A comoção atraiu a atenção dos outros clientes e da equipe do café.
"Isso é um aviso, sua vadiazinha", Tiffany sibilou baixinho, sua fachada doce caindo por um segundo para revelar o veneno por baixo. "Fica longe do Heitor."
Suas palavras me atingiram com mais força do que o café. Isso foi deliberado. Isso foi uma mensagem de Fabiana.
Um garçom correu com um pano úmido e um kit de primeiros socorros. Tiffany ainda estava fazendo seu show, passando o pano inutilmente perto do meu braço, seu toque me fazendo estremecer. A dor era tão aguda que trouxe lágrimas aos meus olhos, e eu bati na mão dela.
"Fica longe de mim!"
"Foi a Fabiana que mandou você fazer isso?", exigi, minha voz trêmula.
Os olhos de Tiffany se arregalaram em falso horror. "O quê? Claro que não! A Fabiana nunca faria isso! Eu só estava tentando ajudá-la, só isso. Você deveria saber o seu lugar." Sua voz baixou para um sussurro ameaçador. "Não me faça te avisar de novo."
Não havia mais nada a dizer. A crueldade de tudo aquilo era de tirar o fôlego. Virei-me e saí do café, ignorando os olhares e sussurros, meu braço gritando em protesto. Uma pequena e ingênua parte de mim rezava para que Fabiana realmente não soubesse, que sua amiga tivesse agido sozinha.
Meus pais ficaram horrorizados quando cheguei em casa. Minha mãe limpou e enfaixou a queimadura com cuidado, seus lábios pressionados em uma linha fina e raivosa.
"Você precisa ficar longe deles, Clara", ela disse, sua voz firme. "Essa gente não presta."
Eu assenti entorpecida e, por uma semana, segui seu conselho. Ignorei as mensagens de Heitor, deixei suas ligações irem para a caixa postal. Eu não conseguia encará-lo. Não conseguia fingir estar feliz por ele quando sua nova vida era uma fonte constante de dor, e sua nova namorada estava ativamente tentando me machucar.
Então, uma tarde, a campainha tocou. Era Heitor, segurando uma pequena caixa embrulhada para presente.
"Clarinha, eu estava tão preocupado", ele disse, a testa franzida de preocupação. "A Fabiana me contou o que aconteceu. Sinto muito. Eu não fazia ideia até hoje."
Uma risada amarga quase escapou dos meus lábios. Claro. Ele estava aqui para controlar os danos para Fabiana.
"Está tudo bem. Eu estou bem", eu disse, minha voz monótona. Mantive meu olhar fixo no chão. "Você não precisava ter vindo."
"Claro que precisava", ele disse, empurrando a caixa em minhas mãos. "Eu não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente, Clarinha."
*Tarde demais*, gritei na minha cabeça. *A estranheza é uma residente permanente agora. Ela se mudou e redecorou.*
"Nós simplesmente não nos damos bem com as amigas da Fabiana", eu disse, forçando um tom apaziguador.
Ele pareceu aliviado. "Ok, bem, então apenas as ignore. Você não precisa interagir com ela." Sua lealdade, notei com uma nova pontada de dor, já estava decidida.
"E se ela fez de propósito, Heitor?", perguntei, minha voz mal um sussurro. Eu precisava saber. Precisava ver se ele acreditaria em mim.
Ele pareceu chocado, suas sobrancelhas se arqueando. "A Tiffany? De jeito nenhum. Ela não é assim. Você provavelmente está sendo um pouco sensível demais, Clarinha."
Lá estava. Ele a escolheu. Ele as escolheu. Ele confiou na palavra de uma garota que conhecia há alguns meses em vez de mim, sua "irmã" de dezessete anos. A decepção foi um peso físico no meu peito.
"É", eu disse, minha voz vazia. "Talvez você esteja certo. Estou apenas cansada. Acho que vou me deitar."
Foi uma dispensa clara e, após um momento de hesitação, ele foi embora.
Sozinha no meu quarto, abri o presente. Era um par de brincos de prata delicados.
Eu não tenho orelha furada. Heitor sabia disso. Tivemos uma longa conversa sobre isso no ano passado, quando considerei furá-las e depois desisti.
Então, outra memória surgiu. Uma conversa com Fabiana naquela horrível tarde de compras. Ela estava reclamando de um presente de Heitor. "Ele me comprou esses brincos horríveis", ela tinha se queixado. "Eu disse a ele para devolver."
Ele tinha me dado o presente rejeitado pela Fabiana. Um item de segunda mão. Um pensamento tardio.
Uma única lágrima caiu na caixa de veludo. Eu nem me dei ao trabalho de limpá-la. Com uma onda de raiva, joguei a caixa na lixeira.
Ao fazer isso, o quarto de repente girou. Uma onda de tontura me invadiu, e minha visão escureceu por um segundo aterrorizante. Agarrei a borda da minha escrivaninha, meu coração batendo forte, até que o mundo se endireitou.
Abalada, saí cambaleando do meu quarto. "Mãe", chamei, forçando uma alegria que não sentia. "Estou morrendo de fome."
Eu tinha que ser normal. Eu tinha que estar bem.