O vídeo se tornou viral, envenenando todos os cantos da internet. Mostrava fragmentos, distorcidos e editados, de Léo se debatendo, Mateus rindo. Mas a narrativa que ele criava era monstruosa. Pintava Léo como o agressor, uma criança violenta e instável. Mateus, a vítima, chorando, aterrorizado. Era uma mentira digital, meticulosamente elaborada, projetada para destruir.
A seção de comentários explodiu. Minhas redes sociais, antes um espaço tranquilo de memórias compartilhadas, tornaram-se uma fossa de ódio. "Abusadora de crianças!" "Mãe péssima!" "Tal mãe, tal filho!" As palavras queimavam, cada uma uma nova ferida.
Então, a escola ligou novamente. Léo estava suspenso. Indefinidamente. "Para a segurança dos outros alunos", disseram. Para a segurança de Mateus, mais provavelmente.
Tentei ligar para minha advogada, sua assistente, qualquer um que pudesse ajudar. Caixa postal. Sinal de ocupado. Nenhuma resposta. Caio havia construído um muro ao meu redor, mais grosso e mais alto do que eu poderia imaginar. Eu estava isolada. Sozinha.
O desespero era uma dor física, um vazio cru e roedor. Pela primeira vez, eu senti. A verdadeira e aterrorizante descida ao desespero. Minha respiração engasgou. Era isso. Este era o fundo do poço.
Meu telefone tocou, um som estridente no silêncio repentino. Era Caio.
"Clara", sua voz era suave, enganosamente calma. "Vamos acabar com isso. Desista do processo. Faça tudo isso desaparecer."
Minhas mãos se fecharam, os nós dos dedos brancos. "Desaparecer? Você acha que isso simplesmente 'desaparece'?"
"Eu posso consertar as coisas", ele continuou, como se eu não tivesse falado. "Posso conseguir seu emprego de volta. Colocar o Léo de volta na escola. Podemos voltar a ser como antes."
Uma risada gutural rasgou minha garganta. "Como antes? Você quer dizer, antes de você me trair? Antes de deixar nosso filho ser brutalizado? Antes de você destruir minha vida?" Minha voz subiu, um grito cru e selvagem. "Você quer voltar? Não dá pra voltar, Caio! Você já queimou tudo!"
Ele ficou em silêncio por um longo momento. Quase pude ouvi-lo suspirar. "Você está sendo teimosa, Clara. Está cometendo um erro."
"O único erro que cometi foi confiar em você!", gritei, e então joguei o telefone do outro lado da sala. Ele se estilhaçou contra a parede, espalhando plástico e metal.
Léo apareceu na porta, o rosto pálido, os olhos arregalados. Ele parecia um fantasma. "Mamãe?", ele sussurrou, a voz trêmula. "O papai vai nos deixar?"
Corri para ele, puxando-o para meus braços, enterrando meu rosto em seu cabelo. Acariciei sua cabeça, sentindo o calor suave de sua pele. "Não, meu amor", engasguei, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Não. Eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui."
O vídeo falso se espalhou como fogo em nosso bairro suburbano tranquilo e arborizado. Sussurros se transformaram em olhares, depois em hostilidade aberta. Vizinhos, antes amigáveis, atravessavam a rua para me evitar. Seus olhos, antes calorosos, agora continham suspeita, nojo.
Uma noite, um carro parou em frente à nossa casa. Era a Sra. Almeida, uma mulher que eu conhecia há anos. Ela abaixou o vidro, o rosto contorcido em um desprezo. "Você merece o que está por vir, sua monstra!", ela gritou, antes de acelerar e ir embora.
Caio não voltou para casa naquela noite. Nem na seguinte. Nem na outra. Três dias. Três noites. Ele se foi.
Sentei-me no escuro, agarrando Léo, uma faca de cozinha fria e pesada ao meu lado. Cada rangido do assoalho, cada farfalhar de folhas lá fora, enviava um choque de terror através de mim. Eu era um animal encurralado, protegendo sua cria. Eu não dormi. Apenas observei. E esperei.
Na terceira manhã, exausta e com os olhos fundos, tirei Léo de casa. Tínhamos que fazer isso. Tínhamos que enfrentá-los.
As escadarias do fórum estavam lotadas. Um mar de repórteres, câmeras piscando e rostos raivosos. Eles avançaram quando nos viram, uma cacofonia de perguntas e acusações.
"Você é a mãe que abusou do próprio filho?"
"Por que você mentiu sobre o bullying?"
"Onde está seu marido, Sra. Hayden?"
Eles se aproximaram, um muro sufocante de ódio. Alguém cuspiu. Outro empurrou. Léo gritou, sua mãozinha agarrando a minha como uma tábua de salvação. Eu cambaleei, protegendo-o com meu corpo, a cabeça baixa, abrindo caminho pela multidão hostil.
"Fiquem longe de nós!", gritei, minha voz falhando.
Tropeçamos pelas portas, passamos pelos detectores de metal e entramos na calma relativa do saguão do tribunal. Minha perna estava arranhada, sangrando. Léo tinha um novo hematoma na bochecha. Mas estávamos dentro.
Enquanto me endireitava, recuperando o fôlego, eu os vi. Caio, impecável em um terno sob medida, estava com Betina Moraes. Ela segurava seu braço, uma imagem de preocupação recatada. Ele encontrou meus olhos do outro lado da sala. Um sorriso frio e conhecedor brincou em seus lábios. Era uma mensagem silenciosa: eu te disse que isso aconteceria.