Ele recuou num movimento tão brusco que me deixou cambaleando. Vito ajeitou a gola da camisa de seda, recompondo a indiferença.
- Recomponha-se - ele ordenou, virando-se para a porta. - Amanhã, você vai começar a trabalhar no Luna del Vino.
- Onde? - Minha voz falhou.
Ele parou, a mão na maçaneta. Não olhou para mim.
- Você vai trabalhar na boate para pagar a dívida do seu padrasto. - Vito tomou a decisão e saiu, batendo a porta com força.
Permaneci ali, esmagada contra o vidro. Olhei para o relógio digital ao lado da cama, eram quase duas da manhã e
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Vito.
Eu entrei no meu quarto e vi a ragazza encolhida na beira da cama. Caminhei lentamente. Assustada, ela se levantou e recuou, como um animal encurralado.
- A resistência é patética - enfatizei, irritado.
Eu a encurralei contra o vidro, sentindo o calor do corpo dela, mas mantendo a polegada.
Estava prestes a segurar seu queixo, mas minha mão estagnou no ar quando a ragazza segurou meu antebraço.
- Gemma - ela leu em voz alta. - Quem é?
- Minchia! - Carregado de raiva, xinguei.
Desvencilhei-me de sua mão e saí de perto. Olhando para as tatuagens no braço que a ragazza tocou.
Debaixo da imagem de uma leoa e do nome "Gemma" tatuado em minha pele, tinha cicatrizes que não permitia que ninguém visse, muito menos tocasse. A lembrança do passado me atingiu.
- É mais fácil trepar com uma das garotas da boate do que com você - resmunguei.
Tinha apenas uma favorita da boate que já sabia de como eu gostava de foder.
Olhei uma última vez, notando sua beleza natural e os olhos azuis de desafio. Fui para o closet, onde peguei um dos vestidos da minha falecida noiva e joguei na cama.
- Use esse vestido. - Ordenei, virando-me para a porta.
- Pra quê?
- Você vai começar a trabalhar hoje!
- Mas são duas da manhã... - chorosa, ela contestou.
- Esse será o seu horário de trabalho.
Já que não tinha o que desejava, eu usaria aquela ragazza virgem num local que me daria lucros até decidir como e quando eu a tornaria minha.
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Juliette.
O vestido que eu usava era de um vermelho saturado, quase escuro, apertado na cintura e com um decote que desafiava a gravidade. Eu parecia uma peça de exibição.
A jornada até o clube foi silenciosa, com Gianni ao volante. Ele me deixou em uma entrada discreta.
A boate Luna del Vino era um inferno de mármore e seda, com música alta e o cheiro forte de álcool caro. A luz era baixa, tingida de púrpura, criando um ambiente em que tudo parecia luxuoso e perigoso.
Fui apresentada a uma mulher ruiva, alta e magra, com um olhar de desprezo fixo em mim.
- É a francesa virgem? - Ela indagou ao Gianni.
- Sim. O chefe avisou que a garota só vai servir as mesas.
- Andiamo, ragazza! - A mulher falou comigo. - Qual seu nome?
- Juliette.
- Aqui, seu nome será Satine - avisou ela, andando na minha frente. - Fale em francês quando servir as mesas de uísque - deu a ordem. - Seja rápida. A propósito, vai pagar por qualquer louça de cristal que quebrar.
Eu comecei a trabalhar. Minhas mãos tremiam. Eu não estava acostumada a equilibrar bandejas e, em duas horas, derrubei dois copos de gim tônica em uma mesa.
- Novata inútil! - A ruiva sibilou, puxando-me pelo braço para a despensa. - O Don não quer lixo aqui. Vá se limpar e pare de arruinar meu piso.
Eu voltei para o salão, tentando me mover com mais precisão. Eu estava na ponta dos pés, tensa, a cada passo esperando o próximo erro.
Foi na mesa do canto que ele me viu. Um homem grande, de terno cinza, com um sorriso pegajoso e olhos que me despiam. Ele me chamou.
- Ei, ragazza de olhos azuis.
- Oui, monsieur! - Atendi em francês como Aurora mandou.
- Uma linda francesa... Qual seu nome?
- Je m'appelle Satine.
- Satine, quero o uísque mais caro que você tiver. Quero que você me sirva na sala privada.
- Oui, monsieur! - Eu respondi, já saindo dali.
Peguei a garrafa de uísque de rótulo dourado e segui para a sala VIP. O ambiente ali era ainda mais silencioso e íntimo, com poltronas de couro e a luz ainda mais baixa.
Respirei fundo e me inclinei para servir a bebida em sua taça.
Foi nesse momento que o homem agarrou meu braço com força, puxando-me para o assento dele.
- Você veio com essa roupa provocante só para servir bebida? Vamos lá, não perca tempo.
- Não! - Lutei para me soltar daquele homem com barriga proeminente.
- Você fala meu idioma... uma puttana perfeita.
- Não sou uma puta!
Slap! O som ecoou na sala silenciosa quando minha mão atingiu o rosto dele com força.
O homem ficou paralisado por um segundo, e então seu rosto ficou vermelho de fúria. Ele me empurrou contra a poltrona. Minha cabeça bateu no estofamento de couro. Eu me encolhi, já sabendo o que viria.
O homem tirou o cinto da calça. O couro silvou no ar quando ele ergueu o braço. Eu fechei os olhos. Mas o golpe não veio.
Eu abri os olhos. O homem robusto estava cambaleando, com o sangue escorrendo do nariz quebrado. Atrás dele, estava uma figura alta e sombria de Don Vito Lucchese.