Treze Anos de Suas Mentiras
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Capítulo 4

O ar no restaurante ficou denso, sufocando-me. *Minha mulher.* As palavras ecoavam em meus ouvidos, selando meu destino, extinguindo as últimas brasas de um amor moribundo. Senti-me tonta, desconectada do meu corpo. Eu precisava sair. Agora.

Levantei-me, minha cadeira raspando asperamente no chão, atraindo todos os olhares para mim. Meu sorriso educado parecia frágil, prestes a quebrar. "Com licença", murmurei, minha voz mal audível acima do silêncio atordoado. "Acho que já tive o suficiente por hoje. Foi... uma despedida interessante."

Virei-me e caminhei em direção à saída, sem olhar para trás, sem ousar. Cada passo era um esforço agonizante, mas eu segui em frente, impulsionada por uma necessidade desesperada de escapar da farsa tóxica.

"Alina! Espere!" A voz de Bruno, carregada de pânico, cortou o barulho. Ele correu atrás de mim, agarrando meu braço, seu toque agora indesejado, repulsivo. "Alina, por favor. Deixe-me explicar. Você sabe que eu não quis dizer aquilo daquele jeito. Eu só... eu tive que dizer alguma coisa. O Lucas passou dos limites."

Puxei meu braço, meu olhar frio e firme. "Você disse, Bruno. Você quis dizer. Essa é a verdade."

Seu rosto se contorceu em uma máscara de angústia. "Não! Eu só estava tentando proteger a Carla. Ela estava chateada. Você sabe como ela é sensível."

"Sensível", repeti, um gosto amargo na boca. "Ou manipuladora. Você sempre a escolhe, Bruno. Sempre."

Ele estremeceu, a acusação atingindo seu alvo. "Alina, por favor. Não faça isso. Eu te amo. Você sabe que eu amo. Este não é um bom momento para você tomar decisões precipitadas."

Eu olhei para ele, olhei de verdade, e vi um homem totalmente perdido, enredado em uma teia de sua própria autoria. Mas eu não podia salvá-lo. Eu só podia salvar a mim mesma. Suas palavras, suas desculpas, eram apenas ruído agora. A verdade real havia sido dita esta noite, alta e clara.

Nesse momento, Carla mancou para fora do restaurante, seu rosto manchado de lágrimas, seu tornozelo enfaixado a fazendo parecer ainda mais digna de pena. Ela nos viu, e seus soluços se intensificaram.

"Bruno!" ela lamentou, correndo em sua direção, ou melhor, mancando dramaticamente. "Oh, Bruno, estou com tanto medo! O Lucas foi tão mau! Por favor, me leve para casa. Não me sinto segura aqui." Ela lançou um olhar triunfante para mim por cima do ombro de Bruno.

O olhar de Bruno oscilou entre nós. Sua mandíbula se contraiu. Ele parecia dividido, mas eu já sabia o resultado. Ele sempre a escolhia.

Ele hesitou por um momento, uma pausa breve e agonizante. Meu coração, embora entorpecido, registrou o padrão familiar. A escolha já estava feita.

Nesse exato momento, um carro preto parou ao nosso lado. Minha carona. Sincronia perfeita.

Não pronunciei outra palavra. Não lhes dei outro olhar. Simplesmente abri a porta do carro e entrei, deixando Bruno e Carla parados sob o brilho forte das luzes da rua, para sempre entrelaçados em seu abraço tóxico.

De volta ao apartamento, levei menos de uma hora para terminar de fazer as malas. Fiquei apenas com uma pequena mala de mão, cheia de itens essenciais. O resto dos meus pertences, os anos de memórias acumuladas, providenciei para que uma empresa de transporte coletasse e armazenasse. Eu queria um rompimento limpo. Um novo começo. Desimpedida.

Bruno havia sumido, provavelmente ainda com Carla na casa dela, confortando-a. Ele havia ligado e mandado mensagens mais algumas vezes, recados de voz cheios de súplicas desesperadas e desculpas sem convicção por suas palavras na festa. Eu não respondi. O que havia para dizer? Ele já havia revelado suas verdadeiras prioridades. As ligações eventualmente pararam.

Na manhã seguinte, a campainha tocou insistentemente. Eu sabia que era ele. Abri a porta. Bruno estava ali, seu rosto gravado de fúria, seus olhos ardendo. Ele parecia um homem possuído.

"O que é isso, Alina?" ele rosnou, sua voz baixa e perigosa. "O que você fez?!"

Franzi a testa, genuinamente confusa. "Do que você está falando?"

"A família da Carla!" ele cuspiu, suas mãos se fechando em punhos. "Os pais dela! Você os comprou, não foi?! Você os pagou para abandoná-la!"

Minha mente girou. "O quê? Bruno, não tenho a menor ideia do que você está falando."

De repente, Carla apareceu atrás dele, seu rosto uma máscara de desespero fabricado. Ela agarrou o braço de Bruno, suas lágrimas fluindo livremente. "Ela está mentindo, Bruno! Ela sempre teve ciúmes de mim! Ela disse aos meus pais coisas terríveis sobre mim, sobre nós! Ela os comprou para que eles me cortassem! Ela quer que eu fique sozinha!"

Eu olhei para eles, sem palavras. A audácia. A pura e adulterada fabricação. "Carla, você sabe que isso não é verdade! Eu não falo com seus pais há anos!"

Mas Bruno não estava ouvindo. Seus olhos estavam fixos em mim, duros e acusadores. "Não minta, Alina! A Carla me contou tudo! Você sempre a odiou! Você é uma mulher vingativa e cruel!"

Ele me empurrou, com força, suas mãos em meus ombros. Tropecei para trás, perdendo o equilíbrio no piso de madeira polida. Minha cabeça bateu na quina da mesa de centro com um baque surdo. Uma dor aguda e lancinante explodiu atrás dos meus olhos, e um líquido quente e pegajoso escorreu pela minha têmpora.

Bruno viu o sangue, me viu deitada no chão, e por uma fração de segundo, seu rosto se suavizou. Um lampejo de preocupação genuína. Mas então, os fungados de Carla, seus suspiros exagerados, chamaram sua atenção. Ele olhou para ela, depois de volta para mim, e seu rosto endureceu mais uma vez.

"Peça desculpas para a Carla, Alina", ele exigiu, sua voz fria e implacável.

Olhei para ele, o sangue embaçando minha visão, uma risada amarga escapando dos meus lábios. "Pedir desculpas? Pelo quê? Pelas mentiras dela? Pela sua cegueira?"

"Peça desculpas, Alina!" ele repetiu, sua voz se elevando, uma veia pulsando em sua têmpora. "Ou eu juro, nunca vou te perdoar."

Lentamente, me levantei, minha cabeça latejando, meu corpo doendo. Meu olhar, embora embaçado, era inabalável. "Então não perdoe", afirmei, minha voz clara e firme. "Nunca me perdoe. Porque não vou pedir desculpas por algo que não fiz. E não vou pedir desculpas por ver a verdade."

Ele me encarou, seus olhos arregalados com uma mistura de raiva e incredulidade. "Ótimo", ele rosnou, sua voz pingando veneno. "Então acabou, Alina. De verdade. Você fez sua escolha."

Ele agarrou a mão de Carla, puxando-a protetoramente para trás de si, e saiu do apartamento, batendo a porta com um estrondo retumbante que ecoou no silêncio.

Fiquei ali, sozinha novamente, o sangue pingando na minha camisa branca impecável, uma nova ferida adicionada à coleção dos últimos cinco anos. Meu celular vibrou novamente. Desta vez, era um itinerário. Um cronograma detalhado para o meu casamento com Diogo Ramalho, enviado pela família dele. A realidade da minha nova vida, um futuro que eu havia escolhido, solidificou-se em minha mente.

Respirei fundo e trêmula, a dor na minha cabeça uma pulsação surda. Peguei minha mala de mão, limpei o sangue da minha têmpora com as costas da mão e saí do apartamento, trancando a porta atrás de mim. Não olhei para trás. Não havia mais nada para ver. Nada mais para sentir.

Enquanto me dirigia ao aeroporto, um único pensamento se cristalizou em minha mente: *Ele não estará lá. Ele não fará parte disso. E isso, finalmente, é um alívio.*

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Bruno andava de um lado para o outro em seu escritório, um turbilhão de raiva e confusão. Ele acabara de passar horas na casa dos pais de Carla, ouvindo sua história cuidadosamente ensaiada da "manipulação" e "subornos" de Alina. Ele os forçara a assinar um documento prometendo cortar os laços financeiros com Carla, uma tentativa fútil de aplacar a suposta raiva de Alina. Ele sentia uma sensação distorcida de vitória envolta em um manto de fúria autojustificada.

Seu celular vibrou. Era seu antigo grupo de bate-papo do exército, agitado com conversas.

*Vocês viram?*

*A grande notícia?*

*Sim! O CEO do Grupo Ramalho finalmente vai se casar!*

*Nosso garoto Diogo! Sempre soube que ele ia fisgar uma boa.*

Bruno franziu a testa, percorrendo as mensagens. Diogo Ramalho. O CEO rival. Dinheiro antigo, influência formidável. Ele respeitava Diogo, mesmo que fossem concorrentes. Ele tocou em uma nova mensagem, um link para uma notícia.

*Diogo Ramalho se casará com a prodígio do direito corporativo Alina Bastos em cerimônia privada.*

As palavras o atingiram como um golpe físico. Alina. Bastos. Sua Alina. Seu estômago despencou, uma reviravolta fria e doentia. Seus olhos se fixaram nos nomes, as palavras embaçando e focando, embaçando e focando. Isso não podia estar certo. Tinha que ser uma piada. Um erro.

                         

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