Gênero Ranking
Baixar App HOT
Seis Anos de Amor Envenenado
img img Seis Anos de Amor Envenenado img Capítulo 4
4 Capítulo
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

O diário de couro parecia pesado em minhas mãos, uma relíquia de uma era aparentemente passada. Eu não o via desde antes do nosso casamento. Alexandre sempre foi reservado sobre sua escrita, alegando que continha seus pensamentos mais profundos, sagrados demais para qualquer um ler, exceto ele. Agora, uma curiosidade estranha e mórbida me compelia. Abri-o, as páginas frágeis sussurrando segredos.

Sua caligrafia elegante preenchia as páginas, narrando nosso namoro, nossos primeiros dias. *Helena. O sorriso dela ilumina a sala. Sua paixão pela arte rivaliza com minha própria ambição. Ela é tudo que eu nunca soube que precisava.* Cada entrada era uma declaração de amor, uma promessa de devoção eterna. Ele havia escrito sobre minha bondade, minha inteligência, meu "espírito inabalável". Ele havia preenchido páginas com visões do nosso futuro: uma casa movimentada, noites passadas discutindo arte e negócios, e a alegria tranquila de envelhecer juntos. *Ela é meu mundo, minha âncora, minha alma gêmea.*

Lágrimas brotaram em meus olhos, borrando as palavras, mas não eram lágrimas de tristeza. Eram lágrimas de uma ironia amarga e escaldante. Meu mundo, minha âncora, minha alma gêmea. As palavras pareciam uma zombaria cruel agora, vazias e sem sentido. Este homem, que havia escrito sentimentos tão ternos, era o mesmo homem que acabara de me usar como uma cobertura conveniente para seu caso sórdido, que havia envenenado meu corpo e que agora estava começando uma família com outra mulher. O amor que ele professara, o futuro que ele pintara, não passava de uma mentira elaborada e meticulosamente construída.

Minhas lágrimas pingaram no papel envelhecido, manchando as palavras cuidadosamente escritas. Foi uma profanação, um insulto final ao fantasma do homem que eu pensei conhecer. Com uma súbita e visceral onda de repulsa, arranquei página após página, rasgando suas mentiras eloquentes em confete. Então, caminhei até a lareira, acendi um fósforo e observei enquanto o edifício cuidadosamente construído de seu amor virava fumaça, enrolando-se em preto nas bordas, depois desmoronando em cinzas.

Quando a última brasa morreu, meus olhos captaram outra coisa, escondida no fundo do baú antigo onde o diário estava. Uma pequena caixa de madeira entalhada. Tinha um fecho delicado, quase invisível. Abri-o, meus dedos tremendo ligeiramente. Dentro, aninhada em uma cama de veludo desbotado, havia uma fotografia.

Era a foto de uma jovem, impossivelmente bonita, com cabelos escuros longos e esvoaçantes e olhos que brilhavam com um brilho travesso. Ela estava sorrindo, um sorriso radiante e desinibido. Ela parecia familiar. Familiar demais. Então a ficha caiu. Era Carla. Mais jovem, sim, mas inconfundivelmente ela.

Minha respiração ficou presa na garganta. Virei a foto, meu coração batendo um ritmo frenético contra minhas costelas. Sua caligrafia, em laços e ousada, cobria o verso. *Para meu querido Alexandre, meu amor eterno. Sempre e somente sua. 10 de maio de 2012.*

10 de maio de 2012. A data do meu casamento. A data do meu casamento.

O mundo girou. Meus joelhos cederam e eu caí no chão, a fotografia caindo de meus dedos dormentes. 10 de maio de 2012. O dia em que Alexandre Pires ficou diante de mim, olhou nos meus olhos e jurou me amar e me valorizar por todos os seus dias. O dia em que ele, ao que tudo indicava, começou um caso com Carla Gomes.

Não foi apenas uma traição recente. Não foi um momento de fraqueza. Foi um engano calculado e de longo prazo, que remonta ao início do nosso casamento. Todo o meu relacionamento, toda a nossa vida juntos, era uma farsa. Uma ilusão cuidadosamente construída para apaziguar sua família, para manter sua imagem pública, enquanto ele vivia uma vida dupla.

A constatação foi um soco no estômago, roubando meu fôlego, me deixando ofegante. Todos aqueles anos, todos aqueles sonhos, todos aqueles momentos de intimidade que eu valorizava – todos foram construídos em areia movediça. Ele não apenas partiu meu coração; ele estilhaçou minha realidade. Eu o odiava. Odiava suas mentiras, sua arrogância, sua pretensão doentia de amor. E eu me odiava, por ser tão ingênua, tão desesperadamente ansiosa para acreditar em um amor perfeito que nunca existiu.

Arrastei-me de volta para o quarto, meu corpo pesado de desespero. Eu queria desaparecer, sumir no ar. Peguei meu celular, meus dedos dormentes. A tela se acendeu, mostrando meu feed de mídia social. E lá estava. Uma postagem de Carla Gomes. Uma foto dela e de Alexandre, rindo, brindando com taças de champanhe. *Comemorando nosso pequeno marco particular.* A legenda era inocente o suficiente, mas o subtexto gritava.

Então, uma notificação de mensagem de texto piscou na minha tela. De Carla. Um número diferente. Senti um pavor frio, mas cliquei. Era uma colagem de fotos. Alexandre, em vários cenários íntimos com Carla. Alexandre a beijando. Alexandre segurando sua mão. Alexandre, com o braço em volta dela, o rosto radiante enquanto olhava para sua barriga inchada. E então, uma foto de um frasco de prescrição. "Suplementos de Fertilidade Naturais". Um close-up do rótulo. O ingrediente ativo: um potente contraceptivo de longo prazo.

A mensagem que acompanhava era curta, brutal e totalmente triunfante: *Ele sempre me amou, Helena. Você era só o estepe. E aquele 'remédio' que ele te dava? Funcionou perfeitamente, não é? Aproveite sua vida estéril. Meu filho vai chamar ele de 'papai'.*

Minha visão se afunilou. Um grito primal rasgou através de mim, mas nenhum som escapou dos meus lábios. Isso não era apenas traição; era um ataque psicológico, um desmantelamento sistemático da minha identidade, da minha feminilidade, do meu próprio propósito. Ele me envenenou, me manipulou, roubou meus sonhos e depois desfilou suas verdadeiras intenções com a mesma mulher com quem ele estava desde o dia do nosso casamento.

Salvei as fotos, as mensagens, cada pedaço de evidência condenatória. Então, com uma calma arrepiante, bloqueei o número de Carla. A raiva que me consumiu foi substituída por uma precisão fria e cirúrgica. Meu coração estava partido, sim, mas minha mente estava mais clara do que nunca.

Deitei-me, a cama parecendo vasta e vazia, o silêncio do quarto um contraste gritante com a cacofonia em minha cabeça. Eu não dormi. Eu planejei. A grande celebração de aniversário que Alexandre havia planejado para mim, sua "surpresa", seria de fato inesquecível. Mas não da maneira que ele imaginava.

Na manhã seguinte, Alexandre se ajoelhou ao lado da minha cama, o rosto gravado de preocupação, uma imagem perfeita de um marido devotado. "Helena, querida, sinto muito. Não queria te deixar sozinha ontem à noite. Aquele problema no escritório era realmente urgente." Ele pegou minha mão, seu toque enviando arrepios de repulsa pela minha espinha. "Você está se sentindo melhor?"

Suas palavras, seu toque, pareciam lixa contra meus nervos em carne viva. Eu não sentia nada além de um profundo vazio. "Estou bem, Alexandre", eu disse, minha voz plana. "Só um pouco... sobrecarregada." Olhei para ele, olhei de verdade, e vi apenas um estranho, um mestre do engano.

"Eu sei, meu amor", disse ele, sua voz grossa com o que soava como remorso fabricado. "Eu estive pensando. Eu te negligenciei. Estive tão focado no trabalho. Mas não mais. Eu prometo." Ele apertou minha mão. "Qualquer coisa, Helena. Qualquer coisa que você quiser. É só pedir."

Um sorriso frio tocou meus lábios. "Qualquer coisa?"

Ele assentiu ansiosamente. "Qualquer coisa."

"Ótimo", eu disse, sentando-me. "Tenho três pedidos, então. Primeiro, quero acesso à conta offshore que você abriu para a expansão da minha galeria. Preciso tomar algumas decisões executivas. Segundo, quero uma reforma completa nos sistemas de segurança da cobertura. Terceiro..." Fiz uma pausa, deixando o silêncio pairar. "Quero que a Dona Joana tenha um mês de licença remunerada. Ela tem trabalhado demais."

Ele piscou, surpreso, mas então um sorriso aliviado se espalhou por seu rosto. Eram pedidos triviais, facilmente concedidos, um pequeno preço a pagar pelo meu aparente perdão. "Considere feito, querida! Tudo. Qualquer coisa por você." Ele sorriu, claramente pensando que estava livre. "É só isso, meu amor? Estamos bem?"

"Quase", eu disse, minha voz suave, quase um sussurro. "Há mais uma coisa. Para a minha celebração de aniversário esta noite. Quero algo... especial. Uma surpresa para todos. Especialmente para você."

Ele riu, me alcançando. "Uma surpresa? Que tipo de surpresa, minha esposa enigmática?"

Afastei-me, meu olhar inabalável. "Ah, apenas o tipo de surpresa que vai mudar tudo. Você vai ver."

Anterior
                         
Baixar livro

COPYRIGHT(©) 2022