Seu ato de vítima começou instantaneamente. Seus olhos se encheram de lágrimas, seu lábio tremeu. "Como você pode dizer isso?", ela choramingou.
Bem na hora, Caio entrou furioso. "O que você está fazendo com ela?", ele rosnou, correndo para o lado de Júlia e puxando-a para trás dele como se a estivesse protegendo de um monstro.
"Caio, não é culpa da Helena", Júlia soluçou em seu peito. "Eu só queria me desculpar."
"Ela sempre foi assim!", disse Caio, me fuzilando com o olhar. "Agressiva e cruel."
Olhei para suas mãos entrelaçadas e uma risada amarga e autodepreciativa escapou dos meus lábios.
Caio teve a graça de parecer culpado. Ele soltou a mão de Júlia. "Estou apenas tentando cuidar de você, Helena", disse ele, a mentira com gosto de cinzas no ar.
De repente, um alarme de incêndio soou pela casa. Fumaça começou a sair de debaixo da porta da biblioteca da ala oeste.
"Fogo!", ofegou Júlia.
Eu pulei, correndo para o corredor. Caio agarrou Júlia e correu na direção oposta, em direção à saída principal. Ele nem sequer olhou para trás.
Corri em direção à biblioteca. Eu sabia que os diários antigos do meu irmão Guilherme estavam lá, as únicas coisas que me restavam dele. A fumaça era espessa, me sufocando. Encontrei os diários, apertando-os contra o peito, e corri para a porta.
Estava trancada por fora.
Meu sangue gelou. Caio e Júlia eram os únicos que tinham ido por aquele caminho. Eles me trancaram. Estavam tentando me matar.
O pânico me dominou, mas eu o contive. Lembrei-me de uma pequena porta de serviço nos fundos. Corri, meus pulmões queimando, e joguei meu ombro contra ela. Ela se abriu com um estrondo, e eu tropecei para fora na noite, desabando na grama, ofegante.
Levei meia hora para voltar à frente da casa. Bernardo estava lá, seu rosto sombrio, observando o fogo consumir a biblioteca.
"Caio me disse que você entrou para pegar algo e derrubou uma luminária", disse ele, sua voz carregada de suspeita.
Olhei para além dele. Caio estava lá, seu braço envolvendo protetoramente Júlia, seus olhos fixos nela.
Engoli o nó na garganta e apenas balancei a cabeça, cansada demais para lutar mais.
Naquele momento, duas viaturas da polícia subiram a entrada de carros cantando pneus. Policiais saíram correndo e vieram direto para mim.
Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, um deles estalou um par de algemas nos meus pulsos. "Helena Finley, você está presa por usar seu negócio de galeria de arte para lavagem de dinheiro e fraude eletrônica."
Meu rosto ficou pálido. Lavagem de dinheiro? Lembrei-me de Júlia pedindo para "emprestar" o portal de pagamento online da minha galeria meses atrás, para vender algumas peças para um "amigo". Caio estava lá. Ele sorriu e disse: "Deixe-a, Helena. É por uma boa causa."
Eu a deixei. Outro ato de confiança, outra traição.
"Não fui eu!", gritei, meus olhos se fixando em Caio. "Foi ela!"
Mas ninguém estava ouvindo. Todos os olhos estavam em Bernardo, que havia agarrado o peito, seu rosto ficando de um cinza mortal enquanto ele desmaiava com o choque.
Fui arrastada. Passei um dia e uma noite em uma sala de interrogatório fria. Quando finalmente me soltaram, saí cambaleando da delegacia para um pesadelo.
Uma multidão de repórteres me cercou, suas câmeras piscando como relâmpagos, suas perguntas como golpes.
"Sra. Mendonça, é verdade que você tem vendido falsificações?"
"Como você pôde trazer tanta vergonha para o nome Mendonça?"
Então, alguém jogou um milkshake. Ele se espatifou no meu rosto, frio e pegajoso. A multidão riu. Tentei falar, me defender, mas apenas um som engasgado e sufocado saiu.
Senti meus joelhos fraquejarem. Assim que eu estava prestes a cair, um carro preto parou e Caio emergiu, flanqueado por guarda-costas. Ele abriu caminho pela multidão, seu rosto uma máscara perfeita de preocupação. Ele gentilmente limpou a sujeira do meu rosto com um lenço de seda.
"Sinto muito, Helena", ele sussurrou, sua voz cheia de falso remorso. "Vim assim que soube."
Eu sabia que ele estava mentindo. Eu tinha visto o carro dele estacionado do outro lado da rua o tempo todo. Ele assistiu. Ele me queria quebrada, humilhada, para que eu fosse mais fácil de controlar.
Os problemas legais desapareceram, mas minha reputação foi destruída. Naquela noite, passei pelo escritório. A porta estava entreaberta. Eu olhei.
Caio estava beijando Júlia, suas mãos emaranhadas no cabelo dela.
"Eu só amo você", ele sussurrava contra os lábios dela. "Estar com ela é apenas uma tarefa. Uma obrigação. Você sabe o quanto eu odeio isso? Depois que eu a toco, tenho que tomar três banhos para lavar a sensação dela da minha pele."
Júlia fez um som suave e choroso de prazer.
Um ácido amargo subiu pela minha garganta. Tropecei para trás, minha mão derrubando um vaso de um pedestal. Ele se espatifou no chão.
Os sons dentro do escritório pararam instantaneamente.
"Quem está aí?", a voz de Caio era afiada, fria como gelo.