Armada pelo Bilionário Que Salvei
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Capítulo 3

Ponto de Vista: Helena Bastos

Naquela noite, peguei o voo da madrugada de volta para São Paulo. Não fiz as malas. Apenas fui embora.

No momento em que meu avião pousou, liguei para minha clínica. Disse ao meu contato que meu cliente, Júlio Monteiro, desejava rescindir o contrato mais cedo. Argumentei que suas múltiplas demissões constituíam uma diretriz clara. Era uma desculpa frágil, mas era tudo o que eu tinha.

A pessoa do outro lado ficou em silêncio por um momento longo demais.

- Dra. Bastos... talvez você devesse vir ao escritório assim que puder. Há algo que precisamos discutir.

Um pavor gelado percorreu minha espinha. Isso era mais do que apenas uma rescisão antecipada.

A sensação se intensificou no momento em que entrei na clínica. Colegas que geralmente me cumprimentavam com sorrisos calorosos agora desviavam o olhar, sussurrando pelas minhas costas enquanto eu passava. Até minha mentora, a Dra. Albuquerque, uma mulher que me guiou desde que eu era estagiária, tinha um olhar severo e desapontado quando me chamou para seu escritório.

Meu coração batia forte no peito. Eu sabia, com uma certeza doentia, que isso tinha a ver com Júlio e Camila.

- Helena - disse a Dra. Albuquerque, sua voz desprovida de seu calor habitual. Ela apontou para a tela do computador. - Você pode, por favor, explicar sua relação com o Sr. Monteiro?

- Ele é meu paciente - respondi, minha voz tensa. - É tudo o que ele sempre foi.

Ela suspirou, um som pesado e cansado que fez meu estômago se contrair.

- Então você precisa ver isso.

Ela virou o monitor para mim. Era um e-mail, enviado para a lista de toda a clínica. O assunto fez meu sangue gelar: *Conduta Antiética da Dra. Helena Bastos*.

O e-mail, escrito anonimamente, me acusava de seduzir meu paciente de alto perfil, de usar minha posição para tentar sabotar seu relacionamento com a noiva e de ser uma oportunista destruidora de lares. Anexado havia um arquivo de vídeo.

Com as mãos trêmulas, cliquei para reproduzir.

Era a filmagem da câmera de segurança do corredor do hotel na noite anterior. Sem som. Mostrava-me parada do lado de fora da porta de Júlio e Camila por um longo tempo. Mostrava a porta se abrindo, Camila me esbofeteando e depois me arrastando para dentro. Momentos depois, mostrava-me tropeçando para fora, com a mão pressionada na testa ensanguentada.

Sem contexto, sem som, parecia condenatório. Combinado com a narrativa do e-mail, pintava o quadro de uma mulher ciumenta tentando confrontar seu amante e a noiva dele, apenas para ser legitimamente expulsa.

Camila. Tinha que ser ela.

- Dra. Albuquerque, eu posso explicar... - comecei, minha voz desesperada.

- É tarde demais para explicações, Helena - ela me cortou, seu rosto sombrio. - Este e-mail foi enviado para todas as principais associações de psicologia do país. O vídeo já está circulando online. O estrago está feito.

Ela me disse que, para gerenciar as consequências, a clínica não teve escolha a não ser suspender todos os meus casos enquanto se aguarda uma investigação completa.

As palavras pareceram um golpe físico. Suspensão. Investigação. Minha carreira, a única coisa que construí com meu próprio sangue, suor e lágrimas, estava desmoronando. Eu havia subido do nada, conquistado meus diplomas com bolsas de estudo e trabalho incansável, e construído uma reputação de ética impecável. Agora, um e-mail malicioso e sem fundamento ameaçava destruir tudo.

Todas as minhas explicações morreram na minha garganta. Qual era o sentido? O veredito já havia sido dado.

Senti uma onda de raiva incandescente. Por quê? Por que isso estava acontecendo? Por que todo o trabalho da minha vida deveria ser anulado pelo ciúme mesquinho de uma socialite mimada?

Saí da clínica atordoada, os olhares de pena e desprezo dos meus colegas queimando nas minhas costas. Nesse momento, meu celular vibrou. Uma mensagem de Júlio.

*Volte para a cobertura. Precisamos conversar.*

Sim, precisávamos. Eu não ia deixar que eles me destruíssem sem lutar.

Peguei um táxi direto para o prédio dele. Quando as portas do elevador se abriram em seu andar privativo, eu os vi. Eles estavam sentados no sofá, e projetado na tela enorme na parede estava o mesmo vídeo silencioso que eu acabara de ver no escritório da Dra. Albuquerque.

Camila me viu primeiro, um sorriso cruel brincando em seus lábios.

- Olha só quem apareceu. Veio implorar por perdão?

A barragem da minha compostura finalmente se rompeu.

- Perdão pelo quê? - retruquei, minha voz tremendo de raiva. - Por fazer exatamente o que você me disse para fazer? Eu nunca, nem por um segundo, estive interessada no seu noivo. - Olhei-a de cima a baixo, um desprezo desdenhoso no rosto. - Francamente, acho que você tem tempo livre demais.

Seu rosto corou de raiva, e ela levantou a mão para me bater de novo. Desta vez, eu estava pronta. Desviei facilmente. Cansei de ser o saco de pancadas deles. Minha carreira estava em jogo. Eu não tinha mais nada a perder.

- Já chega - a voz de Júlio interveio, baixa e perigosa. Ele não estava olhando para mim; estava olhando para Camila.

Uma risada amarga me escapou. Claro. Ele a estava defendendo. Para eles, minha carreira, minha reputação, minha vida inteira - era tudo apenas um joguinho sem sentido. Mas então percebi algo. Por mais que isso me machucasse, poderia machucá-lo mais.

- Você deveria se preocupar, Júlio - eu disse, minha voz fria e firme. - Minha reputação profissional pode estar na lama, mas se isso explodir, todos saberão que o CEO do Grupo Monteiro tem TEPT severo e precisa de uma psicóloga particular. Como você acha que o conselho de administração vai reagir a isso?

Ele olhou para mim então, seus olhos se estreitando. Eu o peguei.

Ele se virou para Camila, sua voz suavizando.

- Vá esperar no quarto, querida. Preciso falar com a Dra. Bastos a sós.

Depois que ela saiu bufando, passei por ele e entrei na sala que usávamos para nossas sessões. Era um lugar de suposta confiança e cura. Agora parecia uma jaula.

Ele me seguiu, fechando a porta atrás de si. A antiga dinâmica se restabeleceu por um momento; ele o paciente, eu a médica.

Então ele se pôs atrás de mim e envolveu meus braços em volta da minha cintura, puxando minhas costas contra seu peito. Seu queixo repousava no meu ombro, sua respiração quente contra minha orelha.

Fiquei rígida, meu corpo inteiro recuando.

- Me desculpe - ele sussurrou, sua voz um murmúrio baixo. - Não tenho dormido bem desde que você foi embora. Só... deixa eu te abraçar só por um minuto.

                         

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