Ponto de Vista de Alessa "Blake" Falcão:
No dia seguinte, entrei na escola mancando um pouco e com um hematoma fresco e florescente na bochecha.
Não me dei ao trabalho de tentar cobri-lo com maquiagem.
Eu usava o dano como uma armadura - um aviso.
No corredor lotado, um atleta chamado Marcos - alguém que nunca tinha sequer olhado na minha direção antes - focou em mim.
"Eita, Falcão, tropeçou nos próprios pés?", ele zombou, imitando meu mancar com um sorriso presunçoso.
Seus amigos riram.
Mantive meu olhar fixo para a frente, meu maxilar cerrado.
Não reaja. Não lhes dê a satisfação.
Então, uma sombra caiu sobre nós.
Caio Andrade materializou-se ao meu lado, uma figura de autoridade silenciosa e absoluta.
Ele não disse uma palavra. Ele não precisava.
Ele apenas lançou um olhar para Marcos, seus olhos cinzentos planos e desprovidos de calor.
O atleta congelou. O sorriso escorregou de seu rosto, substituído por um lampejo de medo genuíno.
"Foi mal", Marcos gaguejou, sua voz de repente duas oitavas mais alta. "Não quis dizer nada."
Ele e seus amigos praticamente tropeçaram uns nos outros para fugir.
O olhar de Caio se voltou para mim. Ele enfiou a mão no bolso e estendeu um pequeno lenço antisséptico em um pacote de alumínio.
Seu olhar demorou no corte em meu rosto, segurando por uma fração de segundo a mais do que o necessário - um reconhecimento silencioso.
Eu peguei sem dizer uma palavra, meus dedos roçando os dele.
Um choque, pequeno e inesperado, percorreu meu corpo.
Mais tarde, na aula, um pequeno tubo de pomada antibiótica pousou na minha mesa. Foi passado de trás para frente, vindo de Caio, mas entregue por uma sorridente Emília Scott.
Eu podia sentir os olhares invejosos de outras garotas queimando em minhas costas, mas eu os ignorei.
Meu foco era singular. Aprender. Absorver. Tornar-me uma arma.
Mas o conhecimento não vinha mais com tanta facilidade.
O trauma havia cobrado seu preço. O estresse constante era uma névoa em meu cérebro, forçando-me a lutar o dobro para lembrar de coisas que antes vinham sem esforço.
Após o sinal final, minha mãe estava me esperando nos portões da escola, segurando uma garrafa térmica.
"A Cozinha da Edna" era real.
Ela desdobrou um folheto simples e impresso, seu rosto brilhando com um orgulho que eu pensei que nunca mais veria.
O logotipo era um desenho alegre de uma mulher sorridente segurando uma torta. Ela.
Ela me serviu uma xícara de sopa quente e perfumada. Era o paraíso.
"Estou focando no público do almoço dos prédios de escritórios do centro", disse ela, sua voz cheia de uma energia nova e determinada.
Tomei outro gole, minha mente já trabalhando.
"Isso é bom", eu disse, minha voz afiada e clínica, a voz de uma estrategista, não de uma filha. "Mas você precisa construir uma clientela. Ofereça planos de assinatura. Um cardápio semanal. Isso cria lealdade e renda previsível."