Um Coração de Mãe, Uma Mentira Cruel
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Capítulo 4

O ar no quarto ficou denso e parado. Gustavo me encarou, seu rosto uma mistura de incredulidade e desprezo. Então, ele soltou uma risada curta e sem humor.

"Não os quer? Alex, não seja ridícula." Ele balançou a cabeça, como se estivesse lidando com uma criança birrenta. "Eu sei do que se trata. Você está com medo que a Liliana vá te substituir. Você está se sentindo insegura."

Ele se inclinou mais perto, sua voz baixando para um sussurro conspiratório. "Você não precisa. Você é a Sra. Gustavo Monteiro. Essa é a sua posição. Liliana é apenas... uma amiga."

Suas garantias eram como cinzas na minha boca.

"Agora", ele disse, levantando-se e ajeitando seu terno perfeito. "O aniversário das crianças é na próxima semana. Preciso que você comece a planejar a festa. Não poupe despesas. Precisa ser perfeita."

Minha mente voltou ao banco, ao fundo de investimento que eu tentei criar para eles. Um presente de aniversário de sua mãe amorosa. Uma mãe que legalmente não existia. Um gosto amargo encheu minha boca.

"Ah", Gustavo acrescentou casualmente, enquanto caminhava para a porta. "É o aniversário da Liliana no mesmo dia. Vamos comemorar todos juntos. Será um grande evento."

Minhas mãos se fecharam em punhos ao meu lado. Senti meu corpo inteiro começar a tremer com uma raiva tão profunda que quase me sufocou.

No mesmo dia. Claro que era no mesmo dia.

Lembrei-me de estar no hospital, implorando aos médicos para induzir o parto. Eu estava duas semanas atrasada, inchada e com dor constante. Mas Gustavo insistiu que eu esperasse. "Deixe-os vir quando estiverem prontos, Alex", ele dissera, acariciando meu cabelo. "É mais natural."

Ele não estava esperando que eles estivessem prontos. Ele estava esperando pelo aniversário de Liliana. Ele me fez sofrer por dias, apenas para que seus filhos, os filhos dela, compartilhassem o aniversário com a mulher que ele realmente amava.

A crueldade pura e calculada daquilo era de tirar o fôlego. Senti uma risada histérica borbulhar dentro de mim, mas a engoli. Era tudo tão horrivelmente, monstruosamente perfeito.

O dia da festa chegou como uma sentença de morte. Eu não podia escapar. Gustavo insistiu que eu fizesse o papel da anfitriã feliz, a senhora da mansão.

O jardim foi transformado em um cenário de conto de fadas. Mas o conto de fadas não era para mim. Liliana era a rainha desta corte. Ela chegou em um vestido feito sob medida que brilhava sob as luzes da festa, um colar de diamantes que eu sabia que custava mais do que toda a minha existência antes de Gustavo, cintilando em sua garganta.

Ela não chegou sozinha. Leonardo e Laura a ladeavam, cada um segurando uma de suas mãos, olhando para ela com olhos de adoração.

Os convidados, todos parte do círculo da alta sociedade de Gustavo, zumbiam com sussurros.

"Aquela é ela, Liliana Prado. O primeiro amor dele."

"Ela é a mãe de verdade, sabe. A esposa é apenas uma barriga de aluguel."

"Olhe para eles juntos. Parecem a família perfeita. A esposa é apenas... um estorvo."

As palavras flutuaram em minha direção, afiadas e dolorosas. Virei-me, escapando para a quietude da varanda com vista para o lago. O ar fresco da noite pouco fez para acalmar o fogo em minhas veias.

"É uma festa linda", disse uma voz suave atrás de mim.

Liliana.

Ela deslizou até parar ao meu lado, um sorriso triunfante no rosto. "Você fez um trabalho maravilhoso. Você é uma ótima... governanta."

Olhei para a água, minha expressão em branco. "Se me der licença."

"Oh, não vá", disse ela, sua voz baixando. "Eu queria te agradecer. Por cuidar tão bem dos meus filhos. E do meu homem."

Ela se inclinou, seu perfume enjoativo e doce. "Mas seus serviços não são mais necessários. Eu voltei agora. E não vou deixar nada nem ninguém ficar no meu caminho."

Finalmente olhei para ela, meus olhos frios. "Ele é todo seu."

Seu sorriso vacilou, surpresa com minha falta de luta. Então seus olhos se estreitaram com raiva. Ela arrancou a pulseira de diamantes de seu pulso, um presente que eu vira Gustavo dar a ela em seu blog secreto. "Isso foi um presente da minha mãe", ela sibilou. "Mas você... você não é digna nem de olhar para ela."

Com um floreio dramático, ela jogou a pulseira. Ela descreveu um arco no ar e caiu na água escura com um leve respingo.

Então ela gritou. "Socorro! Alguém me ajude! Ela jogou minha pulseira no lago!"

Ela agarrou o pulso nu, lágrimas gordas rolando por suas bochechas perfeitas. "A pulseira da minha mãe! Ela a jogou no lago!"

Gustavo estava lá em um instante, seu rosto uma nuvem de tempestade. "Alex! O que você fez?"

"Eu não fiz nada", eu disse, minha voz calma. "Ela mesma a jogou."

Gustavo hesitou. Por uma fração de segundo, vi um lampejo de dúvida em seus olhos. Ele me conhecia. Ele sabia que eu não era capaz de um ato tão mesquinho e dramático.

Mas então Liliana soltou um soluço de cortar o coração. "Gustavo, era a pulseira que minha mãe me deu antes de morrer! Aquela que você mandou consertar para mim! Significava tudo para mim!"

O rosto de Gustavo mudou. Passou de raivoso para uma fúria fria e dura.

Eu sabia sobre aquela pulseira. Não era de sua mãe. Era uma bugiganga barata que ele comprara para ela quando eram adolescentes. Mas era um símbolo de seu "laço inquebrável". Um símbolo de sua devoção infinita.

"Há câmeras de segurança por toda a varanda", eu disse, minha voz nivelada. "Vamos apenas olhar as filmagens."

Vi um flash de pânico nos olhos de Liliana. Gustavo parou, seu olhar mudando de mim para ela. Ele estava começando a ver. Ele estava começando a questionar.

Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, um corpo pequeno se lançou para frente, parando protetoramente na frente de uma Liliana soluçante.

Era Leonardo. Laura estava logo atrás dele.

"Ela está mentindo!", Leonardo gritou, apontando um dedo trêmulo para mim. "Eu vi! Ela arrancou a pulseira do pulso da Liliana e a jogou na água! Ela é um monstro ciumento!"

                         

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