O dinheiro, na casa dos milhões de reais, foi transferido para uma nova instituição de caridade que estabeleci da noite para o dia: a Fundação Fênix, dedicada a ajudar mulheres a escapar de homens poderosos e abusivos. Era uma declaração de guerra, travada abertamente e mirando diretamente no coração do mundo dele.
A fúria de Léo, quando veio, não foi um furacão, mas uma maré de gelo. Ele invadiu a cobertura, seu rosto uma nuvem de tempestade de fúria controlada. Ele não gritou. Esse não era seu estilo. Sua violência era fria e controlada.
"O que você fez?", ele perguntou, sua voz um ronco baixo e letal que vibrou pela sala.
"Estou simplificando", eu disse, sem desviar o olhar do meu livro.
No dia seguinte, o colar "O Alvorecer de Maya" estava de volta em minha posse. Ele o comprou de volta em um leilão privado pelo triplo do que eu vendi. Ele não me deu. Ele me encurralou em nosso quarto, seu corpo bloqueando a porta, e o prendeu em meu pescoço. Os diamantes frios pareciam uma marca em brasa na minha pele.
"Isso", ele sibilou, seus dedos cravando em meus ombros como garras, "fica em você. É um símbolo do meu amor. Você não vende o meu amor, Maya."
Não era amor; era posse. Uma marca para sua propriedade.
O fim de semana no sítio em Itu foi seu teatro, um palco montado para reafirmar o controle. Ele reuniu seu círculo íntimo – seu Consigliere, Marco Antunes, e seus Capos mais confiáveis. Estavam todos lá com suas esposas, um retrato perfeito de família e lealdade.
Mas seus olhos contavam uma história diferente. Todos sabiam sobre Ava. Marco, que deveria ser o melhor amigo de Léo, deu um tapa em suas costas e fez uma piada sobre como ele me mantinha na rédea curta. Os outros homens riram. A cumplicidade deles era um veneno no ar, espesso e sufocante. Senti como se estivesse em um ninho de cobras, e eu era a única sem presas.
Passei o dia na piscina, um sorriso fixo no rosto, o peso do "Alvorecer de Maya" um lembrete constante e arrepiante em meu pescoço. Léo interpretou o papel do marido dedicado, trazendo-me bebidas, tocando meu braço, suas ações uma performance para seus homens.
Senti os olhos deles em mim, julgando, com pena, divertidos. Eu não era uma pessoa para eles. Eu era um objeto bonito e frágil que pertencia ao Dom. Um objeto que aparentemente estava lhe causando alguns problemas.
Enquanto o sol sangrava no horizonte, pintando o céu em tons machucados de laranja e roxo, uma onda familiar de exaustão me dominou. O esforço de respirar naquele ar tóxico era demais.
"Estou com dor de cabeça", murmurei para Léo. "Vou me deitar um pouco."
Ele mal olhou para mim, já imerso em uma conversa com Marco. "Tudo bem", disse ele, com um aceno displicente da mão.
O alívio que senti ao me afastar deles foi tão profundo que quase me deixou tonta. Eu estava completamente sozinha. E, pela primeira vez, não parecia uma fraqueza. Parecia uma fundação.