A Esposa Indesejada: O Remorso do Mafioso
img img A Esposa Indesejada: O Remorso do Mafioso img Capítulo 3
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Ponto de Vista de Beatriz

Acordei com o bipe rítmico e monótono de um monitor.

A luz era forte e fluorescente, queimando minhas retinas.

Não era uma suíte particular na clínica da família Almeida, com seus lençóis de alta contagem de fios e discrição.

Era uma divisória de cortina em um hospital público da cidade.

"Ela acordou", disse uma voz suave.

Maria.

A governanta.

Ela estava sentada em uma cadeira de plástico duro, segurando seu rosário com tanta força que seus nós dos dedos estavam brancos.

Seus olhos estavam vermelhos e inchados.

"Maria?", grasnei.

Minha garganta parecia uma lixa.

"Eu te encontrei", ela sussurrou, sua voz tremendo. "Vim limpar a cozinha. Você estava no chão. Espumando pela boca."

Ela estendeu a mão, sua mão calejada e quente acariciando meu cabelo.

"Eu chamei a ambulância. Não o médico da família. A ambulância."

"Onde eles estão?", perguntei.

Eu já sabia a resposta.

"Com a Helena", disse Maria, desviando o olhar. "Ela... ela disse a eles que teve palpitações."

"E eu?"

Maria olhou para o colo.

"O Sr. João Pedro disse que você estava querendo chamar atenção."

Uma lágrima escorreu do meu olho.

Era quente e furiosa, queimando um rastro pela minha bochecha.

"Há quanto tempo?", perguntei.

"Dois dias", disse Maria.

"Hoje é meu aniversário", sussurrei.

Maria apertou minha mão.

"Eu sei, bambina. Eu sei."

Ela pegou um cupcake de sua bolsa.

Estava esmagado contra a embalagem, mas tinha uma única vela apagada enfiada na cobertura arruinada.

"Feliz aniversário, Beatriz."

Eu comi o cupcake.

Tinha gosto de sal e luto.

Assinei os formulários de alta contra o conselho médico uma hora depois.

Os médicos protestaram, alertando-me sobre toxinas residuais e estresse cardíaco, mas eu saí.

Eu tinha um voo para pegar amanhã.

Eu precisava pegar meu passaporte.

Peguei um táxi de volta para a mansão.

O som grave da música batia vindo da casa, vibrando pelas solas dos meus sapatos enquanto eu pisava na calçada.

Carros de luxo enfileiravam-se na entrada.

Era uma festa.

Entrei pela porta da frente.

A sala de estar estava lotada de soldados, associados e mafiosos de alto escalão.

Uma faixa enorme pendia na escadaria.

Bem-vinda de volta, Helena.

Não Feliz Aniversário, Beatriz.

Apenas Helena.

Helena estava no centro da sala, comandando a atenção.

Ela usava um vestido vermelho escandaloso.

Ela estava abrindo presentes.

Brincos de diamante de Diego.

A chave de um carro novo de Bruno.

João Pedro estava atrás dela, a mão possessivamente em seu ombro.

O Don perfeito.

O marido perfeito.

A sala ficou em silêncio quando me viram.

Eu ainda usava minhas roupas de hospital - pijama cirúrgico e uma jaqueta fina.

Eu parecia um desastre.

"Você está viva", disse Caio.

Ele parecia desapontado.

"Pare de fazer cena, Beatriz", disse João Pedro. Sua voz era baixa, perigosa. "Vá se trocar."

"É o nosso aniversário", eu disse, minha voz vazia.

Helena riu, um som tilintante e cruel.

"Ah, Beatriz. Sempre fazendo tudo ser sobre você. Eu quase morri de um ataque cardíaco por causa da sua brincadeira."

"Minha brincadeira?", perguntei.

"A aranha", disse ela, revirando os olhos. "Todo mundo sabe que você coleciona coisas estranhas."

A sala murmurou.

Eles acreditaram nela.

Claro que acreditaram nela.

Ela era a estrela.

"Vamos ver o vídeo!", Helena gritou, batendo palmas. "João Pedro fez uma montagem do meu tempo na Europa!"

Ela apontou o controle remoto para a tela enorme na parede.

João Pedro sorriu.

Ele mesmo tinha editado.

Um trabalho de amor.

A tela piscou e acendeu.

Mas não era Helena na frente da Torre Eiffel.

Era uma filmagem granulada.

Um quarto.

Helena estava lá.

E também o filho do líder da Máfia Russa.

Nossos inimigos jurados.

O áudio estalou pelos alto-falantes.

"A família Dantas é uma piada", a voz de Helena soou, cristalina. "João Pedro é um careta chato. Só estou esperando o velho morrer para poder vender os códigos do território."

A sala congelou.

O ar foi sugado do espaço.

Helena deixou sua taça de vinho cair.

Ela se estilhaçou, o som como um tiro no silêncio.

João Pedro encarou a tela.

Seu rosto ficou pálido, depois vermelho escuro.

Isso era traição.

Isso era uma sentença de morte.

Eu encarei a tela.

Eu não fiz isso.

Eu não troquei o vídeo.

Helena se virou.

Seus olhos se fixaram em mim.

O pânico brilhou em seu olhar.

Ela apontou um dedo trêmulo para mim.

"Foi ela!", Helena gritou. "Ela falsificou! É inteligência artificial! É um deepfake! Ela está tentando me incriminar porque está com ciúmes!"

João Pedro se virou para mim.

Seus olhos eram buracos negros.

A lógica não importava.

A verdade não importava.

Ele precisava de um alvo para sua raiva.

Ele precisava proteger a imagem de sua esposa, mesmo que ela fosse uma traidora.

"Beatriz", disse João Pedro.

Foi um rosnado.

"O que você fez?"

Diego deu um passo à frente.

"Ela está tentando destruir a honra da família", disse ele.

"Ela precisa aprender uma lição", acrescentou Bruno.

Eles estavam se aproximando de mim.

Como lobos.

Recuei até bater na parede.

"É a voz dela", eu disse, minha voz tremendo. "João Pedro, escute."

"Silêncio!", João Pedro rugiu.

Ele agarrou meu braço.

Seu aperto era brutal.

"Tirem todos daqui", ele ordenou aos guardas. "Agora."

Os convidados correram para as saídas.

Eles sabiam o que acontecia a portas fechadas quando a família Almeida estava com raiva.

Olhei para João Pedro.

"Por favor", sussurrei.

"Você queria atenção, Beatriz?", ele sibilou, me arrastando em direção à porta do porão. "Agora você tem."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022