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Do outro lado da cidade, na Colina Rolin:
Amelie estava juntando seus pertences. Não eram muitos: algumas roupas, poucos pares de sapatos, alguns itens de higiene e uma manta azul celeste muito desbotada pelos anos de uso. Sua vida toda cabia em uma mala média. Entrou n'aquela casa sete anos atrás com a mesma mala e iria sair com ela novamente.
Isso não a deprimia. Ela finalmente estava pronta pra começar sua vida.
Olhou em volta mais uma última vez. Não esqueceu nada. O quarto estava em perfeita ordem, do mesmo jeito que estava a sete anos atrás.
Sua felicidade quase não se continha dentro de seu peito.
Ela pegou a mala e saiu do quarto. Observou tentando absorver cada detalhe da casa: cada quadro, cada tapete, cada móvel, cada lâmpada, cada cortina, todos os detalhes possíveis. Nunca iria se esquecer dos últimos sete anos. Se pudesse escolher apenas uma palavra para descrever, seria "paz". Ela teve paz aqui pela primeira vez na vida. Ela também pensou em sua evolução: anos atrás entrou nessa casa como uma garota franzina e maltratada, e saia como uma mulher forte e mentalmente equilibrada. E todas essas mudanças se deviam ao fato do marido ausente não ter estado por perto para atrapalhar seu desempenho. Se não fosse sua ausência não teria conseguido realizar seu sonho: conquistar sua independência.
No térreo encontrou os empregados da casa a sua espera: Sebastian, o velho mordomo; Rose, Mary Lu e Cristina, as empregadas; e Oliver, o motorista. Nesses últimos sete anos criou um vínculo com eles mais forte do que o vínculo que tinha com a família biológica.
Ela sorriu para cada um deles. Não estava certa do que dizer.
- A senhora está certa da sua decisão? - quem quebrou o silêncio foi o velho Sebastian.
Ela não precisou pensar para responder:
- Sim! Nunca estive tão certa.
Ele a avaliou por um momento.
- Nesse caso, foi uma honra trabalhar para a senhora pelos últimos sete anos.
Ela sorriu e deixou de lado os modos: o abraçou fortemente.
- Obrigada por tudo, Sebastian.
Ela olhou em volta e conteve as lágrimas.
- Obrigada a todos vocês. Eu não tenho palavras para agradecer por terem cuidado de mim nos últimos anos. Mas agora eu tenho que seguir em frente.
Por alguns instantes eles trocaram palavras de despedidas. Quando o táxi chegou Oliver a ajudou levar a mala para o carro. Ela disse adeus mais uma vez e partiu. Conforme o percurso observou a mansão ficar para trás. Conforme descia a colina um sentimento crescia em seu peito. Ela não sabia o que era, mas era algo como excitação para o novo. Ela não via a hora de começar a viver.