A Traição Suprema do Meu Marido Cirurgião
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Capítulo 3

Ponto de Vista de Clara Bastos:

O telefone tocou às dez da noite, cortando o silêncio do novo quarto de hospital. O Albert Einstein era um mundo à parte dos corredores familiares e caóticos do hospital de Ricardo. Era calmo, privado e tranquilizadoramente caro.

Olhei para o identificador de chamadas. Ricardo.

Deixei tocar três vezes antes de atender.

"Onde ela está?" Sua voz não era uma pergunta. Era uma acusação, afiada e fria.

"Ela está bem", eu disse, saindo para o corredor silencioso. "Está dormindo."

"Eu fui ao quarto dela. Estava vazio. As enfermeiras disseram que você a transferiu. Que diabos você está fazendo, Clara?", ele exigiu, sua voz tensa de fúria. "Você está louca? Você a transferiu sem minha autorização? Eu sou o médico principal dela!"

"Você era", corrigi-o calmamente. "A partir desta manhã, você não está mais envolvido nos cuidados dela."

"Você não pode fazer isso! Eu sou o melhor. O Einstein é bom, mas sou eu quem conhece o caso dela por dentro e por fora", ele rosnou. "Isso é por causa desta manhã? Você está realmente disposta a arriscar a saúde da sua mãe para me punir?"

A audácia daquilo, o narcisismo puro e absoluto, me deixou momentaneamente sem palavras. Ele estava tentando me manipular, enquadrar meu ato de autopreservação como um chilique infantil.

"A saúde da minha mãe é a única razão pela qual estou fazendo isso", eu disse, minha voz como gelo. "Ela precisa de um médico que esteja totalmente presente. Não um que esteja de plantão para outra família."

"Isso não é justo! A Fabiana é uma mulher doente!"

"Minha mãe também", retruquei. "Mas a doença dela não é uma peça de teatro."

Um silêncio pesado pairou na linha. Então, sua voz baixou, tornando-se ameaçadora. "Eu não vou para casa hoje à noite, Clara. Vou ficar com elas. A Fabiana está muito abalada."

Era uma ameaça. Um teste. Ele esperava que eu implorasse, suplicasse, pedisse desculpas por perturbar suas novas e frágeis dependentes.

"Tudo bem", eu disse.

O silêncio do outro lado foi diferente desta vez. Era o som de um homem cujo roteiro havia sido jogado pela janela. "Tudo bem?", ele repetiu, perplexo.

"Sim, Ricardo. Tudo bem. Fique lá. Na verdade, fique lá o tempo que quiser", eu disse. Então desliguei.

Minha mão estava tremendo, mas não de medo. Era da sensação emocionante e aterrorizante de libertação.

Um minuto depois, meu celular vibrou com uma mensagem de um número desconhecido. Mas eu sabia quem era. Karina.

Clara, sinto muito se causei algum problema entre você e o Ricardo. Ele é um homem tão compassivo, e minha mãe depende tanto dele. É difícil para ele dizer não quando alguém precisa. Ele é um tipo raro de homem, o tipo que toda mulher quer. Vou cuidar bem dele esta noite. Ele está exausto.

Era uma aula de mestre em manipulação. A falsa desculpa, o elogio à "compaixão" de Ricardo, a alfinetada sutil de que ele era um prêmio que ela havia ganhado. Era uma declaração de posse.

Eu não respondi. Apenas encarei a mensagem, um gosto amargo na boca. Esse era o padrão deles. Fabiana teria uma "crise", Karina faria a ligação frenética, e Ricardo correria para o resgate. Depois, haveria as mensagens, as "desculpas", os lembretes constantes de quanto elas "precisavam" dele. Ele era o cavaleiro delas de armadura brilhante, e minhas próprias necessidades, as necessidades da minha mãe, eram apenas distrações inconvenientes.

Apaguei a mensagem e bloqueei o número.

O telefone tocou novamente. Ricardo.

Suspirei e atendi.

"Você acabou de bloquear o número da Karina?", ele exigiu, sua voz incrédula.

O som de soluços fracos e teatrais vinha do fundo. Fabiana.

"Ricardo, estou cansada", eu disse, minha paciência esgotada. "Estou com minha mãe, que acabou de passar por uma cirurgia de peito aberto. Não tenho energia para esse drama."

"Drama?", ele zombou. "A Fabiana está apavorada! Ela acha que você a odeia! E a Karina está preocupada até a morte. Depois de tudo que eu fiz hoje, depois que eu salvei a vida da mãe dela, é assim que você me retribui? Sendo fria e cruel? Onde está sua compaixão, Clara? Estou tão decepcionado com você."

Decepcionado. Comigo.

As palavras pairaram no ar, tão absurdas, tão colossalmente injustas, que tudo que eu pude fazer foi rir. Foi um som oco e quebrado.

"Você está decepcionado comigo?", finalmente consegui dizer. "Essa é ótima, Ricardo. Essa é realmente ótima."

Não esperei por uma resposta. Desliguei o telefone e o desliguei.

As pontas dos meus dedos estavam frias, um arrepio subindo pelos meus braços. Por anos, eu fui a compassiva. A esposa compreensiva. Aquela que arrumava a mala dele para "emergências" noturnas na casa das Tavares. Aquela que sorria educadamente quando Fabiana o chamava de "meu Ricardo" na minha frente. Aquela que aceitava suas desculpas e sua atenção dividida, tudo em nome de seu "bom coração".

Mas o coração dele não era bom. Era apenas carente. Anseava por adoração, e as Tavares alimentavam essa necessidade com um suprimento infinito de bajulação e crises fabricadas.

Deslizei de volta para o quarto e sentei na cadeira ao lado da cama da minha mãe. Sua respiração estava regular, seu rosto relaxado no sono. Ela estava segura. Ela estava sendo cuidada. E pela primeira vez em muito, muito tempo, eu também estava. A decepção era toda dele.

            
            

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