Ajoelhei-me para verificar o suporte em seu tornozelo, uma rotina que eu havia feito mil vezes. Enquanto ajustava as tiras, as costas da minha mão roçaram na borda afiada da mesa de centro, arranhando a pele. Uma fina linha de sangue surgiu. Foi um ferimento pequeno e estúpido, mas ele nem percebeu. Seu foco estava inteiramente em seu próprio desconforto.
Terminei com o suporte e me levantei. Ele se inclinou em mim, descansando a cabeça no meu ombro. Seu corpo estava tenso de dor.
"Apenas massageie minhas têmporas", ele murmurou. "Como você costumava fazer."
Fiz o que ele pediu, meus dedos se movendo em círculos lentos e familiares. Ele suspirou, seu corpo relaxando contra o meu. Por um momento, foi como nos velhos tempos. Por um momento, eu era seu conforto, seu lugar seguro.
Mas o sentimento se foi. Eu não desejava mais essa proximidade. Eu não sentia nada além de uma dor oca.
Ele adormeceu, sua respiração se acalmando. Cuidadosamente, eu o ajeitei contra as almofadas do sofá, puxando um cobertor sobre ele.
Então, sem um segundo olhar, saí do quarto.
No dia seguinte, ele parecia ter esquecido todo o incidente. Ele me encontrou guardando as últimas coisas em uma mala.
"O que você está fazendo?", ele perguntou, uma carranca vincando sua testa.
"Fazendo as malas", eu disse simplesmente.
Ele não pareceu processar a finalidade daquilo. "Ah. Bem, escute, preciso de um favor. A Carla tem uma pequena inauguração de galeria para sua fotografia hoje à noite. Preciso que você venha comigo."
Eu o encarei. "Por quê?"
"Ela acabou de voltar para o país, sabe? Ela não tem muitos amigos aqui ainda. Quero ter certeza de que ela tenha uma boa presença, fazê-la se sentir apoiada." Ele olhou para mim, sua expressão séria. "Significaria muito para mim."
Eu era apenas um adereço. Alguém para preencher um assento e fazer sua ex-namorada parecer popular. A ironia era sufocante.
Mas eu concordei. Uma última noite. Então eu iria embora.
Na galeria, Carla estava em seu elemento. Ela se agarrou ao braço de Caio, um sorriso radiante no rosto enquanto o apresentava a todos. Ele parecia orgulhoso, banhando-se em sua glória refletida. Ele comprou cada uma de suas fotografias, um grande gesto que fez a pequena multidão sussurrar.
Carla se aproximou de mim, uma taça de champanhe na mão. "Viu?", ela ronronou, seus olhos brilhando com malícia. "Ele é meu. Sempre foi meu. Você foi apenas um quebra-galho. Um substituto."
Eu não disse nada. Não havia mais nada a dizer.
De repente, um alarme de incêndio soou, seu grito cortando a conversa educada. Um fio de fumaça saiu de uma sala dos fundos. O pânico explodiu. As pessoas começaram a empurrar em direção à saída.
No caos, alguém me empurrou, e eu torci o tornozelo, uma dor aguda e lancinante subindo pela minha perna. Gritei, tropeçando contra uma parede.
Procurei por Caio. Ele estava a apenas alguns metros de distância. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo.
Então ele se virou e correu, empurrando contra a maré de pessoas, de volta para a galeria.
"Carla!", ele gritou, sua voz rouca de terror. "Carla, onde você está?"
Ele a encontrou encolhida em um canto, tossindo por causa da fumaça. Ele a pegou nos braços e a carregou em direção à saída, seu rosto uma máscara de determinação obstinada.
Ele passou correndo por mim. Ele não me viu caída contra a parede, meu rosto pálido de dor. Ele não me viu de forma alguma.
Enquanto a fumaça engrossava, minha visão começou a embaçar. A dor no meu tornozelo era excruciante. Tentei me levantar, mas a perna não aguentava meu peso. Caí no chão, minha cabeça girando. A última coisa que me lembro foi o som de sirenes distantes.
Acordei em uma cama de hospital. Danilo e Isaac estavam sentados ao meu lado, seus rostos sombrios.
"Ele nem perguntou por você, Amanda", disse Danilo, sua voz baixa e irritada. "Os paramédicos te trouxeram, e nós ligamos para ele. Ele disse que estava ocupado garantindo que a Carla estivesse bem. O vestido impecável dela ficou com uma pequena mancha de fuligem."
Isaac balançou a cabeça em desgosto. "Ele perdeu a cabeça. Este não é o homem que conhecemos."
"Você precisa deixá-lo", disse Danilo, seus olhos suplicantes. "Por favor. Você merece muito melhor."
Olhei para o gesso no meu tornozelo. Uma fratura limpa, o médico disse.
"Eu vou", sussurrei. "Estou indo embora."
A porta do quarto do hospital se abriu. Caio estava lá, seu cabelo desgrenhado, seus olhos selvagens.
"Indo embora?", ele disse, sua voz perigosamente quieta. "Aonde você pensa que vai?"