Ele manteve Ísis escondida em um de seus apartamentos de cobertura seguros do outro lado da cidade, uma joia preciosa que ele precisava proteger de sua esposa louca e histérica.
Mas algo em mim havia mudado irrevogavelmente. A esperança que fora minha âncora por uma década se foi, deixando para trás uma determinação fria e dura. Eu cansei de esperar. Cansei de ter esperança. Eu cansei.
Meu plano era simples. Eu iria embora. Voaria para a Suíça, onde tinha uma conta privada da qual ele não sabia nada, e começaria de novo. Mas primeiro, havia uma última coisa que eu precisava fazer. Eu tinha que ver Ísis. Tinha que pegar de volta a escultura do meu pai. Era uma missão tola, eu sabia, mas tinha que tentar.
Como se fosse um sinal, meu celular, que os guardas me devolveram, vibrou com uma mensagem de um número desconhecido.
"Vamos nos encontrar. No café perto da represa. Venha sozinha." - Ísis.
Cheguei ao café designado, minha perna latejando a cada passo cuidadoso que eu dava com minhas muletas. Ísis já estava lá, sentada em uma mesa isolada. Ela parecia pálida, mas seus olhos tinham um brilho presunçoso e triunfante. A máscara da artista inocente e antissistema se fora, substituída pela ambição nua de uma vitoriosa.
"Estou grávida", ela anunciou, antes mesmo de eu me sentar. Ela deslizou uma foto de ultrassom granulada pela mesa. "Heitor está em êxtase. Ele já me prometeu vinte por cento das ações da empresa como presente de maternidade."
Olhei para a foto em preto e branco, depois de volta para o rosto presunçoso dela, e um sorriso lento e cansado se espalhou pelos meus lábios.
"Você não é diferente de nenhuma das outras, não é?", eu disse, minha voz baixa. "Apenas um pouco mais gananciosa e um pouco mais impiedosa."
Seu rosto ficou vermelho e manchado. "Isso não é verdade! Heitor me ama! Ele disse que você é apenas uma parceira de negócios fria e calculista com quem ele estava preso. Ele disse que suas mãos estão sujas, que você o enoja. Ele me disse que esperava há anos por um motivo para se livrar de você, e eu sou a salvação dele!"
Cada palavra era um dardo cuidadosamente escolhido, mergulhado no veneno da traição do meu próprio marido. E cada um atingiu seu alvo. Uma dor familiar floresceu em meu peito, o fantasma de um amor há muito morto. Todos os sacrifícios, todas as decisões impiedosas que tomei para protegê-lo, para construir seu império - ele as transformou em armas para usar contra mim.
"Eu não quero o nome dele, o dinheiro dele ou o amor dele", eu disse, minha voz plana e sem emoção. "Você pode ficar com tudo."
Inclinei-me para frente, meus olhos cravados nos dela. "Eu só quero uma coisa. A escultura. Devolva para mim."
Seu rosto endureceu. Um sorriso cruel e zombeteiro brincou em seus lábios. "A escultura? Ah, você quer dizer aquela coisa brega que Heitor mandou fazer? Foi um gesto doce, mas não é bem o meu estilo. Eu disse a ele que era a coisa mais linda que eu já tinha visto, claro."
Ela se recostou, tomando um gole lento de seu latte. "Foi a declaração de amor dele por mim, Helena. Um símbolo de que ele me escolheu em vez de você. Por que eu abriria mão disso?"
Uma fúria cega me dominou. Sem pensar, me lancei sobre a mesa, minha mão alcançando a escultura que ela havia colocado provocativamente no assento ao seu lado.
"Me dê isso!"
Ísis gritou, um som agudo e teatral, e me empurrou para trás. O movimento foi calculado. Minha perna ferida cedeu, minhas muletas caíram no chão com um estrondo, e eu caí com força.
Mas quando ela caiu de volta em sua própria cadeira, um líquido estranho e escuro, quase preto, escorreu do canto de sua boca. Ela agarrou o estômago, seus olhos arregalados com um pânico genuíno e horripilante.
"Meu bebê...", ela ofegou, seu rosto se contorcendo de dor.
Eu encarei, congelada em choque. O que estava acontecendo?
A porta do café se abriu com um estrondo. Heitor entrou furioso, flanqueado por dois de seus imponentes guarda-costas. Ele havia cronometrado sua entrada perfeitamente.
O café foi esvaziado em segundos, os clientes apressados para fora por sua equipe de segurança. Um médico particular correu para o lado de Ísis.
Os olhos de Heitor, frios e furiosos, se fixaram nos meus. Ele viu Ísis no chão, gemendo de agonia. Ele me viu, esparramada em meio aos destroços de cadeiras e muletas. E ele tirou a única conclusão que seu coração parcial permitiria.
"Meu bebê... Helena... ela me envenenou...", Ísis soluçou, apontando um dedo trêmulo para mim.
Olhei para o rosto de Heitor, para o abismo de seu ódio, e meu coração, que eu pensava já ter se transformado em pedra, começou a bater em um ritmo frenético e aterrorizado.
Eu estava encurralada. Eu havia caído direto em sua armadilha cuidadosamente montada.
O médico, após um exame superficial, olhou para Heitor, seu rosto sombrio. "É uma toxina potente e de ação rápida, Sr. Albuquerque. A Sra. Lima está em estado crítico. Temos que levá-la para o hospital agora."
Ísis foi levada em uma maca.
O café ficou em silêncio. Éramos apenas eu e ele.
Senti uma risada amarga e sem esperança borbulhar em minha garganta. Claro que ele não acreditaria em mim. Ele já havia me julgado e condenado no tribunal de sua própria mente.
Eu balancei a cabeça, minha voz um sussurro oco. "Não fui eu, Heitor."