Treze Anos de Suas Mentiras
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Capítulo 2

A ligação terminou, deixando um silêncio ensurdecedor em seu rastro. As palavras da minha tia, o nome de Diogo, ecoavam no espaço vazio onde meu coração costumava estar. Bruno saiu da sala de reuniões, seu rosto uma máscara de compostura forçada. Ele me viu, congelada na alcova, e seus olhos se arregalaram de surpresa, depois se estreitaram com um lampejo de pânico. Seu cabelo perfeitamente penteado estava ligeiramente desgrenhado, um contraste gritante com sua aparência impecável de sempre. Ele parecia um homem pego na mentira, o que, claro, ele era.

"Alina?" ele sussurrou, sua voz um murmúrio rouco. "O que você está fazendo aqui?"

Eu olhei para ele, meu olhar inabalável, frio. "Acabei de ouvir o veredito", eu disse, minha voz plana, desprovida de qualquer emoção. Observei seu rosto se contorcer, a cor sumindo de suas bochechas. Sua mandíbula se contraiu, um músculo tremendo incontrolavelmente. Ele sabia o que eu queria dizer. Ele sabia que eu tinha ouvido tudo.

Ele deu um passo em minha direção, sua mão se estendendo, mas eu recuei, uma reação visceral que surpreendeu até a mim mesma. "Alina, meu bem, eu posso explicar", ele implorou, sua voz falhando. "Por favor, só me deixe explicar. Não é o que você pensa."

*É exatamente o que eu penso, Bruno. É pior.*

Ele tentou organizar seus pensamentos, seus olhos dardejando como se procurasse uma rota de fuga. "Eu... eu sei que parece ruim. Mas a Carla, ela estava sofrendo muito. Ela precisa de mim. Eu não podia simplesmente... abandoná-la."

Eu o observei, uma dor oca no peito. Ele ainda estava tentando justificar. Ainda a priorizando. Ele parecia tão genuinamente angustiado, tão digno de pena. Por um segundo fugaz, uma pontada do meu antigo afeto se agitou, um sussurro da garota que o amou por treze anos. Mas foi rapidamente afogado pela maré rugindo de traição e raiva.

"Eu ouvi a parte sobre a punição corporativa", eu disse, minha voz ainda estranhamente calma. "Você inventando o problema. Você aceitando a punição. Tudo por ela."

Seus ombros caíram. Ele parecia derrotado, exposto. "Alina, por favor. Só mais um pouco de tempo. Eu vou consertar isso, eu juro. Vou falar com a Carla. Vou fazê-la entender. Nós vamos nos casar, eu prometo. Desta vez, de verdade."

Suas palavras, antes os sons mais preciosos do mundo, agora pareciam cinzas na minha boca. Mais um pouco de tempo? Depois de cinco anos? Depois de cem sabotagens deliberadas? Quanto mais tempo ele poderia pedir? Meu silêncio foi minha resposta. Minha dor era um peso físico, pressionando meus pulmões, tornando impossível falar.

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, uma onda de tontura o atingiu. Ele tropeçou, agarrando o braço. Notei então, pela primeira vez, uma mancha escura se espalhando na manga de seu terno caro. Ele havia aceitado sua "punição". Um corte profundo, sangrando livremente. Ele deve ter feito isso após a votação do conselho, um show para eles, uma ferida autoinfligida para manter sua fachada de martírio.

"Bruno!" eu exclamei, um reflexo, apesar do meu coração partido.

Ele fez uma careta, a dor brilhando em seus olhos. "Está tudo bem. Só... um arranhão."

Mas não estava. A ferida parecia profunda. Ele precisava de atendimento médico. Meu cérebro de advogada entrou em ação, distante e prático, sobrepondo-se à devastação emocional por um momento.

Acabamos no pronto-socorro. As luzes fluorescentes zumbiam, lançando um brilho estéril no rosto pálido de Bruno. Um médico limpou e suturou a ferida, aplicando uma vacina antitetânica. Sentei-me em uma cadeira de plástico na sala de espera, observando-o através do vidro. A distância parecia apropriada. Necessária.

De repente, as portas se abriram com violência. Carla, com os olhos arregalados e injetados, o rosto manchado de lágrimas, entrou correndo. Ela usava uma blusa de seda frágil, seu cabelo escuro desgrenhado, como se tivesse acabado de sair da cama. Ela avistou Bruno, seu olhar fixo em seu braço enfaixado, e um grito estrangulado escapou de seus lábios.

"Bruno! O que aconteceu?!" ela gritou, correndo em direção a ele, alheia ao aviso do médico. "Meu Deus, seu braço! Quem fez isso com você?!"

Ela se virou, seu olhar furioso varrendo a sala, pousando em mim como um dardo venenoso. "Você! Foi você, não foi? Você o empurrou! Você o levou a isso!"

Meu queixo caiu. Sua audácia, sua suposição imediata da minha malícia, me deixou em silêncio.

Bruno, apesar da dor, a empurrou, sua voz afiada e inflexível. "Carla, pare. Isso não tem nada a ver com a Alina. É assunto meu. Fique fora disso."

Seu tom áspero pareceu chocá-la. Ela congelou, a boca aberta, lágrimas brotando em seus olhos. A imagem da inocência ferida, exatamente como ele a descrevera.

"Mas... mas Bruno", ela gaguejou, a voz trêmula. "Eu só... eu estava tão preocupada com você. Você não voltou para casa ontem à noite. Pensei que algo terrível tivesse acontecido."

"Eu te disse para ficar em casa", ele afirmou, a voz fria. "Isso não é da sua conta."

Seus ombros tremeram, e uma nova onda de lágrimas escorreu por seu rosto. Ela olhou para Bruno, depois para mim, seus olhos cheios de uma mistura de coração partido e ódio puro e adulterado. Ela se virou e fugiu do pronto-socorro, seus soluços ecoando no corredor silencioso.

Eu a vi partir, uma estranha mistura de emoções girando dentro de mim. Pena, talvez, por sua angústia óbvia. Mas principalmente, uma clareza arrepiante. Essa era a 'fragilidade' de que Bruno falava. Essa era a manipulação.

Bruno se virou para mim, seu olhar suplicante. "Alina, eu juro, ela fica assim às vezes. Ela não quer dizer isso. Ela é apenas... emocionalmente instável."

"Emocionalmente instável", repeti, as palavras com gosto de veneno. "Ou profundamente manipuladora."

"Não!" ele insistiu, talvez com veemência demais. "Ela não é. Ela está apenas... com medo. Ela perdeu os pais cedo, Alina. Ela se apega a mim. Ela tem pavor de ficar sozinha."

"E você permite que ela use esse medo para te controlar", afirmei, não como uma pergunta, mas como um fato simples e inegável. "Para controlar nossas vidas."

Ele estremeceu, a verdade em minhas palavras o atingindo visivelmente. "Eu vou consertar isso, Alina", ele disse, sua voz cheia de uma seriedade desesperada. "Vou mandá-la para longe. Conseguir a ajuda que ela precisa. Eu prometo. Só... não me deixe."

*Não me deixe.* As palavras pairavam no ar, pesadas com anos de expectativas não ditas e promessas não cumpridas. Mas era tarde demais. As palavras da minha tia, o nome de Diogo, já haviam plantado uma semente diferente em minha mente. Uma semente de fuga. De liberdade.

Eu olhei para ele, olhei de verdade, e pela primeira vez, não vi o homem que amava, mas um homem preso. Um homem cuja fraqueza se tornou uma arma contra mim. E eu soube, com uma certeza que se instalou profundamente em meus ossos, que eu não poderia mais fazer parte de sua gaiola dourada.

"Eu estou indo embora, Bruno", eu disse, minha voz mal um sussurro, mas que soou com a força de um decreto final.

Seus olhos se arregalaram, refletindo um medo cru e primitivo. "O quê? Não! Alina, você não pode. Para onde você iria?"

"Para algum lugar bem longe", respondi, meu olhar se perdendo na janela, nas luzes da cidade piscando à distância. "Um lugar onde eu possa respirar."

Ele tentou argumentar, suplicar, mas suas palavras foram abafadas pela eficiência estéril do hospital. Eu simplesmente me virei e fui embora, deixando-o com sua dor física e sua prisão emocional.

Os dias seguintes foram um borrão de eficiência fria e distante. Pedi demissão do meu lucrativo cargo de advogada corporativa, providenciando minha transferência para uma filial internacional do meu escritório. O choque da traição de Bruno foi tão profundo que quase me entorpeceu, permitindo que eu lidasse com a logística com uma calma que eu realmente não sentia. Cada documento assinado, cada e-mail enviado, era mais um passo para longe da vida que eu construí com ele, mais um tijolo colocado no caminho para o meu novo e desconhecido futuro.

Bruno ligou inúmeras vezes, suas mensagens escalando de súplicas a desespero. Ignorei todas. Eu estava indo embora. Não havia mais nada a ser dito.

Na véspera da minha partida, ele ligou novamente, sua voz cheia de uma excitação quase maníaca. "Alina! Ótimas notícias! Meu braço está cicatrizando perfeitamente. E eu tenho uma surpresa para você! Uma celebração especial. Só para nós. Amanhã à noite. Te pego às sete."

Uma surpresa. Uma celebração. Ele ainda não entendia. Uma risada amarga escapou dos meus lábios. Ele estava completamente alheio à cratera que havia deixado em minha vida.

Na noite seguinte, precisamente às sete, o sedan de luxo de Bruno parou. Carla estava no banco do passageiro. Meu estômago se contraiu. Claro.

"Carla?" perguntei, minha voz plana, enquanto entrava no banco de trás.

Bruno se virou, um sorriso forçado no rosto. "Ah, ela só queria nos desejar felicidades, não é, Carlinha?"

Carla ofereceu um sorriso sacarino que não alcançou seus olhos. "Sim, Alina. Estou tão feliz por vocês dois." Seus olhos, no entanto, continham um brilho malévolo.

Eu simplesmente assenti, meu olhar fixo na paisagem que passava. Eu não confiava nela, e não confiava nele.

Ele me vendou, um gesto brincalhão que agora parecia uma metáfora sinistra. "Sem espiar, meu amor. É uma surpresa!"

Eu deixei, minha mente estranhamente distante. Que diferença fazia? A cegueira era meramente física. Meus olhos haviam sido abertos.

O carro parou. Ele me ajudou a sair, me guiando para frente. O ar estava frio, carregando o leve cheiro de fumaça de cigarro velho e algo doce, como flores velhas. Ele desamarrou a venda.

Pisquei, me ajustando à luz fraca. Estávamos em um galpão abandonado. Partículas de poeira dançavam no único feixe de luz que se filtrava por uma janela suja. Uma faixa desbotada, pendurada desajeitadamente acima de nós, proclamava: "Parabéns, Alina & Bruno! A centésima vez é a que vale!"

Meu coração afundou. Este era nosso antigo 'lugar secreto'. Onde costumávamos fugir das funções de família, onde ele me disse pela primeira vez que me amava. A ironia era uma reviravolta cruel.

Ele sorriu, alheio ao pavor frio que se arrastava por mim. "Eu sei que é um pouco rústico, mas eu queria que fosse privado. Só nós. Nosso lugar."

Nosso lugar. Parecia profanado, barateado por seu estado atual. E por suas mentiras.

Ele estalou os dedos, e uma pequena banda que eu não havia notado no canto começou a tocar nossa música. Um único holofote iluminou uma mesa posta para dois, adornada com rosas murchas. Até as rosas pareciam cansadas, agarrando-se a uma beleza que há muito se fora.

"Eu reservei o lugar todo", ele anunciou orgulhosamente. "Como nos velhos tempos. Alina, meu amor, cem votos depois, e finalmente conseguimos."

Forcei um sorriso, meus lábios parecendo rígidos. "É... adorável, Bruno." As palavras tinham gosto de cinzas.

Meus olhos varreram a sala. A toalha de mesa de plástico barata, as flores murchas, a faixa ligeiramente torta. Estava tudo errado. Não era uma celebração. Era uma reencenação mal executada de um passado que não existia mais. Era como se ele estivesse tentando remendar a ferida aberta de sua traição com gestos sentimentais.

Bruno, no entanto, parecia alheio. Ele notou as rosas murchas primeiro. Sua testa franziu. "O que é isso? Estas não são as rosas que eu pedi! E a faixa está torta! Quem arrumou isso?" ele fumegou, virando-se para um coordenador de eventos encolhido nas sombras.

"Senhor, eu... eu tentei", gaguejou o coordenador, torcendo as mãos. "Mas a Sra. Monteiro, sua irmã, ela insistiu em fazer alguns... ajustes. Ela disse que o senhor queria uma 'sensação mais autêntica e rústica'."

O rosto de Bruno escureceu. Ele lançou um olhar furioso para Carla, que estava encostada em uma pilha de caixotes, lixando as unhas casualmente. Ela deu de ombros, uma expressão inocente de "Quem, eu?" no rosto.

"Carla!" Bruno rosnou. "O que você fez?"

"Só tentando ajudar, irmãozão", ela disse com um sorriso falso, seus olhos brilhando maliciosamente. "Você disse que a Alina amava coisas rústicas e naturais. Achei que ficou perfeito."

Bruno se virou para mim, tentando salvar a situação. "Alina, me desculpe. Ela sempre se mete. Ela simplesmente não entende."

Eu apenas me sentei, meus olhos fixos nas tristes rosas murchas. Meu coração era uma pedra.

Então, um garçom trouxe um bolo. Uma bela confeitaria de vários andares. No topo, uma noiva e um noivo em miniatura estavam desajeitadamente.

Eu olhei para ele, uma risada engasgada escapando dos meus lábios. O bolo estava adornado com lavanda de marzipã. Meus olhos ardiam.

"O que há de errado?" Bruno perguntou, perplexo.

"Lavanda", eu disse, minha voz vazia. "Eu sou extremamente alérgica a lavanda."

Os olhos de Bruno se arregalaram de horror. Ele se virou para Carla. "Carla! Você sabia! Você sabe que a Alina é alérgica a lavanda!"

Carla apenas deu de ombros, um sorriso de escárnio brincando em seus lábios. "Ah, eu sabia? Meu erro. São tantas flores, Bruno. É difícil lembrar de todas."

Bruno soltou um rugido de frustração. "Chega! Carla, cansei dos seus joguinhos!" Ele marchou em direção a ela, seu rosto uma máscara de raiva incandescente. "Vá para casa! Agora!"

Ele agarrou o braço dela, puxando-a em direção à saída. Ela tropeçou, depois fincou os calcanhares. "Não! Eu não vou embora! Quero ficar para a sua celebração!"

"Não há celebração!" Bruno trovejou. "Não com você aqui estragando tudo!"

Ele a arrastou para fora, seus gritos ecoando pelo galpão vazio. Eu os segui lentamente, atraída por uma curiosidade mórbida.

Ele a empurrou para um depósito empoeirado nos fundos. "Qual é o seu problema?" ele exigiu, sua voz tremendo de fúria. "Por que você sempre faz isso? Por que você tenta arruinar tudo para mim e para a Alina?"

Os olhos de Carla estalaram, selvagens e desesperados. "Porque eu te amo, Bruno! Você não vê? Eu só quero que você seja feliz! E ela não te faz feliz! Ela está te tirando de mim!"

Meu sangue gelou. As palavras, cruas e desequilibradas, eram uma confissão.

"Você não ama a Alina!" Carla gritou, sua voz falhando. "Você me ama! Sempre amou! Lembra de todas aquelas vezes, Bruno? Quando éramos crianças? Você sempre jurou que nunca me deixaria!"

Bruno enterrou o rosto nas mãos. "Carla, pare. Você é minha irmã. Minha irmã adotiva. É tudo o que você será."

"Não!" ela chorou, um brilho enlouquecido em seus olhos. "É mais do que isso! Sempre foi! Você só se recusa a admitir!" Ela se aproximou, sua voz caindo para um sussurro sedutor. "Você sabe o quanto eu te quero, Bruno. O quanto eu preciso de você. Mais do que ela jamais poderia."

Bruno a empurrou para trás. "Carla, pare com isso! Eu amo a Alina! Sempre amei!"

"Então por que você não se casou com ela em treze anos?" ela retrucou, um sorriso triunfante no rosto. "Por que você sempre me escolheu em vez dela? Por que você aceitou as punições, vez após vez, quando tudo o que tinha que fazer era dizer sim ao conselho?"

Ele estremeceu, a verdade das palavras dela o atingindo com força. Eu assistia da porta, um fantasma.

"Porque você estava sofrendo!" ele gritou, sua voz desesperada. "Porque eu me sentia responsável! Porque eu pensei que se eu apenas te desse tempo suficiente, você entenderia!"

"Entender o quê, Bruno?" ela ronronou, seus olhos fixos nele. "Que você é fraco demais para escolher? Que você me ama, mas é covarde demais para admitir?"

Ela se aproximou, sua mão alcançando o rosto dele. "Me beije, Bruno. Só uma vez. Prove que você ainda sente algo por mim."

Ele hesitou. Um lampejo de algo, culpa ou fraqueza, cruzou seu rosto. Meu coração martelava contra minhas costelas, um pássaro desesperado e moribundo.

"Você me deve isso", ela sussurrou, sua voz carregada de veneno. "Por todos os anos que esperei. Por todas as vezes que me sacrifiquei por você." Ela fez uma pausa, um brilho em seus olhos. "É meu aniversário, Bruno. E nosso aniversário de adoção. Você me prometeu qualquer coisa que eu quisesse."

Meu sangue gelou. O aniversário dela. Nosso aniversário. Ele havia esquecido. Ou talvez, ele simplesmente tivesse escolhido ignorar.

Bruno fechou os olhos, um gemido escapando de seus lábios. Ele se inclinou, um toque leve de seus lábios nos dela. Foi um beijo de obrigação, de resignação, de lealdade mal colocada.

Mas então, algo mudou. Os braços dela se envolveram em seu pescoço, puxando-o para mais perto. Sua mão livre, a que não ostentava um curativo, foi para a cintura dela, puxando-a de encontro a ele. O beijo se aprofundou. Tornou-se longo, demorado, uma traição que rasgou minha alma. Minha respiração falhou. Não era mais um beijo de pena. Era um beijo de paixão. Um beijo de posse.

Meu mundo se estilhaçou. Os últimos vestígios de esperança, os frágeis fios do meu amor, se romperam com um estalo ensurdecedor. Eu não senti nada além de um vazio frio e desolado.

Eles se separaram, ofegantes, seus olhos travados. O rosto de Carla estava corado de triunfo, um sorriso de escárnio brincando em seus lábios. Os olhos de Bruno, no entanto, continham uma estranha mistura de vergonha e algo mais, algo que eu não conseguia nomear.

Eles se viraram, como se em sincronia, e saíram do depósito, de mãos dadas. Bruno me viu, parada como uma estátua na porta, meu rosto uma máscara em branco. Seus olhos se arregalaram, depois se encheram de uma nova onda de pânico.

"Alina! Eu... eu só... eu estava tentando acalmá-la", ele gaguejou, sua voz desesperada, obviamente mentindo. "Eu a mandei embora. Ela não vai mais nos incomodar." Ele olhou para Carla, que me ofereceu um sorriso falso e apologético. "Não é, Carlinha?"

Carla riu, um som agudo e irritante. "Ah, Bruno, você é tão bobo. Nós só tivemos uma conversinha. Eu disse à Alina que sentia muito pelo bolo. Não é, Alina?" Ela piscou para mim, um ato flagrante de provocação.

Eu olhei para ela, depois de volta para Bruno, o homem que acabara de beijar sua irmã com uma paixão que raramente me mostrava. O homem que agora estava mentindo descaradamente, acobertando-a, defendendo-a. Minha visão embaçou, lágrimas picando meus olhos, mas me recusei a deixá-las cair. Não agora. Não na frente deles.

Fechei os olhos por um momento, uma risada amarga e oca escapando dos meus lábios. Esta era a minha história de amor. Uma comédia trágica de erros, orquestrada por ele, alimentada por ela.

Quando abri os olhos, todos os vestígios de emoção haviam desaparecido. Meu rosto era uma lousa em branco. Minha voz, quando veio, era firme, calma e totalmente desprovida de paixão.

"Bruno", eu disse, olhando-o diretamente nos olhos, "Acabou. Nós terminamos. E só para você saber, eu aceitei a proposta de casamento do Diogo Ramalho esta manhã."

            
            

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