você disse... sobre minhas prioridades."

Ele abriu a caixa. Aninhado dentro, sobre uma cama de seda preta, havia um colar. Não era um colar qualquer. Era o Medalhão Monteiro, uma peça de esmeralda inestimável e única que estava na minha família há mais de um século. Tinha sido da minha mãe. Deveria ser meu. Foi vendido em leilão após a morte dos meus pais, e eu pensei que estava perdido para sempre.

Minha respiração ficou presa. Um desejo cru e visceral me dominou. Era o último pedaço tangível da minha mãe que eu tinha. "Onde você conseguiu?", sussurrei, meus olhos fixos na pedra verde profunda.

"Eu venho rastreando há anos", disse ele, sua voz um murmúrio baixo e sedutor. "Finalmente o adquiri na semana passada. Eu queria te dar depois que nosso próximo filho nascesse. Uma nova herança de família para uma nova geração de Monteiros." Ele estendeu para mim. "Mas quero que você o tenha agora. Como uma promessa. De agora em diante, você vem primeiro. Apenas você."

Era uma bela mentira, envolta em uma bela verdade. Ele conhecia minhas fraquezas. Ele sabia que este medalhão era uma linha direta para o meu coração.

Antes que eu pudesse pegá-lo, as portas da biblioteca se abriram. Cíntia entrou, usando um dos meus robes de seda, o medalhão preso em seu pescoço.

Ela fez uma pequena careta de desculpa, sua mão tremulando na esmeralda em sua garganta. "Oh, querido, me desculpe. Eu o vi na sua cômoda e tive que experimentar. É requintado." Ela sorriu docemente para mim. "Bernardo me contou tudo sobre ele. Uma nova herança para o novo herdeiro Monteiro." Ela deu um tapinha na barriga de forma pontual. "Prometo que cuidarei bem dele para o nosso filho."

Fúria, branca e cegante, surgiu em mim. Eu me lancei sobre ela, minhas mãos estendidas, meu único pensamento era arrancar aquele símbolo do legado da minha família de seu pescoço indigno.

"Não toque nela!", Bernardo rugiu, colocando-se entre nós. Ele agarrou meus pulsos, seu aperto machucando.

Cíntia, sempre a atriz, tropeçou para trás com um suspiro teatral, sua mão voando para a barriga. "Oh! O bebê!" Ela tropeçou na beirada do tapete persa, um movimento intencional e desajeitado, e caiu com força. A caixa de veludo voou da mão de Bernardo, e o medalhão sobressalente que ele claramente havia mandado fazer - aquele que ele estava prestes a me dar - deslizou pelo chão. Cíntia, em sua queda falsa, aterrissou diretamente sobre ele.

Houve um estalo doentio.

Todos nós congelamos. Lentamente, Cíntia se levantou. Debaixo dela, a magnífica esmeralda estava estilhaçada, a armação de ouro torcida e quebrada. O legado da minha mãe, esmagado sob o peso de sua amante.

Um som rasgou minha garganta, um grito primal de perda e fúria. Eu voei para cima dela, minhas unhas buscando seu rosto mentiroso. "Você fez isso de propósito!"

"Elisa, pare!", Bernardo berrou. Ele me empurrou para trás com tanta força que tropecei e bati na beirada de uma estante. A dor explodiu no meu ombro. Ele nem olhou para mim. Ele já estava no chão, embalando uma Cíntia soluçante.

"Você está machucada? O bebê está bem?", ele murmurou, sua voz frenética de preocupação.

Eu observei, minha respiração presa no peito, enquanto ele a ajudava a se levantar, suas mãos gentilmente apalpando sua barriga, seu rosto uma máscara de terror. O mesmo terror que ele nunca demonstrou por mim ou por qualquer um dos dez filhos que eu perdi.

"Está quebrado", sussurrei, olhando para a joia arruinada no chão. "Ela quebrou."

Bernardo finalmente se virou para mim, seus olhos frios como gelo. "É um objeto, Elisa. Pode ser substituído. Cíntia e nosso filho não podem." Ele apontou um dedo para mim, sua voz baixa e perigosa. "Você tem estado instável e irracional desde o seu... episódio. Eu fui paciente, mas este ataque é a gota d'água. Você é um perigo para Cíntia e meu filho. Até que você possa aprender a se controlar, você não sairá do seu quarto."

Ele meio que carregou uma Cíntia ainda soluçante para fora da biblioteca, me deixando sozinha com os restos estilhaçados do meu passado e a clareza horripilante do meu presente.

Ele não estava apenas escolhendo ela. Ele estava me punindo por lamentar, por reagir, por não aceitar silenciosamente meu papel como a esposa quebrada e estéril. Ele estava me aprisionando.

Mais tarde naquela noite, dois guardas que ele contratou estavam do lado de fora da porta do meu quarto. Eu era uma prisioneira em minha própria casa. Quando me recusei a comer o jantar que uma empregada trouxe, Bernardo veio pessoalmente.

"Você está sendo infantil", disse ele, seu tom de desapontamento cansado.

"E você é um monstro", retruquei.

Sua mandíbula se contraiu. "Eu sei que você está sofrendo, mas não posso permitir que você machuque Cíntia. Não vou tolerar." Ele gesticulou para os guardas do lado de fora. "Eles permanecerão até que eu esteja satisfeito de que você não é mais uma ameaça."

Ele se virou para sair, mas parou na porta. "Sabe", disse ele, sua voz suavizando para aquele ronronar familiar e manipulador, "eu me lembro de quando você tinha medo do escuro quando criança. Seus pais me disseram que tinham que deixar uma luz acesa para você até a adolescência. Você tinha pavor de ficar sozinha em um quarto trancado."

Meu sangue gelou. Ele estava certo. Era uma fobia profunda e primal que eu tinha, decorrente de um incidente na infância em que fui acidentalmente trancada em um armário por horas.

Ele sorriu, uma curva lenta e cruel de seus lábios. "Boa noite, Elisa. Tente dormir um pouco."

Ele fechou a porta. Ouvi o som distinto e final de uma chave girando na fechadura. E então, o disjuntor principal foi desligado. A cobertura inteira mergulhou em uma escuridão absoluta e sufocante.

Minha respiração ficou presa no peito. As paredes pareciam se fechar, o ar ficando denso e pesado. O terror primal e infantil que eu pensei ter conquistado subiu pela minha garganta. Ele sabia. Ele sabia que este era o meu medo mais profundo. E ele estava usando isso para me quebrar.

Eu estava sozinha. No escuro. Trancada. E pela primeira vez, entendi que Bernardo Castilho não estava apenas contente em me deixar sofrer. Ele pretendia participar ativamente do meu tormento.

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