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Seis Anos de Amor Envenenado
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Seis Anos de Amor Envenenado

Autor: Gavin
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Capítulo 1

Meu marido, Alexandre, me deu "suplementos de fertilidade" todas as manhãs durante seis anos. Eu bebi cada gota, desesperada pelo filho que ele prometeu que teríamos. Mas meu corpo permaneceu teimosamente vazio.

Então, no meu aniversário de 40 anos, descobri a verdade. Os suplementos eram anticoncepcionais. E a amante dele estava grávida do filho que ele sempre quis.

Ela me mandou um vídeo de Alexandre beijando sua barriga de grávida.

"Ele sempre me amou", dizia o texto. "Você era só o estepe. Aproveite sua vida estéril."

O homem em quem eu confiava me envenenou sistematicamente, roubando meu sonho de ser mãe enquanto construía sua família de verdade com outra mulher.

Ele me manipulou por anos, me fazendo acreditar que o problema era eu, que eu era quebrada, tudo isso enquanto vivia uma vida dupla que começou no dia do nosso casamento.

Naquela noite, na luxuosa festa de aniversário que ele deu para mim, ele planejou uma "surpresa romântica" em um telão gigante para todos os nossos amigos e familiares. Ele não tinha ideia de que eu tinha uma surpresa própria.

Capítulo 1

Meu desejo era simples, sussurrado na luz trêmula das velas, uma prece silenciosa que foi a base da minha vida por anos: segurar um filho meu, um pacotinho de amor feito de mim e de Alexandre. Mas naquela noite, enquanto a última vela brilhava, meu desejo se transformou em algo muito mais sombrio, um voto que eu sabia que manteria: eu desejei nunca mais ver Alexandre Pires.

A virada aconteceu no meu quadragésimo aniversário, um dia que deveria ser de celebração, mas se tornou o ponto de ruptura da minha vida. Por seis anos, Alexandre e eu fomos casados, navegando pelo mundo cintilante da elite de São Paulo. Ele era o magnata da tecnologia brilhante; eu, a apaixonada dona de uma galeria de arte. Nossa imagem pública era impecável, um testamento de sucesso e amor duradouro. Mas por trás das portas fechadas da nossa cobertura nos Jardins, uma dor silenciosa e persistente havia crescido: nossa incapacidade de conceber.

Minhas amigas, coitadas, sempre tão bem-intencionadas, costumavam brincar comigo sobre isso. "Helena, quando vamos ver um Pires júnior correndo pela sua galeria?", elas perguntavam, com vozes leves, sem saber que tocavam numa ferida aberta. Eu sorria, um sorriso ensaiado e frágil, e Alexandre sempre intervinha, com o braço em volta da minha cintura, um aperto reconfortante. "Em breve, querida", ele dizia, sua voz grave e consoladora. "A Helena só precisa de um pouco mais de tempo para se concentrar na arte dela."

Ele era sempre tão solidário, tão compreensivo. Ele pesquisou meticulosamente "suplementos de fertilidade naturais" para mim, insistindo que eram muito melhores do que os procedimentos médicos invasivos que eu comecei a considerar. Todas as manhãs, ele trazia uma caneca quente para a minha cama, a mistura de ervas cheirando vagamente a ginseng e algo mais que eu não conseguia identificar. Eu bebia, todos os dias, com a fé inabalável de uma mulher desesperada por um filho e totalmente devotada ao marido.

Mas os anos passaram e meu corpo permaneceu teimosamente vazio. As decepções mensais começaram a abrir buracos na minha alma. Eu me culpava, convencida de que minhas origens humildes de alguma forma me tornavam indigna, menos fértil que as mulheres da linhagem prestigiosa de Alexandre. Seus pais, sempre educados, tornaram-se cada vez mais diretos em suas perguntas. "Um herdeiro homem é importante, Helena", a mãe de Alexandre disse uma vez, seu sorriso não alcançando os olhos.

Decidi que era hora de uma intervenção médica de verdade. Chega de remédios "naturais". Eu precisava de respostas, de um caminho claro. Marquei uma consulta com um dos melhores especialistas em fertilidade da cidade. Naquela manhã, eu estava vibrando com uma mistura de medo e esperança.

Eu estava saindo, com as chaves na mão, quando vi o carro de Alexandre. Não estava estacionado em seu lugar habitual em frente ao nosso prédio. Estava parado a uma quadra de distância, discretamente escondido atrás de um caminhão de entregas. Algo naquilo parecia errado. Era muito cedo para sua saída habitual para o escritório, e seu motorista, sempre pontual, não estava à vista. Alexandre estava dirigindo.

Um calafrio percorreu minha espinha, frio e agudo. Eu disse a mim mesma que não era nada, apenas uma mudança na rotina. Mas a vozinha dentro de mim, aquela que eu geralmente ignorava, me incitou a seguir. Foi um impulso, um sussurro de suspeita que eu não conseguia afastar. Chamei um Uber, meu coração batendo um ritmo errático contra minhas costelas. "Siga aquele carro", eu disse ao motorista, as palavras parecendo teatrais e absurdas mesmo enquanto eu as pronunciava.

O carro de Alexandre serpenteou pelas ruas da cidade, eventualmente nos levando para fora da malha urbana familiar e para uma área mais tranquila e residencial, no Morumbi. Ele parou em frente a uma residência modesta, mas elegante, um lugar que eu nunca tinha visto antes. Não era a casa de um cliente, nem nenhuma das propriedades de sua família. Era claramente uma moradia pessoal, isolada atrás de uma cerca viva alta.

Então eu a vi. Uma mulher, jovem e esbelta, vestida com um vibrante vestido vermelho, estava parada no portão. Seu cabelo, uma cascata de cachos escuros, emoldurava um rosto que parecia ao mesmo tempo ansioso e impaciente. Ela estava esperando. Por ele.

Minha respiração falhou. Minhas mãos agarraram a maçaneta da porta do carro com tanta força que meus nós dos dedos ficaram brancos. Alexandre saiu do carro, um sorriso se espalhando por seu rosto, um sorriso que eu não via direcionado a mim há meses, talvez anos. Era um sorriso solto, sem peso, cheio de uma alegria fácil que revirou minhas entranhas. Ele estendeu a mão para ela, e ela se derreteu em seu abraço. Seus lábios se encontraram, um beijo longo e demorado que roubou o ar dos meus pulmões.

"Alexandre!", ela ronronou, sua voz atravessando a rua silenciosa, nítida e clara mesmo através da janela fechada do carro. "Você está atrasado, querido."

Ele riu, um som baixo e íntimo. "Tive que me certificar de que a Helena estava acomodada primeiro. Você sabe como ela é."

Meu nome, usado como um escudo, uma desculpa esfarrapada. Uma onda fria me percorreu, me deixando arrepiada apesar do calor do dia.

"Ah, coitada da Helena", disse ela, seu tom pingando de falsa simpatia. "Ainda tentando ter um bebê, não é? Tão trágico." Seus olhos, escuros e brilhantes, encontraram os de Alexandre. "Ainda bem que você me tem, então, não é? Sem esposas estéreis por aqui." Ela riu, um som agudo e tilintante que arranhou meus ouvidos.

Alexandre a puxou para mais perto, seu olhar percorrendo-a. "Você sabe que é tudo que eu preciso, Carla." Carla. O nome parecia uma faca se torcendo em uma ferida aberta. "Só tome cuidado, querida. Não faça uma cena. Temos que ser discretos."

"Discretos? Que graça tem isso?", ela provocou, pressionando o corpo contra o dele. "Além do mais, o que ela vai fazer? Ela está muito ocupada se afogando no seu pó de pirlimpimpim orgânico pra ter bebê." Então, com uma audácia que me tirou o fôlego, ela se inclinou e o beijou novamente, um beijo mais profundo e possessivo desta vez. Os braços de Alexandre se apertaram ao redor dela.

Meu estômago se revirou. Uma onda de náusea, aguda e amarga, subiu pela minha garganta. Minha cabeça girou, o mundo se inclinando perigosamente. Agarrei o assento, tentando me firmar. O motorista do Uber olhou para trás, a preocupação gravada em seu rosto. "Senhora, está tudo bem?"

"Sim", eu engasguei, a palavra com gosto de cinzas. "Só... me leve para casa. Rápido."

Saí cambaleando do carro, o ar poluído de São Paulo não fazendo nada para limpar a névoa da traição. A cobertura, que antes era meu santuário, agora parecia uma gaiola de ouro. Já era tarde, as luzes da cidade pintando faixas no chão. Minha governanta, Dona Joana, uma mulher gentil que estava com a família de Alexandre há décadas, me encontrou na porta.

"Dona Helena, graças a Deus que a senhora voltou", ela murmurou, a testa franzida. "O Sr. Alexandre ligou. Ele disse que a senhora não estava se sentindo bem. Eu preparei seu chá especial." Ela estendeu uma caneca fumegante, o aroma familiar de ervas flutuando no ar. "Ele disse que é para a sua fertilidade, para ajudar a senhora a engravidar."

As palavras me atingiram como um golpe físico. Fertilidade. Engravidar. Meu olhar se fixou na caneca, o vapor inocente subindo em espirais, uma zombaria cruel. Um nó frio e duro se formou no meu estômago, mais apertado do que qualquer dor física. Minhas mãos tremiam, um tremor que começou no fundo dos meus ossos.

Anos. Anos tentando, de esperança se transformando em cinzas. Eu engoli cada gota amarga daquele "chá", sufocando o gosto terroso, imaginando-o nutrindo a vida dentro de mim. Eu suportei inúmeras visitas ao médico, os exames invasivos, os olhares de pena das enfermeiras. Alexandre sempre esteve lá, segurando minha mão, sussurrando palavras de encorajamento. "Nós vamos superar isso, Helena. Nosso bebê está chegando." Seus olhos, tão cheios do que eu pensava ser amor e anseio compartilhado.

Eu acreditei nele. Eu, Helena Matos, que testemunhei a devastação da minha própria mãe pela infidelidade do meu pai, jurei nunca ser aquela mulher. Eu busquei estabilidade, lealdade, uma parceria construída na confiança. Alexandre, com seu charme impecável, seu poderoso nome de família, sua devoção aparentemente ilimitada, tinha sido essa rocha. Ele tinha sido meu porto seguro. Ele tinha sido tudo que meu pai não foi.

Eu me culpei por não termos filhos. A culpa me corroeu, convencida de que eu estava de alguma forma falhando com ele, falhando com nosso futuro. Eu até comecei a explorar opções mais drásticas, fertilização in vitro, barriga de aluguel, qualquer coisa para dar a ele a família que eu sabia que ele desejava, o herdeiro que sua família esperava. Eu estava tão desesperada, tão cega.

Agora, a verdade, feia e crua, brilhava diante dos meus olhos. Chá de fertilidade. As palavras ecoavam com uma ironia doentia.

A voz de Alexandre cortou o silêncio, calorosa e solícita. "Helena, querida, você está em casa. Como está se sentindo?" Ele entrou na sala de estar, a gravata afrouxada, um leve cheiro de um perfume desconhecido pairando sobre ele. Ele parecia desarman-temente preocupado, seus olhos examinando meu rosto com uma ternura ensaiada. "Você parece pálida. Aqui, Dona Joana, o chá. Minha esposa precisa do seu remédio."

Ele se moveu em minha direção, pegando a caneca. Meu estômago deu um salto. O cheiro, antes um símbolo de esperança, agora fedia a engano. Eu vi então, uma leve mancha de vermelho vivo no colarinho de sua camisa branca impecável. Batom. O batom de Carla. A cor de seu vestido audacioso.

Minha garganta se apertou, minha voz um sussurro estrangulado. "Eu... eu não estou me sentindo bem, Alexandre. Acho que não consigo beber agora."

Ele parou, um brilho de algo indecifrável em seus olhos antes que se suavizasse. "Besteira, meu bem. Isso vai te fazer sentir melhor. Você precisa de força se vamos fazer um bebê, não é?" Ele pegou a caneca de Dona Joana, seu olhar demorando no meu rosto. "Sabe, eu fiquei tão preocupado quando fui àquela... reunião com o cliente mais cedo. Você parecia tão chateada." Ele fez uma pausa, seus olhos se estreitando ligeiramente. "Você saiu, querida? Pensei que estivesse descansando."

Meu coração martelava. Ele estava sondando, me testando. "Só uma coisinha rápida", eu disse, minha voz mal se mantendo firme. "Um assunto da galeria. Mas voltei logo. O trânsito estava horrível perto... daquele novo empreendimento na Zona Oeste." Era a área perto da casa de Carla.

Sua mandíbula se contraiu, uma mudança sutil que quase perdi. "Ah, sim, aquela área. Trânsito péssimo. Bem, venha, meu amor." Ele se aproximou, forçando a caneca na minha mão. "Beba. Pelo nosso futuro. Pelo nosso filho." Ele ergueu a caneca aos meus lábios, seu polegar roçando meu queixo. Parecia uma violação.

Afastei sua mão, o líquido balançando um pouco. "Alexandre, o que exatamente tem nisso? Quer dizer, depois de todos esses anos, não está funcionando. Talvez seja hora de reconsiderarmos." Minha voz era cuidadosamente neutra, uma caminhada na corda bamba sobre um abismo.

Ele franziu a testa, sua expressão escurecendo. "Helena, não seja ridícula. Esta é a melhor e mais natural solução. Só leva tempo. Paciência, meu amor. Paciência." Seu tom era firme, não admitindo discussão. Ele agarrou minha mão, trazendo a caneca de volta à minha boca. "Abra."

O gosto amargo encheu minha boca. Engoli, o líquido queimando um caminho pela minha garganta. Meus olhos se encheram de lágrimas, embaçando as bordas da sala. Não era apenas o gosto; era o peso esmagador de sua traição. Ele me observou, um pequeno sorriso triunfante brincando em seus lábios. Ele tirou um pequeno amuleto de madeira entalhada do bolso, um símbolo de fertilidade. "Vamos colocar isso debaixo do seu travesseiro esta noite. E então, meu amor, faremos nosso bebê." Ele se inclinou, seus lábios roçando minha orelha. "Vamos subir, querida. Já faz muito tempo."

Um pavor frio se enrolou na minha barriga. Meu corpo parecia estranho, poluído por seu toque, por suas mentiras. Como pude ser tão tola? Tão completamente cega? Meu olhar se desviou para a mesa de centro onde o celular de Alexandre estava virado para cima. A tela se acendeu. Uma notificação de mensagem. Carla Gomes.

"Alexandre, precisamos conversar." As palavras saíram antes que eu pudesse detê-las, um apelo desesperado por verdade, por qualquer coisa que não fosse a farsa sufocante.

            
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