A Herdeira Rejeitada: Seu Reinado Começou
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Capítulo 5

Ponto de Vista: Estela Figueiredo

Os dias seguintes ao jantar desastroso se transformaram em uma névoa cinzenta de isolamento. Permaneci trancada na minha ala da mansão, o silêncio minha única companhia.

Uma tarde, uma das empregadas mais velhas, Maria, que estava com minha família desde antes de eu nascer, invadiu meu quarto sem bater, o rosto pálido de pânico.

"Senhorita Estela, a senhora precisa vir rápido!", ela ofegou, as mãos tremendo.

"Maria, o que foi?"

"É ele. O Sr. Frederico... e a outra. Eles estão na cobertura. Arrombaram a fechadura."

Um pavor frio, agudo e imediato, tomou conta de mim. A cobertura não. Lá não.

O último andar da mansão Monteiro fora dado aos meus pais quando eles uniram suas vidas e empresas com os Monteiro. Depois que eles morreram, foi selado. Preservado exatamente como eles haviam deixado, um monumento perfeito e intocado à sua memória. Era meu santuário, o único lugar nesta casa fria e sprawling que parecia um lar. Estava cheio da arte da minha mãe, dos livros do meu pai, do cheiro fraco e persistente de sua presença.

Eu não esperei para ouvir mais. Eu corri. Voei pelos corredores e subi a grande escadaria, meu coração batendo contra minhas costelas como um pássaro preso.

As portas da cobertura estavam escancaradas. A cena lá dentro era de profanação.

O vaso favorito da minha mãe, uma delicada peça de vidro veneziano, estava estilhaçado no chão. A coleção de primeiras edições encadernadas em couro do meu pai fora arrancada das prateleiras e jogada em uma pilha bagunçada no canto. As cortinas estavam rasgadas das janelas. O ar estava pesado com poeira e destruição.

E no meio de tudo isso estava Carina Gonçalves, segurando uma pequena fotografia emoldurada. Ela tinha uma mancha teatral de sujeira na bochecha e limpava um arranhão superficial no braço.

Frederico estava ao seu lado em um instante, cuidando dela como se fosse uma criança ferida. "Cuidado, menina desastrada", ele arrulhou, sua voz enjoativamente doce. "Eu te disse que este lugar era uma bagunça velha e empoeirada." Ele olhou para o caos ao redor deles sem um pingo de remorso. "Vamos limpar tudo isso em breve."

Minha voz era uma coisa crua e irregular. "O que vocês fizeram?"

Frederico finalmente olhou para mim, sua expressão de leve aborrecimento com a interrupção. "Estela. Estávamos apenas fazendo alguns planos."

"Planos?", eu engasguei, gesticulando para os destroços.

"A Carina teve uma ideia", ele disse, seu tom casual, como se estivesse discutindo a redecoração de um quarto de hóspedes. "Ela achou que isso daria um berçário maravilhoso para o bebê. Muita luz natural."

Um berçário. Eles iam transformar o memorial dos meus pais em um berçário para o filho deles.

Ele voltou sua atenção para Carina, pegando gentilmente a foto da mão dela para examinar seu pequeno arranhão. Ele nem notou o rio de lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Um grito rasgou minha garganta, um som de pura agonia animalesca. A dor no meu peito era tão intensa que minha mão enfaixada, aquela que ele havia ferido, latejou com uma dor fantasma e solidária. Eu a agarrei, curvando-me.

Assustada com meu grito, Carina deixou a fotografia cair. O vidro se estilhaçou. Era uma foto dos meus pais no dia do casamento. Ela estava com o pé sobre ela. Ela girou o calcanhar no rosto sorridente do meu pai, o som do vidro triturando ecoando na sala arruinada. Foi deliberado.

Frederico imediatamente a puxou para seus braços, protegendo-a novamente. "Estela, pelo amor de Cristo! Você está assustando ela!", ele gritou para mim.

"Que direito você tem?", eu solucei, minha voz quebrando. "Que direito você tem de trazê-la aqui?"

"Esta é propriedade da minha família, Estela", ele disse, sua voz tingida de uma arrogância cruel. "Eu não preciso da sua permissão para estar aqui."

Eu o encarei, minha mente cambaleando. O avô dele, o patriarca, havia me entregado pessoalmente a chave desta cobertura após o funeral dos meus pais. Ele me prometera, com os olhos cheios de lágrimas: "Este espaço é seu, Estela. Para sempre. Um testamento permanente ao sacrifício dos Figueiredo e à nossa eterna gratidão."

Frederico não estava apenas destruindo um cômodo; ele estava cuspindo na própria fundação da honra de sua família.

"Este espaço é meu também", consegui dizer, minha voz trêmula, mas firme. "Foi comprado com sangue Figueiredo." Virei meu olhar furioso para Carina, que se escondia atrás dele como uma covarde. "E que direito você tem, sua parasita? Saia."

Eu avancei, meu único pensamento era arrastá-la fisicamente para fora daquele lugar sagrado.

Frederico se moveu mais rápido. Ele se interpôs entre nós, seus braços formando uma barreira impenetrável. Ele a estava protegendo. De novo. A imagem se gravou em meu cérebro, uma marca ardente de traição.

"Isso são só coisas, Estela!", ele rosnou, o rosto contorcido de impaciência. "Só um monte de lixo sentimental!"

Lixo.

Ele chamou as memórias dos meus pais de lixo.

Algo dentro de mim se partiu. O último fio de amor, de esperança, de uma história de uma década, se rompeu completamente.

Eu vi vermelho. Agarrei a base de uma pesada luminária de chão quebrada, sua borda de metal irregular apontada como uma lança. Minha mente era um branco incandescente. Eu só queria que a dor parasse. Eu queria que eles parassem.

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