O Sacrifício de Seis Anos da Esposa Invisível
img img O Sacrifício de Seis Anos da Esposa Invisível img Capítulo 4
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Alina Matos

Gláucia olhou do rosto severo de Heitor para o meu, sua expressão cheia de uma súplica cansada. "Alina, pelo bem do Lucas. Ele precisa de estabilidade. Você prometeu..."

"Minha promessa está cumprida, Gláucia", eu disse, minha voz firme. "Seis anos. Eu te dei seis anos."

Ela se encolheu, a culpa estampada em seu rosto. Ela conhecia os termos do nosso acordo. Ela sabia que eu havia cumprido minha parte do trato. "Eu sei, querida, mas a Helena... aquela mulher não é uma figura materna adequada. Heitor está cego."

A mandíbula de Heitor se contraiu com a menção de Helena. "Isso não tem nada a ver com a Helena. Isso é sobre o comportamento irracional da Alina. Ela destruiu milhares de reais em propriedade e aterrorizou meu filho."

Permaneci em silêncio, deixando-o acreditar em sua própria narrativa. Ele achava que isso era sobre um chilique. Ele achava que era sobre dinheiro. Ele estava ali, tão confiante, tão certo de que a presença de Gláucia seria suficiente para me fazer voltar à submissão. Ele não tinha ideia de que eu já havia me desligado emocionalmente deste casamento, desta casa, desta vida. Ele estava discutindo com um fantasma.

Meu olhar se desviou para o gramado onde Buddy perseguia alegremente uma borboleta. Naquele momento, ele era a única coisa neste mundo que importava. A única parte desta vida que era verdadeiramente minha.

De repente, um ganido agudo de dor cortou o ar.

Minha cabeça se virou bruscamente.

Lucas havia saído de casa, com uma pequena pazinha de jardinagem na mão. Ele estava parado sobre Buddy, que choramingava e tentava se arrastar para longe. Lucas ergueu a pazinha e a desceu novamente, com força, na pata traseira de Buddy.

"Cachorro mau!", Lucas berrou, seu rosto contorcido em uma raiva aterrorizante. "Você ama ela! Você é um cachorro mau!"

Um rugido primal de fúria explodiu do meu peito. "BUDDY!"

Voei pelo gramado, movendo-me mais rápido do que nunca em minha vida. Empurrei Lucas para longe do meu cachorro, fazendo-o tropeçar para trás na grama. Buddy gemia, sua pata dobrada em um ângulo antinatural.

"Qual é o seu problema?", gritei, minha voz rouca de angústia enquanto me ajoelhava ao lado de Buddy.

"Ele mordeu a Helena!", Lucas choramingou do chão. "O Buddy é um cachorro mau! Ele precisa ser punido!"

Heitor correu, me empurrando para o lado para chegar ao filho. "Você está bem, Lucas? Ela te machucou?" Ele me fuzilou com o olhar, seus olhos frios como gelo. "Primeiro minha propriedade, agora meu filho. Você está fora de controle."

"Ele atacou meu cachorro!", gritei, embalando a cabeça de Buddy em meu colo. "Olhe para a pata dele! Está quebrada!"

"Ele não é seu filho", cuspi, as palavras com gosto de veneno. "Você perdeu esse direito."

Buddy lambeu minha mão, seu rabo dando uma batida fraca e lamentável. Seus olhos estavam cheios de dor e confusão, mas também de uma confiança inabalável. Em mim.

"Ele me arranhou", disse Helena, aparecendo de repente na porta. Ela ergueu o braço, exibindo uma linha vermelha tênue em sua pele, tão superficial que mal sangrava. Ela olhou para Buddy com um olhar de puro desprezo. "Ele simplesmente avançou em mim sem motivo."

Era mentira. Buddy era a criatura mais gentil que eu já conheci. Ele não machucaria uma mosca.

O rosto de Heitor endureceu. Ele olhou do "ferimento" de Helena para o meu cachorro trêmulo. Sua decisão estava tomada.

"Esse animal é uma praga", ele declarou. "Vou chamar o controle de animais. Eles saberão o que fazer com um cachorro violento."

Meu sangue gelou. "Não", sussurrei. "Heitor, por favor. Você não pode. Ele é tudo o que me resta."

"Ele é um perigo para o meu filho e para a Helena", disse Heitor, sua voz desprovida de qualquer emoção. Ele pegou o celular. A equipe de segurança do nosso condomínio fechado também cuidava de questões com animais. Eram conhecidos por sua rapidez.

Levantei-me de um salto, colocando-me entre Heitor e meu cachorro. "Eu vou levá-lo comigo. Ele é meu cachorro. Você não tem direito."

Antes que ele pudesse responder, dois seguranças em uniformes impecáveis surgiram do lado da casa, claramente chamados por Heitor.

"Sr. Bastos. Recebemos sua chamada sobre um animal perigoso."

Heitor apontou para Buddy. "Aquele ali. Atacou uma convidada e é uma ameaça. Levem-no."

"Não!", gritei, envolvendo meus braços ao redor do pescoço de Buddy. "Vocês não podem!"

Os guardas hesitaram, olhando de mim para Heitor.

Um deles deu um passo à frente, com uma arma de tranquilizantes na mão. "Senhora, por favor, afaste-se do animal."

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Olhei para Heitor, meu coração se partindo em um milhão de pedaços. Ele estava ali, impassível, observando enquanto eles se preparavam para levar o último pedaço da minha alma. Ele estava permitindo que isso acontecesse. Ele era cúmplice.

E então, o pior aconteceu. Um guarda se moveu para pegar a coleira de Buddy. Em um surto de dor e medo, Buddy rosnou, seus dentes mal roçando a mão enluvada do homem.

Essa foi toda a justificativa de que precisavam.

O segundo guarda não hesitou. Ele não usou o tranquilizante. Ele sacou sua pistola de serviço.

O som do tiro ecoou pelo ar puro da manhã.

Buddy ficou mole em meus braços.

Um silêncio denso e escuro desceu. Olhei para a forma imóvel do meu melhor amigo, uma mancha carmesim se espalhando por seu pelo dourado. Minha mente ficou em branco. O mundo se dissolveu em um borrão sem sentido de grama verde e céu azul.

Eu o segurei, balançando para frente e para trás, um som agudo e desumano rasgando minha garganta.

"Alina...", a voz de Gláucia era um sussurro horrorizado. Ela deu um passo em minha direção, sua mão estendida. Nela, ela segurava uma pilha de papéis. Um acordo de divórcio. Ela o havia trazido consigo. Ela sabia que este era o fim, mesmo antes de mim.

Heitor olhou para a cena, um lampejo de algo - era choque? arrependimento? - em seus olhos. Mas era muito pouco, muito tarde.

"Um divórcio?", ele perguntou, sua voz rouca de incredulidade, como se a ideia nunca lhe tivesse ocorrido. "Você quer o divórcio por causa de um cachorro?"

Lentamente, levantei a cabeça, meus olhos se fixando nos dele. As lágrimas haviam parado. Não havia mais nada dentro de mim além de um deserto frio e desolado.

"Sim", eu disse, minha voz vazia e oca. "Eu quero o divórcio. Agora."

                         

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