Fui para o closet principal, um mausoléu cheio de vestidos de grife, blusas de seda e sapatos que custavam mais que um carro popular. Passei por eles até o pequeno cofre no fundo. Digitei o código e peguei um celular descartável e um pen drive.
Esta era a verdadeira Elena. O resto era apenas uma fantasia.
Sentei-me no chão e comecei a limpeza digital. Entrei nas contas conjuntas e removi minha autorização. Cancelei os pedidos recorrentes de seu Barolo favorito. Desvinculei meu e-mail das notificações de segurança da propriedade. Pedaço por pedaço, byte por byte, eu estava me apagando da infraestrutura dos Moretti.
Meu dedo pairou sobre o ícone do Instagram no meu celular pessoal. Eu não deveria. Sabia que não deveria.
Eu abri.
A história de Sofia estava no topo. Claro que estava.
Toquei nela. Uma foto do convés de um iate. Um balde de champanhe gelado. E no canto da imagem, uma mão apoiada na grade. Eu conhecia aquela mão. Conhecia a cicatriz na junta, o pesado anel de sinete de ouro com o brasão dos Moretti.
*Sã e salva*, dizia a legenda. *Meu herói.*
Ele não estava resolvendo uma crise. Estava bebendo champanhe em um barco enquanto sua esposa estava sentada sozinha em um apartamento vazio.
Era meu aniversário.
Fechei o aplicativo. Caminhei até a cozinha, o silêncio amplificando o clique dos meus saltos no piso. A equipe já tinha ido embora; eu os dispensei mais cedo. Abri a geladeira. Não havia nada preparado. Dante geralmente pedia do melhor restaurante italiano da cidade às sextas-feiras, mas ele não estava aqui para pedir.
Encontrei uma caixa de macarrão e um pote de molho. Fervi a água. O vapor atingiu meu rosto, quente e úmido, imitando as lágrimas que me recusei a derramar.
A porta da frente apitou.
Eu congelei. Ele não deveria voltar.
Dante entrou. Ele parecia desalinhado, um estado raro para ele. Sua gravata estava frouxa, o botão de cima desabotoado, as mangas enroladas revelando os antebraços aos quais eu costumava me agarrar. Mas quando ele se aproximou, o cheiro me atingiu. Ele cheirava a sal marinho e aquele perfume enjoativo de baunilha.
Ele parou quando me viu de pé junto ao fogão. Ele segurava uma pequena caixa branca na mão. Uma caixa de confeitaria.
"Você está cozinhando?", ele perguntou, franzindo a testa.
"Eu estava com fome", eu disse, minha voz plana enquanto mexia o macarrão.
Ele se aproximou e colocou a caixa na ilha. "Peguei isso. No caminho de volta."
Ele a abriu. Era um pequeno bolo de baunilha. Genérico. Sem nenhuma inscrição. Parecia algo que um assistente compraria em um supermercado cinco minutos antes de fechar.
"Feliz aniversário", disse ele. As palavras pareciam pesadas, forçadas.
Eu encarei o bolo. Ele se lembrou. Ou melhor, seu calendário o lembrou, e ele sentiu uma pontada de obrigação forte o suficiente para parar em uma confeitaria, mas não forte o suficiente para ficar em casa.
"Obrigada", eu disse.
Ele olhou para a panela de macarrão fervendo, borbulhando violentamente. "Isso é o jantar? De aniversário?"
"Está tudo bem, Dante."
"É patético", ele murmurou. Ele passou a mão pelo cabelo, exalando bruscamente. "Vista-se. Vamos sair."
"Eu vi a foto", eu disse.
Ele parou. Sua mão caiu ao lado do corpo. "Que foto?"
"O iate. A história da Sofia."
Ele nem sequer vacilou. "Ela estava abalada. Precisávamos tirá-la da cidade por algumas horas até que a ameaça fosse neutralizada. Era o protocolo."
"Protocolo envolve champanhe?"
Seus olhos se estreitaram, as manchas douradas endurecendo. "Não comece, Elena. Estou cansado. Passei as últimas quatro horas limpando uma bagunça para que a Família não parecesse fraca. Voltei para casa para passar a última hora do seu aniversário com você. Não me faça me arrepender."
*Fazê-lo se arrepender.* Como se minha existência fosse um fardo que ele graciosamente tolerava.
"Não estou mais com fome", eu disse. Estendi a mão e desliguei o fogão. O borbulhar cessou instantaneamente.
Seu telefone tocou novamente. O som agudo cortou a tensão. Ele olhou para a tela e suspirou - um som de pura, inalterada exaustão.
"Preciso atender", disse ele. "É o Consigliere. É sobre a equipe de segurança da Sofia."
"Vá", eu disse.
"Elena-"
"Vá, Dante. Está tudo bem."
Ele hesitou. Por um segundo, pensei que ele pudesse me ver. Realmente me ver. Ver a mulher que o amava desde os dezesseis anos, a mulher que escrevia seu nome em diários e rezava por sua segurança quando ele ia para a guerra.
Mas ele apenas assentiu. "Eu te compenso."
Ele se virou e saiu.
Fiquei no silêncio da cozinha. Olhei para o bolo de baunilha barato com sua cobertura branca cerosa. Fui até a gaveta e peguei um único fósforo. Risquei-o na caixa. A chama se acendeu, brilhante e quente, consumindo o oxigênio.
Enfiei o fósforo no centro do bolo como uma vela.
"Eu desejo", sussurrei para a sala vazia, observando a chama queimar em direção à cobertura. "Eu desejo parar de te amar."
Eu a apaguei. A fumaça subiu no ar, cinza e desaparecendo, assim como nós.