As palavras de Alexandre, "Nosso menino precioso. Um filho", ecoaram nos confins silenciosos do meu carro, ricocheteando nas janelas e se chocando contra minha alma. Minhas mãos tremiam, o volante de repente muito frio, muito duro sob meus dedos. Observei enquanto ele guiava Carla, tão frágil e inchada, para dentro da clínica. Seu olhar, antes tão devotado a mim, agora estava fixo nela, transbordando de uma ternura que eu não via há anos.
Carla, sentindo sua preocupação, se aninhou nele. "Sabe, Alexandre, minha mãe está perguntando quando você vai fazer de mim uma mulher honesta", ela ronronou, sua voz um pouco mais forte agora, tingida com uma exigência brincalhona, mas inconfundível. "E o bebê, querido. Ele vai precisar do nome do pai, não vai?"
Alexandre enrijeceu, olhando ao redor como se temesse bisbilhoteiros. "Carla, agora não. Já conversamos sobre isso. Me dê tempo. Tudo será resolvido discretamente." Seu tom era apaziguador, mas uma pitada de frustração coloria suas palavras.
"Tempo? A gente está prestes a estourar!", ela retrucou, um lampejo de raiva em seus olhos. Ela então sorriu, um brilho manipulador em seu olhar. "A menos que você queira que eu conte para a Helena tudo sobre nossa pequena família? Ela sempre quis um filho, não é? Tenho certeza de que ela ficaria emocionada em saber que vai ter um, mesmo que não seja dela." Sua voz era um sussurro venenoso, mas alto o suficiente para perfurar a frágil paz da tarde.
O rosto de Alexandre endureceu. Ele agarrou o braço dela, seus dedos cravando em sua pele. "Não se atreva, Carla. Nunca me ameace. A Helena não tem nada a ver com isso. Isso é sobre nosso filho e nosso futuro. Você entende?" Sua voz era baixa, ameaçadora, um lado dele que eu nunca tinha testemunhado.
Carla, apesar da raiva, pareceu saborear sua resposta feroz. Ela se inclinou em seu toque, seus olhos brilhando. "Ah, querido, você é tão feroz quando está protetor. É excitante." Ela envolveu os braços em volta do pescoço dele, puxando-o para mais perto. "Vamos, vamos comemorar nosso segredinho, hm? Na minha casa. Eu tenho aquele champanhe vintage que você adora." Ela pressionou o corpo contra o dele, seu olhar o desafiando.
Ele hesitou por um momento, então, com um suspiro que soou mais como rendição do que resistência, ele assentiu. Ele a beijou, um beijo profundo e apaixonado, sua mão acariciando sua barriga crescente. Eles voltaram para o carro dele, o veículo balançando ligeiramente enquanto se acomodavam. Então, o carro começou a se mover. Não em direção à entrada da clínica, mas para um canto mais isolado do estacionamento, envolto por árvores.
O carro estremeceu, depois começou a balançar ritmicamente. Meu sangue gelou. Meu estômago se revirou, uma mistura volátil de náusea e repulsa. Os sons, abafados, mas inconfundíveis, chegaram aos meus ouvidos. Cada gemido, cada suspiro, rasgava meu próprio ser. Era uma afirmação crua e vulgar de sua intimidade, uma representação física da profanação total do meu casamento.
Meu coração parou, uma dor aguda e excruciante que me roubou o fôlego. Minha visão embaçou, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, quentes e ardentes. Aquele homem, Alexandre, meu marido, o homem que eu amava, o homem a quem eu entreguei minha vida, foi reduzido a isso. Um traidor, um mentiroso, realizando um ato tão baixo com outra mulher, enquanto ela carregava seu filho. E eu estava assistindo.
Eu acreditei em Alexandre. Eu o vi como a antítese do meu próprio pai mulherengo, um homem cuja traição estilhaçou minha infância. Alexandre tinha sido meu refúgio seguro, minha promessa de algo puro e duradouro. Ele me abraçou, me consolou, jurou fidelidade eterna. Ele construiu essa mentira perfeita e linda ao meu redor, tijolo por tijolo, até que se tornou meu mundo inteiro. E agora, em um único momento de cortar o coração, ele incendiou tudo. Ele era um completo estranho para mim, um monstro envolto em um rosto familiar. Meu amor por ele, antes ilimitado, virou cinzas na minha boca.
O carro parou de tremer. O motor roncou, voltando à vida. Eles estavam saindo. Fechei os olhos com força, desejando poder desver, desouvir, apagar este momento da existência. A imagem deles, entrelaçados e sem vergonha, estava gravada em minhas pálpebras. A imagem do chupão no pescoço de Carla, o brilho triunfante em seus olhos, as mãos de Alexandre em sua barriga de grávida. Era tudo um pesadelo cruel e distorcido.
Liguei meu próprio carro, minhas mãos agarrando o volante, meus nós dos dedos brancos. Minha mandíbula doía de tanto apertá-la. Dirigi, cegamente, pelas ruas da cidade, o mundo lá fora um borrão. As paredes brancas imaculadas da minha galeria, as linhas elegantes da nossa cobertura, a vida cuidadosamente curada que havíamos construído – tudo parecia uma zombaria vazia agora.
Imagens passaram pela minha mente: Alexandre, no dia do nosso casamento, olhando para mim com o que eu pensei ser adoração, sussurrando: "Eu vou te valorizar, Helena, sempre e para sempre. Meu coração, minha alma, minha vida são seus." Ele me prometeu filhos, uma família. Ele me prometeu um amor que nunca vacilaria, uma lealdade que nunca se curvaria. "Eu nunca serei como seu pai, Helena", ele disse, segurando minhas mãos trêmulas. "Eu nunca vou te trair."
A ironia era um gosto amargo. Ele não apenas me traiu. Ele orquestrou uma tortura psicológica lenta e agonizante. Ele roubou meus sonhos, distorceu meus desejos e me alimentou com mentiras disfarçadas de esperança. E tudo por um filho que ele não podia ter comigo, um filho que ele desejava mais do que a mim. O filho, o herdeiro, o nome da família. Era tudo o que importava. Eu era apenas a esposa conveniente e decorosa, usada como um escudo enquanto ele construía sua família de verdade em outro lugar.
Meu celular vibrou. Uma mensagem de texto. De Alexandre. *Sinto muito, querida. Aquela 'crise no escritório' me segurou mais do que o esperado. Mas vou compensar. Grandes planos para o seu aniversário. Uma surpresa que você nunca vai esquecer. Eu te amo, minha Helena.*
Olhei para as palavras, uma risada fria e sem humor escapando dos meus lábios. Grandes planos. Uma surpresa. Ah, ele não tinha ideia do tipo de surpresa que o aguardava. Ele pensou que ainda podia me manipular, ainda controlar a narrativa. Ele pensou que eu ainda era a esposa ingênua e confiante.
Um pensamento perigoso, frio e preciso, começou a se formar em minha mente. Ele não se divorciou de mim. Por quê? Era por aparências? Pela reputação de sua família? Ou porque ele simplesmente não podia se dar ao trabalho com a inconveniência bagunçada de terminar nossa farsa? Seja qual for o motivo, foi um erro que ele logo se arrependeria.
Entrei na nossa garagem, minha mente estranhamente calma, a tempestade de emoções substituída por uma clareza arrepiante. Eu tinha uma festa de aniversário para planejar. Uma festa grandiosa e inesquecível. Uma celebração de despedida.
Andei pela casa, meu olhar demorando nos objetos que antes me traziam alegria. Uma foto emoldurada do dia do nosso casamento, minha mão na dele, nossos sorrisos brilhantes e cheios de promessas. Um delicado vaso de porcelana que ele me comprou na Itália. A poltrona de veludo macio onde passamos inúmeras noites, sonhando com nosso futuro. Cada item agora parecia manchado, um monumento às suas mentiras.
Eu os juntei, um por um. As fotos emolduradas, os pequenos presentes, tudo que representava "nós". Na cozinha, encontrei a caneca meio vazia do "chá de fertilidade" de Alexandre. Despejei o conteúdo na pia, o líquido escuro girando, levando consigo anos de falsa esperança. Então, com uma súbita e feroz determinação, quebrei a caneca contra o balcão. A cerâmica se estilhaçou, um estalo agudo e satisfatório.
Enquanto limpava os cacos, meus dedos roçaram em algo duro e encadernado em couro, escondido atrás de uma pilha de revistas velhas. Era o antigo diário de Alexandre, aquele que ele mantinha durante nosso namoro, cheio de sua caligrafia elegante. Eu não o via há anos. Uma pontada de algo parecido com curiosidade, um desejo mórbido de revisitar o passado, me fez pegá-lo.