Mas ele logo empurrou esse pensamento para longe. Afinal, Deanna não mentiria. Ela não poderia ter escutado a conversa entre ele e a mãe. Se tivesse, não permaneceria tão serena, e já teria confrontado os dois. Quanto ao ruído de antes, ele certamente havia imaginado.
Esse raciocínio lhe trouxe alívio, e seus ombros cederam um pouco da tensão. "Está esfriando mais. Como você não tem se sentido bem, fique em casa à noite, certo? Evite se esforçar."
Ele tentou soar afetuoso, mas suas palavras lhe causaram náusea. "Guarde sua gentileza para Talia. É ela quem necessita disso. Ela é sua esposa, não eu."
A mandíbula de Jayden se enrijeceu. Um peso vazio lhe oprimia o peito, mas antes que conseguisse responder, seu olhar recaiu sobre o vestido dela. Uma mancha escura se expandia na altura da cintura - sangue.
Um choque de preocupação o atingiu, e suas sobrancelhas se franziram. "Deanna, o que aconteceu?"
De forma impulsiva, ele estendeu a mão. Ao ver o corte profundo e irregular, seu estômago se revirou. Sua expressão se fechou, tomada por uma inquietação que ele nem sequer conseguia traduzir em palavras.
Automaticamente, seus olhos seguiram para a mesa. Mas a moldura da fotografia havia desaparecido. Fragmentos de vidro brilhavam pelo chão, e entre eles estava a moldura partida - a foto que ela preservara como se fosse o próprio coração.
Um suspiro contido escapou de seus lábios, enquanto um mal-estar frio se instalou em seu peito. Deanna jamais deixara aquela foto cair, nem uma única vez.
A mandíbula dela se tensionou quando afastou a mão dele com brusquidão. O calor do toque de Jayden ainda fazia sua pele arrepiar.
Jayden paralisou, surpreso pela rejeição. Ele abriu a boca para falar, mas um estrondo repentino interrompeu o silêncio antes que qualquer palavra pudesse surgir.
O barulho da porcelana quebrando rasgou a tensão no ar. Ao se virar na direção do som, Deanna se deparou com Talia parada à entrada, imóvel. A xícara que ela segurava jazia em pedaços aos seus pés, enquanto a água se espalhava pelo chão como uma poça transparente. Seu rosto estava coberto de lágrimas, e sua voz tremia quando murmurou: "Diga que você não passou a noite inteira fora do nosso quarto por causa de Deanna, Brody."
Com o rosto empalidecendo, Jayden passou por Deanna apressadamente, a voz suave, porém aflita. "Você está entendendo tudo errado, Talia. Ela está ferida. Apenas vim verificar como ela estava. Ela enfrentou muita coisa desde... desde a morte do marido."
A justificativa dele desmoronou assim que a fúria de Talia explodiu.
"Não me ofenda", rebateu ela, lançando para Deanna um olhar cheio de desdém. "Sei que ainda está de luto, mas Brody é seu cunhado. Como tem coragem de olhar para ele como se fosse um substituto? É nojento. Procure ao menos manter alguma dignidade."
Deanna soltou uma risada baixa, destituída de humor. Se Talia soubesse quem realmente tinha dividido a cama dela nas últimas dez noites, ainda falaria com tanta autoridade moral?
"Fique tranquila. Jamais encostaria em um homem que você já usou", disse Deanna com frieza, os olhos semicerrados.
As palavras atingiram Talia como um golpe direto. Os movimentos de Jayden hesitaram, e ele encarou Deanna, emoções conflitantes atravessando sua expressão.
Sem disposição para lidar com nenhum dos dois, Deanna pediu: "Saiam, por favor. Gostaria apenas de ter um pouco de paz para lamentar a morte do meu marido."
A maneira como Deanna ressaltou as palavras "lamentar meu marido" fez com que a garganta de Jayden se contraísse. Ele a encarou uma última vez, apenas para se deparar com um olhar gélido e penetrante. Imediatamente, ele desviou o olhar.
Talia, consumida pela vergonha, girou o corpo com rigidez e se dirigiu à porta. Deanna a acompanhou e a fechou com uma serenidade imperturbável. Do outro lado, o tremor que percorria o corpo de Talia se transformou em uma frieza cruel, e seus olhos cintilaram com um brilho ameaçador.
Rapidamente, Talia recompôs a expressão. Agindo como se nada tivesse acontecido, entrelaçou o braço de Jayden e o guiou de volta ao quarto do casal.
Horas mais tarde, Deanna escutou sons inconfundíveis, e ainda mais provocativos, vindos do cômodo ao lado.
Apesar de o coração estar vazio e gelado, ela manteve a expressão serena enquanto queimava a foto do memorial e, em seguida, voltou o olhar para o celular.
Ao abrir sua caixa de entrada, ela se deparou com uma nova mensagem: "Senhorita Evans, a família Gordon renovou o pedido de casamento pela nona vez. Desta vez, estamos oferecendo cem milhões como sinal de boa-fé. Você consideraria a proposta?"
A família Gordon, uma das mais prestigiadas de Elesport, possuía uma posição tão elevada que muitos fariam qualquer coisa para integrá-la.
Entretanto, a tragédia se abateu sobre eles quando Connor Gordon, herdeiro da linhagem, entrou em coma um ano antes. Agora, com um tio ambicioso à espreita, a segurança de Connor estava constantemente ameaçada.
Aquilo que antes representava status e prestígio se tornou um fardo repleto de riscos, e a maioria preferiu manter distância. Na tentativa de assegurar uma esposa para Connor e preservar o legado da família, Gerard Gordon, patriarca do clã, esgotou todos os recursos - mas nenhuma mulher desejava viver sob a sombra de um casamento com alguém em coma, sob ameaça constante.
Ninguém queria se unir a Connor.
Sem alternativas, Gerard voltou sua atenção para Deanna, recentemente viúva. Apesar de ter perdido os pais na juventude, ela sempre se portava com a elegância de quem fora criada em berço de ouro. Para os Gordon, ela era a escolha ideal - discreta, influenciável e com uma linhagem genética respeitável, adequada para gerar o herdeiro de Connor.
Uma mulher de luto e um homem inconsciente - uma combinação, no mínimo, incomum. Para muitos, aquilo era uma receita para a ruína. Mas para Deanna, se unir à família Gordon significava garantir cem milhões em dinheiro e um marido que jamais interferiria em seus planos. Onde mais ela poderia encontrar um acordo tão vantajoso?
Afinal, não havia possibilidade de permanecer com os Spencer, e retornar à residência dos Evans estava fora de cogitação.
No passado, ela rejeitara todas as propostas de casamento, pois seu coração pertencia a Jayden. No entanto, isso já ficara para trás.
Com um sorriso tênue e amargo, Deanna pousou os dedos sobre o teclado e digitou a resposta: "Eu aceito."