Ponto de Vista: Elisa Ferraz
Acordei em uma cama de hospital, o cheiro estéril de antisséptico queimando minha garganta ferida.
Minha tia, que tinha passado para deixar algo, me encontrou desmaiada no gramado. Os paramédicos disseram que mais um minuto e eu estaria morta.
Breno estava lá, o rosto uma máscara de puro e absoluto terror.
Ele não estava apenas culpado; estava horrorizado. Ele quase quebrou sua posse favorita e mais valiosa: sua futura esposa perfeita. A pedra angular de seu futuro perfeito.
Ele se agarrou à minha mão, seu corpo sacudido por soluços que pareciam rasgá-lo por dentro. "Me desculpa, Lisa. Juro por Deus, eu não vi na sopa. Eu nunca te machucaria. Você é tudo pra mim."
Uma parte de mim, a parte fraca e estúpida que ainda o amava, quase acreditou nele.
Mas o "tudo" dele não o impediu de me negligenciar.
Na semana seguinte, ainda frágil e abalada, fui a uma festa do time com ele. Ele desapareceu em minutos, atraído para um círculo de atletas.
Eu estava na cozinha, tentando pegar uma garrafa de água, quando um jogador bêbado me encurralou. Ele era enorme e agressivo, suas mãos agarrando minha cintura, me puxando contra ele.
Eu lutei, minha voz presa na garganta.
"Breno!", gritei, minha voz engolida pela música alta.
Com as mãos tremendo, peguei meu celular e liguei para ele. Caiu direto na caixa postal.
Dei uma joelhada forte na virilha do cara, me dando o único segundo que precisei para me libertar. Corri para fora, ofegante, meu coração martelando contra minhas costelas.
Encontrei Breno em sua camionete na entrada da garagem. Ele não estava sozinho.
Ele segurava a mão de Carla, o polegar acariciando os nós dos dedos dela, enquanto ela chorava por causa de um filme triste que acabara de assistir.
Ele não ouviu meu grito. Ele não ouviu seu telefone tocar. Ele estava muito absorto em seu papel de salvador pessoal dela, seu animal de apoio emocional.
Quando o confrontei mais tarde, de volta à minha casa, seu rosto ficou branco. O pânico estava de volta. Ele viu a fundação de sua vida perfeita rachando novamente.
"Me desculpa", ele gaguejou, passando a mão pelo cabelo. "Eu não ouvi... Lisa, eu juro, se eu soubesse..."
"Mas você não sabia", eu disse, minha voz morta, toda a emoção esvaída de mim. "Porque você não estava lá. Você nunca mais está lá, Breno."
Para "consertar", ele fez o que sempre fazia. Jogou dinheiro no problema.
No dia seguinte, ele me mostrou um e-mail de confirmação. Uma viagem não reembolsável de uma semana para um resort privado cinco estrelas em Fernando de Noronha nas próximas férias.
"Só nós dois", ele prometeu, seus olhos suplicando com um desespero que estava se tornando familiar demais. "Sem distrações. Eu juro. Vamos consertar isso. Nós somos Breno e Lisa. Somos para sempre."
Ele estava tentando remendar uma ferida mortal com um Band-Aid.
Mas eu estava tão cansada, tão destruída pelo ciclo constante de traição e desculpas em pânico, que concordei.
Uma última chance.
Em Noronha, longe dela, talvez eu pudesse encontrar o garoto por quem desisti do meu futuro.
Era uma esperança estúpida e frágil que me levaria à minha destruição final.